Tudo começou com o Bitcoin — Blockchain 1.0. Através do qual foi possível criar um instrumento de troca, sem controlo de uma autoridade central ou intermediários, construído numa rede que permitiu que transações acontecessem de maneira segura, verificável e imutável. As repercussões da invenção do Bitcoin foram muitas. De um lado ouviram-se críticas e preocupações em adoptar um ativo sem regulamentações que pode ser usado de maneira anónima, do outro ouviram-se elogios à tecnologia blockchain e ao seu potencial para revolucionar a economia mundial e até pedidos para a entrega do Prémio Nobel da Paz a Satoshi Nakamoto pela invenção do bitcoin.

Fico claro deste o início que esta tecnologia não iria ser consensual, e que seria preciso um verdadeiro teste ao tempo e à força da comunidade crypto para que houvesse uma chance de se criar o impacto pretendido na sociedade. Com o passar dos anos e enquanto mais e mais pessoas descobriam a rainha das criptomoedas e a tecnologia onde esta foi construída, outras começavam a identificar as limitações do protocolo Bitcoin, sem nunca perder de vista o potencial que a tecnologia em si tinha. Foi nessa procura em expandir o potencial da tecnologia dada a conhecer pelo Bitcoin que nasceu Ethereum — Blockchain 2.0.

Ethereum — Blockchain 2.0

Ethereum é uma plataforma blockchain criada em 2015, com o objetivo de se tornar no primeiro “World Computer” e trazer a descentralização e democratização que falta à internet. No site da organização eles explicam que Ethereum é a fundação para uma nova era da internet. Uma internet onde dinheiro e pagamentos estão integrados. Uma internet onde os utilizadores tem controlo total sobre a sua privacidade e onde aplicações não podem espiar our roubar dados. Uma internet onde o acesso a um sistema financeiro é para todos e não apenas para os que vivem em determinados países ou para os que representam uma determinada classe social. Uma internet construída para ser neutra, com acesso livre e sem ser controlada por nenhum país, corporação ou pessoa. Uma internet de futuro.

Ethereum funciona como uma blockchain programável, o que permite que uma grande variedade de aplicações possam ser construídas na rede. O termo 2.0 serve precisamente para distinguir a diferença em relação à rede Bitcoin. Enquanto que a blockchain onde o Bitcoin foi construído funciona como um meio de registo descentralizado para dinheiro e pagamentos, Ethereum — Blockchain 2.0 — permite o uso desta tecnologia de maneira mais ampla, na descentralização de mercados e indústrias, e na transação de outro tipo de ativos, como imobiliário, veículos, arte, entre outros. Isto é possível devido à utilização de protocolos de computador específicos (smart contracts), que permitem a criação, verificação e execução de um conjunto de regras e especificações pré-definidas.

Este potencial aliado com uma capacidade de escalabilidade superior fez reavivar o interesse na tecnologia blockchain e nas melhorias que esta pode trazer aos diferentes setores e indústrias.

Novas aplicações na blockchain

O lançamento da plataforma Ethereum deu início a uma nova era da tecnologia blockchain. Com Bitcoin criou-se dinheiro descentralizado, com Ethereum a promessa foi a descentralização de tudo aquilo que possa ser programado. Não demorou muito para que a comunidade Ethereum se tornasse numa das maiores e mais ativas do universo crypto. Esse crescimento trouxe um vasto leque de aplicações descentralizadas (dapps - decentralized applications) que tiram proveito da tecnologia blockchain e das funcionalidades dos smart contracts.

Comparativamente com as aplicações que usamos todos os dia como o Home Banking, WhatsApp ou Facebook, as aplicações descentralizadas funcionam de maneira autónoma, são mais confiáveis e não existe uma entidade única ou pessoa que as controle. O número de aplicações descentralizadas disponíveis já são muitas e com diversas finalidades. Alguns exemplos são:

• Carteiras digitais - para guardar e efetuar pagamentos com criptomoedas.
• Aplicações financeiras - para emprestar e investir em ativos digitais.
• Aplicações laborais - para a procura e oferta de trabalho.
• Redes sociais - a funcionarem de maneira descentralizada e garantindo a privacidade do utilizador.
• Jogos -onde é possível ser-se detentor de ativos e até fazer dinheiro real.

Estes são só alguns exemplos das mais de 90 aplicações descentralizadas disponíveis para uso na blockchain Ethereum.

Ether, o Bitcoin 2.0

Ether, ou ETH, é a criptomoeda gerada na blockchain Ethereum. É a segunda criptomoeda com mais valor de mercado, ficando só atrás do Bitcoin. Como o Bitcoin, o ETH também funciona como dinheiro digital, podendo ser transferido de maneira segura e para qualquer parte do mundo. As principais utilizações são a compra de produtos e serviços, e o pagamento de taxas de transação na rede Ethereum.

É na circulação — número de moedas disponíveis publicamente — que identificamos algumas diferenças importantes entre o Bitcoin e o Ether. Enquanto que o primeiro tem a circulação limitada a 21 milhões de moedas, o Ether não tem limite máximo. Ele funciona com uma taxa de inflação anual que atualmente está nos 4-5%, mas com tendência decrescente. Isto mantém a escassez da criptomoeda e possibilita a sua utilização como reserva de valor, mas funciona também como um importante mecanismo para manter a blockchain segura, como é explicado no site da organização. Em abril de 2020, existem cerca de 110 milhões de Ethers em circulação.

Considerações finais

As promessas da blockchain Ethereum mantém-se as mesmas que as do Bitcoin: a descentralização do poder, a emancipação do indivíduo, e a criação de uma sociedade mais segura e funcional para todos. Também nós podemos fazer parte da construção desta nova sociedade e decidir o futuro em que queremos viver. Tudo começa com o desejo de aprender. De questionar se a maneira como fazemos as coisas é a mais correta. De questionar se faz sentido viver em 2020 e continuarmos a ser governados por leis e políticas criadas no tempo da revolução industrial. De questionar se existem alternativas fiáveis e perceber o necessário para pô-las em prática.

Através da blockchain Ethereum, programadores de todas as partes do mundo estão neste momento a criar aplicações reais para responder a estas questões, sendo os próximos anos fundamentais para perceber o impacto que esta blockchain irá produzir.