Parker Solar Probe já está a caminho do Sol

in #pt6 years ago (edited)



Depois de uma tentativa frustrada no sábado, na madrugada de domingo, 12 de agosto, a sonda Parker foi lançada rumo ao Sol.

A ideia é aproximar-se do Sol, a cerca de 6 milhões de quilômetros, para estudá-lo mais de perto com os quatro instrumentos específicos de bordo.

Antes que você diga "Perto? Seis milhões de quilômetros?" lembro que a Terra orbita o Sol a uma distância média de 150 milhões de quilômetros. Logo, 6 milhões de quilômetros já é bem perto sim! Nenhuma outra sonda passou antes tão perto do Sol e sobreviveu para contar o que viu/mediu. A Parker foi desenhada para cumprir com rigor tal façanha.

A Parker será colocada numa órbita bem elíptica, ou seja, bem oval. Assim ficará suficientemente afastada do Sol e seus perigos na maior parte do tempo. Mas poderá fazer 24 mergulhos de aproximação para tomar medidas importantes para a nossa melhor compreensão dos mistérios ainda mal compreendidos da nossa estrela.

Vale lembrar que o Sol, em sua superfície, tem cerca de 5500 oC, o que já é uma temperatura digna de um razoável inferno. Mas a coroa solar, exatamente aquele envoltório luminoso que vemos durante um eclipse solar total quando a Lua tapa por completo disco solar, chega a milhões de graus, este sim o retrato do verdadeiro inferno! O mecanismo de aquecimento exponencial da coroa solar ainda é desconhecido pela Ciência. Tentar entender como a coroa solar fica tão quente é uma das metas da Parker Probe. Mas também um grande desafio estrutural. Ao chegar mais perto do Sol, a Parker vai ter que atravessar a coroa solar superaquecida e se aproximar da superfície estelar ainda bastante quente. Isso só será possível porque a Parker possui um escudo térmico que ficará sempre voltado para o Sol, protegendo-a. O escudo, estima-se, poderá chegar a 1400 oC enquanto a nave, por trás dele, termicamente isolada, atingirá meros 29 oC.

A Parker vai medir com precisão parâmetros físicos do vento solar, um "sopro" de partículas eletricamente carregadas que se afastam do Sol. Parte deste vento de partículas costuma tocar a Terra. Um efeito bastante conhecido da colisão das partículas do vento solar com a atmosfera terrestre são as auroras¹ circumpolares. Auroras, nas latitudes mais altas, são lindas e inofensivas. Mas o vento solar, se mais intenso, pode em tese provocar interferências eletromagnéticas que afetariam de maneira drástica as telecomunicações por ondas eletromagnéticas. E podem ainda danificar de forma severa redes e equipamentos elétricos em nosso planeta. Já imaginou a encrenca? Auroras intensas, num caso assim, perderiam toda a beleza e seriam o prenúncio de problemas complicados para nós no mundo moderno.

Sabemos que o Sol tem um ciclo regular de atividades de 11 anos. Assim, a cada 11 anos, a nossa estrela passa por um pico de atividades com significativo aumento de explosões solares que afetam o vento solar². Entender o mecanismo de atividades solares e sua relação direta com o vento solar significa no futuro poder prever possíveis maiores problemas aqui na Terra, o que em determinado momento poderá ser decisivo para a segurança da humanidade³.

A Parker Solar Probe é um projeto da NASA que já dura oito anos. Ela vai estudar o Sol pelos próximos sete anos. O custo total foi US$ 1,5 bilhão.

Vamos aguardar o primeiro mergulho da Parker no Sol previsto para daqui três meses. Anote aí: significativas descobertas serão feitas nos 24 mergulhos da sonda ao centro do Sistema Solar! E tenha em mente que, de certa forma, entender melhor o Sol, a estrela mais próxima da Terra, significa por tabela entender como outras estrelas funcionam ao fundirem átomos "mais leves" em átomos "mais pesados" gerando uma enorme quantidade de energia radiante, visível e invisível, capaz de iluminar todo um sistema planetário.




Abraço do prof. Dulcidio. E Física na veia!




¹ Auroras boreais acontecem nas regiões circumpolares norte e autoras austrais nas regiões circumpolares sul. É mais comum nos referirmos às auroras boreais porque perto do pólo sul terrestre temos habitantes, ou seja, observadores das auroras. Em torno do pólo sul temos mais pinguins do que pessoas e estes não costumam relatar suas experiências com as auroras austrais.

² Neste momento estamos no meio deste ciclo de 11 anos, ou seja, num período de baixa atividade solar.

³ Existe a suspeita de que uma explosão solar mais intensa, embora rara, se acontecer, poderá provocar severos danos em nossos equipamentos eletrônicos aqui na Terra. Imagine o caos se tivermos uma queima generalizada de computadores em todo o planeta. Pode ser o caos. E o começo do fim do mundo, pelo menos entendendo o mundo como a vida humana na Terra. Embora isso mais pareça cenário de filme de ficção científica, se há uma chance de acontecer, ainda que remota, é assunto de interesse científico.

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Nossa um escudo que aguenta 1400°, tive uma ideia maluca mas daria pra começar a mandar sondas para o interior da terra através de vulcões ativos, certo? vi em algum lugar que o magma tem a temperatura de 1000°, quem sabe estudar o centro da terra!

Não é só uma questão de temperatura @lyonms. Há o problema da pressão também.
Dá para estudar o interior da Terra através de ondas. É o que se faz, sem precisar viajar para dentro da Terra em condições totalmente adversas de temperatura e pressão.
É análogo a estudar o corpo humano sem precisar cortá-lo, usando diagnósticos por imagens obtidas pelos diversos tipos de ondas.
Abraço. E Física na veia!

Humanidade está sempre aprendendo ao descobrir coisas novas e para isso é fundamental estas pesquisas. Isso pode nos ajudar a algum dia quem sabe ser capazes de prever quando ocorrerão tempestades solares, o que pode ser útil no futuro.

Ptgram

Já que o Sol é uma "fera indomável", pelo menos temos que conhecer o seu comportamento e tentar prever o que ele pode aprontar. :)
Abraço. E Física na veia!

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