Ouvido musical absoluto e relativo

in #pt7 years ago (edited)

A partir de uma ideia de postagem, por meio de um comentário da nossa amiga @leticiachiantia, em https://steemit.com/music/@guifaquetti/minha-forma-preferida-de-ouvir-musica-hoje#comments, escrevo hoje um post sobre como funciona o ouvido musical absoluto e o relativo!

O ouvido absoluto é a capacidade de se distingir ou criar uma nota musical isoladamente, e de vizualizá-la cognitivamente como um ente isolado, principalmente em termos de altura. Já ouvido relativo é a capacidade de se distinguir ou criar uma nota musical através de referências.

Por exemplo, imaginemos que sejam apresentadas as seguintes frequências sonoras: 392; 392 440; 392; 523; e 494Hz para vários indivíduos. Um leigo (sem memória musical) diria que ouviu um conjunto de sons; uma pessoa comum, habituada a ouvir música informalmente, identificaria a sequência da melodia de “Parabéns para você”; um estudante de música poderia citar a relação intervalar, ou seja, uníssono, 2ª maior ascendente; 2ª maior descendente; 4ª justa ascendente; 2ª menor descendente, e a pessoa com audição absoluta diria que a sucessão de sons tocados foi exatamente sol, sol, la, sol, do, si.

A questão do ouvido absoluto ser uma característica hereditária ou uma habilidade adquirida através de treinamento sistemático, ainda não foi resolvida. Pessoalmente acredito nas duas possibilidades, e que por meio da capacidade de decorar os sons das notas musicais pode ser adquirido o ouvido absoluto.

Quem possui uma audição absoluta adquirida de forma hereditária, por ter uma memória sonora de frequências exatas e fixas, pode não conseguir identificar uma sequência melódica, se a relação entre as frequências e as notas musicais forem alteradas.

A audição relativa, por necessitar de referenciais, consegue, a partir de uma elaboração intelectual, absorver o sentido de uma peça musical, enquanto a audição absoluta possui uma memória fixa, codificada e armazenada.

O ideal da percepção auditiva no músico, seria que o mesmo soubesse equilibrar ambas habilidades, ou seja, o ouvinte absoluto explorar toda a sua capacidade, auxiliado pelo complemento referencial da audição relativa, bem como o possuidor da audição relativa utilizar referenciais absolutos já armazenados em sua memória auditiva em função da prática musical. Damian (2006)

Podemos desenvolver o ouvido relativo, por meio de relações matemáticas, de associação, e sinestésicas, ou seja, a capacidade da estimulação de um sentido despertar a sensação de outro. Como por exemplo, a relação entre Do e Mib, em que 3a menor seria a relação matemática, a distancia de 1 tom e meio; a música Greensleeves a relação de associação a uma música que tem a 3a menor seu primeiro intervalo, e o sentimento de tristeza associado ao intervalo musical. E ainda podemos associar todas estas informações a uma interpretação em especial, como por exemplo nesta de Coleman Hawkins, preste atenção nas duas primeiras notas do saxofone.

Independente das notas serem Do e Mib, ou La e Do como é o caso, podemos fazer todas as associações descritas em relação ao intervalo de uma terça menor.

Existem ainda músicos que possuíam uma profunda relação sinestésica entre sons e cores, como é o caso do compositor francês Olivier Messiaen (1908--1992), que para além do ouvido absoluto, possuía a sinestesia como uma condição neurológica e as externava em suas obras. Em "Vingt Regards sur L’Enfant Jésus" para piano, Messiaen definiu cores para cada umas das partes, como por exemplo azul-violeta para a parte V.

Referencias Bibliograficas

BRAGANÇA, G. F. F. Parâmetros para o estudo da sinestesia na música. Per Musi, Belo Horizonte, n.21, 2010, p.80-89.

DAMIAN, Claudia Mara. Ouvido Absoluto e Ouvido Relativo: Vantagens e desvantagens na Educação Musical. Nupeart, Florianopolis, v.4 n.4. UDESC, 2006, pg 103 -114

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ouvido_musical

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Muito bom o post, sou um estudante intermitente de música e nunca tinha buscado me aprofundar mais nessa área, agora tenho uma base para entender mais essa parte do estudo musical!! Grato por compartilhar!!!

Obrigado por ler e comentar Paulo, fico muito feliz que este post te estimule a se aprofundar!

De nada, já baixei até alguns aplicativos e dei um jeito nos instrumentos que tenho aqui em casa para poder treinar, grato pela resposta!!

Excelente post, muito boa a explicação. Vou ver com calma os dois vídeos depois! Tenho muita dificuldade para identificar os sons . Estou penando nas aulas de teclado. Ah, obrigada pela menção ;)

Que bom que gostou Leticia, fico muito feliz ! :) O legal do teclado para o estudo da teoria e percepção musical é o fato de ser um instrumento bastante visual, e facilita a assimilação auditiva. Quanto ao estudo instrumental... well... por não ser o meu instrumento não sei o que dizer, mas no geral o estudo instrumental exige estudo diário e constante, para o iniciante de 15 a 30 minutos por dia, além de paciência, perseverança, e resiliência. Curta o percurso, é mais legal que chegar lá!

Sim, preciso ser mais disciplina com certeza! =D

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