Disco Danças de Câncer (Suite pour orchestre symphonique) de Vasco Martins (1956*)

in #pt6 years ago (edited)

O arquipélago de Cabo Verde, composto por 10 ilhas, situasse no trópico de Câncer na costa acidental africana. É um país composto por uma grande miscigenação em que a música, assim como a brasileira, reflete o encontro entre as culturas europeias e africanas.

Composto entre 1989 e 1991, “Danças de Câncer” remete ao ambiente deste arquipélago, a paisagem grandiosa e desértica imersa no oceano, a alegria que explode nos feriados de São João, e a melancolia da morna, principal gênero musical e símbolo de união cultural entre todas as ilhas.

Vasco Martins é filho de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa, vivê na Ilha de São Vicente, conhecida como grande potência de produção artística. Sinfonista (9 sinfonias, concertos, ‘tone poems’ ), pianista, guitarrista, romancista; sound designer, musicólogo, ensaísta, poeta, produtor musical, e ‘electronic fine performer’, Vasco tem mais de 25 albuns gravados. Sua obra sinfônica já foi tocada no Canadá, Portugal, Colômbia, Austrália, EUA, França e outros países.

A gravação completa de "Danças de Cancer" pode ser ouvido no Spotify e nesta Playlist do Youtube
268x0w.jpg

A disco começa com a obra “Abertura”, um preludio, de início lento que anuncia o que está por vir por meio da crescente massa sonora orquestral, seguida por uma dança com seu desfecho colado em “Raízes Ancestrais” próxima obra com forte carácter de dança.

“Bli(a)munde” é uma canção triste e melancólica, há um conto tradicional de Cabo Verde com o nome Blimundo, que conta a história de um boi, que é traído por aquele que lhe conquista por meio da música e de falsas promessas em nome do rei. O conto pode ser lido na integra aqui

“Pulsações” é uma obra de pulso forte e marcado, é uma música que poderia ser facilmente confundida com nosso baião, se não houvesse a diferença da acentuação rítmica. “Horizonte Ondulante” é uma obra descritiva, que nos remete a visão das ondulações ao visualizar um horizonte desértico, obra esta que conta com um belíssimo solo de clarinete ao final. “Ritual” tem um forte carácter rítmico intercalado com melodias longas em certos momentos, com o clarinete assumindo um ostinato ao decorrer da péça.

“Canto das Ilhas” inicia-se com um lindo solo para violoncelo, ao decorrer da música a flauta entra em cena marcando o ritmo da Morna de Cabo Verde que precede seu solo, é uma melodia inspirada com um belo crescendo orquestral. “Navegando” se destaca pela inventividade de sua orquestração, seu início nos remete a música de Charles Mingus, pela presença dos metais realizando uma melodia que é quase um walking-bass. É uma obra com belos contrastes de melodia, orquestração e carácter emocional, que nos conta uma história de navegação entre as ilhas do arquipélago.

“Dunas” de caráter dançante inicia-se com um marcante solo de trompa, no qual a melodia é repetida com diferentes orquestrações. “Mar Sereno” é uma obra introspectiva e meditativa. Em “Ritmo de Junho” temos na música uma referência as festividades de São João, que é sempre comemorado com muita alegria, esta festividade está ligada diretamente aos rituais de fertilidade da terra e ao solstício de verão.

“Terra Vulcânica” faz referência a natureza geológica das ilhas. Com início calmo a música se desenrola com um crescendo orquestral que culmina em um breve solo de flauta, o que seria o despertar de um vulcão. Após este momento, temos uma crescente agitação como nas mais violentas erupções. “Noites Magicas” é uma obra inspirada na música “Noite di Mindelo”, de Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido como B. Leza. Um dos grandes compositores da música de Cabo Verde, B. Leza era frequentemente procurado pelas pessoas, que lhe pediam canções para a pessoa amada, ou para assinalar um acontecimento. Em questão de dias os pedidos eram realizados. Eu mesmo tenho um amigo cabo-verdiano no Brasil, que conta histórias da música de B. Leza, relacionada com a história de suas família. Uma emocionante função que a música cumpre.

“Final” como diz o próprio nome, é o fim deste disco-obra, que nos remete aos temas da “Abertura” num clima de despedida.

Um até breve!
Guilherme Faquetti
29 de janeiro de 2018.

Referencias Bibliográficas

https://www.youtube.com/playlist?list=PLYr7qBzK3ynBezSkQ-M3XKsBQn_bvmQ3A
https://itunes.apple.com/ru/album/dan%C3%A7as-de-c%C3%A2ncer-suite-pour-orchestre-symphonique/507070834
https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/uploads/2012/08/leituraparatodos/e5_26-ocontodeblimundo.pdf

Sort:  

Bela pesquisa, Guilherme!!

Claudia que prazer te ver por aqui! Muito obrigada :) !

Olá, @guifaquetti
Este perfil percura posts de calidade relacionados co concepto da galeguia e a equipa de curación decidiu destacar este teu post na publicación O Garimpo da Gazeta. Xaneiro 30 >> 3 Faiscas
Obrigadas pola túa contribución.
Votado e re-steemed

@guifaquetti, Parabéns! O teu post foi votado e resteem pelo Projeto Camões!

camoes sign.gif

PROJETO CAMÕES - LÍNGUA PORTUGUESA NO STEEMIT!

Coin Marketplace

STEEM 0.20
TRX 0.14
JST 0.030
BTC 68168.17
ETH 3256.43
USDT 1.00
SBD 2.67