Intervenção Militar?

Domingo pela manhã, peguei o carro para ir a uma cidade a cerca de 40 km da minha para fazer um concurso público. Por sorte, ainda havia gasolina uma vez que utilizamos muito pouco aqui em casa, pois moramos numa região central. Não sabia como estaria a situação dos bloqueios e das manifestações na estrada, mas estava curioso em ver qual era o quadro.

Era uma manhã nublada e relativamente fria, bastante agradável para seguir por aquelas estradas em direção a Canoinhas, um asfalto muito bom e com uma paisagem inspiradora, cheia de araucárias e plantações de álamos agora desfolhados, compondo uma paisagem bem outonal. Logo na saída da cidade, deparo-me com um cartaz bem grande em apoio ao candidato Jair Bolsonaro. Saindo da cidade, passo por um bloqueio em que muitas pessoas estão sentadas tomando chimarrão, conversando ao lado de bandeiras do Brasil e cartazes pedindo a intervenção militar. Mais um pouco adiante, vejo pelo asfalto mais cartazes com o mesmo pedido intervencionista.

Já fora da cidade, vejo vários cartazes espalhados em pontos estratégicos com o mesmo pedido: "Intervenção Militar já!". Na metade do caminho até a pequena cidade para qual me dirijo, outro bloqueio. Lá, também, várias pessoas conversando, tomando o seu mate e mais cartazes pedindo a intervenção. Ao longo do caminho até a cidade, vejo ainda outros mais.

Nunca vi esse pedido sendo tão ressaltado. Na época do impeachment, esse pedido também era forte em certa parcela da população, mas agora parecia mais forte do que nunca. Há alguns dias em minha cidade, os caminhoneiros e outros manifestantes, com tratores, foram até a frente do batalhão para cantar o hino nacional e pedir a mesma intervenção. Os ânimos estavam agitados e havia uma atmosfera de confusão e revolução no ar. Era como se as pessoas estivessem evocando uma realidade a partir dos seus desejos e das redes de comunicação pela internet. Eram várias notícias falsas e alarmistas sobre gente do exército se propondo a invadir Brasília, eram rumores sobre uma revolução e eram ameaças de continuar a manifestação até as últimas consequências. Devo admitir que ficava muito empolgado com a possibilidade de acontecer algo grande, mais por curiosidade.

No fundo, eu me perguntava sobre os motivos desses pedidos e dessas esperanças. A meu ver, esse era um pedido de ajuda, um grito de socorro que vinha num momento em que haviam exaurido todas as esperanças dessa porção da população. Mais ainda, um grito ao pai que, em situação de bagunça e desordem, era capaz de aplicar a disciplina para botar ordem na casa. O imaginário popular, principalmente dos mais velhos, descrevia uma situação política insustentável onde sujeitos de mau caráter haviam tomado o controle da sociedade e apenas alguma medida suprema e heroica poderia colocar o país num rumo correto e ordenado novamente. Pedia-se ordem, organização e justiça.

Um senso de nostalgia por parte dos mais velhos falava de uma época onde havia regras e as coisas eram claras, em que não havia escândalos de corrupção e a população gozava de segurança em seu cotidiano. Essa sensação atinge camadas mais humildes e pessoas com valores mais tradicionais, estas que configuram boa parte da população brasileira. Claro que a parcela que apoia essas medidas varia de região para região. Não estou ciente de como é em outras, mas, na minha região, parte rural entre Santa Catarina e Paraná, essa visão era muito popular.

Sem querer julgar como certo ou errado tal apelo, o que me deixa pensativo é o argumento quase mítico por trás dele. A desordem e o caos pedem ordem e lei; a população manifesta uma tendência ao equilíbrio desses atributos. O pedido por intervenção e a projeção de Bolsonaro como uma espécie de herói da ordem e dos valores tradicionais – que a meu ver é mais algo projetado do que realmente adequado à realidade – encantavam a direita. Por parte da esquerda, alguns grupos também seguiam uma direção semelhante ao se voltar para Ciro Gomes. Definindo-se como centro-esquerda, Ciro também apresenta um discurso mais viril, direto e tem fama de coroné. Através de outras medidas econômicas e de outro direcionamento político, ele também oferecia a promessa de colocar as coisas nos trilhos. Depois de muito tempo, parecia que o Brasil estaria decidindo entre personalidades mais fortes, com discurso mais nacionalista, pessoas prontas para a peleia.

O futuro disso é muito incerto. Podemos ter uma revolução em breve ou tudo pode se acalmar. Dificilmente o exército tomará alguma atitude. Porém, as tendências populares estão na mesa para oferecer um panorama do pensamento atual. Sem dúvidas, há um pedido por ordem, uma ânsia por colocar as coisas no seu lugar de uma vez por todas. O destino dessa vontade pode ser diferente em cada um, mas eu diria que a maior parte da população espera algo nesse sentido. Um basta à ordem anterior e o estabelecimento de um novo momento, o que acaba sendo refletido no pedido pelo pai autoritário ou pelo homem de decisão firme que será capaz de responder aos pedidos populares por um novo equilíbrio em direção à ordem (seja econômica ou de outra natureza) e à estabilidade.

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