O Pescador e a Tartaruga

Encantados, no mesmo instante os meninos se esquecem de maltratar a pequenina, para saborear as doces frutas, sentados na areia.

O pescador então liberta a frágil tartaruga ao mar. Ela mergulha logo depois de (assim lhe pareceu), lançar-lhe um olhar de agradecimento.

Alguns anos depois, o rapaz era agora o mais habilidoso pescador daquela aldeia longínqua.

Certo dia em alto mar, uma tempestade brutal faz seu barco afundar, deixando-o à mercê de ondas enormes, uma ventania colossal, raios e correntes implacáveis...

Seu destino era morrer afogado, mas para sua sorte, desta vez ele é quem é salvo por aquela mesma tartaruga, já adulta.

Pouco antes de ser totalmente engolido pelo oceano, consegue subir no enorme casco do animal, que agora se tornara uma tartaruga gigante e forte. E ela mergulha e o leva para o reino do fundo do mar.

Naquele mundo mágico submarino, ele conhece uma lindíssima, carinhosa, inteligente e simpática princesa.

Os dois logo se apaixonam, casam-se, e passam a viver sempre juntos, desfrutando de saúde, riqueza, e intensa alegria e felicidade.

Naquelas profundezas tudo é maravilhoso, e habitam confortavelmente um enorme palácio de coral transparente, extraordinariamente belo.

Tudo é tão perfeito que ele começa a perder a noção do tempo. Por vezes lhe parece estar vivendo neste reino há décadas, e em outros momentos tem a impressão de ter chegado há apenas poucos dias.

Continuamente são organizadas festas. Orquestras tocam sem cessar uma música divina, doces melodias e harmonias ecoam pelos salões.

Bebe-se o mais puro vinho, saboroso como mel. Banquetes com as mais apetitosas iguarias são servidos...

Elaborados espetáculos são apresentados um após o outro, gerando as mais diversas e deliciosas sensações aos sentidos, e todos os seres encantadores do fundo do mar estão sempre presentes, dançando, cantando e celebrando...

O pescador sente-se em êxtase, eufórico. É invadido por uma suprema paz e felicidade que nunca tem fim. Por isto ele se esquece totalmente de sua antiga vida. Cada minuto parece ser a eternidade...

No entanto chega um dia no qual ele começa a sentir muitas saudades da sua aldeia e resolve voltar pra rever sua terra.

A princesa fica muito triste e tenta convence-lo a ficar. Mas ele insiste. Então ela se conforma, e lhe dá de presente, uma caixinha. Antes da despedida ela explica que ele não deverá jamais abrir aquela caixa.

A mesma tartaruga companheira lhe conduz na jornada de volta. Montado no amplo casco, cavalgando as ondas, ele vai confiante, sentindo o vento fustigar seu rosto.

No entanto, para sua surpresa, sua terra não é mais a mesma. Tudo está completamente mudado.

Os costumes são outros, as pessoas usam roupas diferentes das suas e todos que ele conhecia não vivem mais ali há muito tempo. Não encontra mais a sua antiga casa, nem seus parentes.

Agora ele já não reconhece mais nada da sua vida de outrora, e vai ficando mais e mais desesperado.

Havia abandonado para sempre seu reino de felicidade do fundo do mar e ao mesmo tempo já não encontra mais seu antigo lar na terra.

Perdido, sem saber o que fazer, é então que se lembra do presente da princesa e resolve abrir a caixa...

Da caixa só sai uma fumaça. Esta fumaça é o tempo, seu tempo de vida e ele fica velho em um instante. Seu rosto envelhece, surgem as rugas, seus cabelos ficam brancos, muito brancos... Sua barba cresce e se torna incrivelmente longa.

Hoje quem passa pela região, vê eventualmente um homem curvado, muito velho, vagando sem rumo pelas praias, procurando uma tartaruga...

(adaptado de uma antiga lenda japonesa) - imagem: OpenClipart