Muitas histórias e teorias várias foram criadas à volta da verdadeira identidade do criador do Bitcoin. O pseudónimo escolhido, Satoshi Nakamoto, guarda em mistério a personalidade por detrás de uma das mais importantes invenções das últimas décadas.

Hoje, vamos analisar alguns dos factos recolhidos ao longo de mais de uma década e tentar perceber quem poderá estar por detrás desta personagem tão inspiradora.

O movimento Cypherpunk

As origens do movimento Cypherpunk datam dos anos 80, uma altura em que a criptografia era usada quase exclusivamente pelo exército e agências de serviços secretos. A maior parte das ideias e conceitos do movimento — quem tem como tese central o uso de criptografia e tecnologias de privacidade para efetivar mudanças sociais e políticas — são acreditadas ao criptógrafo David Chaum, também conhecido por ser o criado do DigiCash. Foi ele, que através do artigo “Security without Identification: Transaction Systems to Make Big Brother Obsolete”, escrito em 1985, mencionou e descreveu pela primeira vez os conceitos de dinheiro digital e sistemas de reputação.

Com o passar do tempo o movimento começou a crescer e as conversações sobre criptografia, ciências da computação e matemática ficaram mais sérias e começaram a abranger tópicos como filosofia e ciências políticas. Nesta altura, a maior parte das comunicações eram feitas através de uma lista de emails, o que acabaria por deixar de acontecer alguns anos mais tarde quando muitos dos seus intervenientes começaram a usar outras meios e plataformas. No entanto, é importante mencionar que nessa lista de contactos inicias constavam nomes que mais tarde acabariam por ser relacionados com a criação e desenvolvimento do Bitcoin, como Nick Szabo, Hal Finney, Adam Back, entre outros.

Satoshi desmascarado?

As principais pistas conhecidas sobre a identidade do criador do Bitcoin, são as informações partilhadas no seu perfil da Fundação P2P, que descrevem Satoshi Nakamoto como sendo um cidadão de origem japonesa, nascido a 5 de Abril de 1975.

Tendo em base essa informação e outros factos compilados, foi possível traçar um perfil inicial daquele que poderá ser o criador do Bitcoin:

• Cientista de computação
• Idade entre os 55-65 anos
• Ativista do movimento Cypherpunk
• A residir em São Francisco, na Califórnia, como é possível aferir pelas comunicações efectuadas nos fóruns Bitcointalk e
  Fundação P2P

Também é possível identificar outras características como o uso de palavras originárias do inglês britânico e o uso de parágrafos duplos, uma técnica antiga muito usada no ramo militar, entre académicos e entre aqueles habituados ao uso de máquinas de escrever. Todas estas características poderão ser pistas reais sobre a identidade de Satoshi Nakamoto, mas também é possível que tenham sido plantadas com o objetivo de confundir e tornar a sua identificação ainda mais difícil.

De todos os potenciais suspeitos, existem dois que devido ao seu conhecimento e talento, são apontados como sendo os mais prováveis. Estes são Hal Finney e Nick Szabo. O primeiro foi um criptógrafo de sucesso, programador do software de encriptação e autenticação PGP 2.0, e que esteve envolvido no desenvolvimento do Bitcoin praticamente desde o início. O segundo tem uma vasta experiência como cientista de computação e professor, e é conhecido pelo seu conhecimento vasto em privacidade, criptografia, mas também em economia e direito. Szabo negou múltiplas vezes as acusações que o aclamam como o criador do Bitcoin, e nem as investigações que concluíram que o seu estilo linguístico, escolha de palavras e escrita, tinham uma semelhança quase perfeita com o estilo de Satoshi Nakamoto, foram suficientes para desvendar o mistério.

“Eu não sou Dorian Nakamoto”

“I am not Dorian Nakamoto” — Esta mensagem, publicada a 7 de Março de 2014, foi a última reconhecida como sendo da autoria de Satoshi Nakamoto. Desde esse dia, o criador do Bitcoin desapareceu da face da terra.

Dorian Satoshi Nakamoto é um engenheiro com dupla nacionalidade japonesa e americana, que foi perseguido e acusado durante semanas a fio de ser o verdadeiro Satoshi Nakamoto. As coincidências não se ficavam pelo nome, pois Dorian Nakamoto também vivia a umas ruas de distância de Hal Finney, partilhava as mesma ideias libertárias, a desconfiança natural no governo, e tinha décadas de experiência a trabalhar em projetos nas áreas das finanças, tecnologia e informação.

Apesar de todas estas coincidências, nunca foi possível encontrar evidências que suportassem as acusações. O mais provável é que o criador ou criadores do Bitcoin, tenham-se inspirado na sua personagem e sugerido o seu nome como um tributo, mas que ao aperceberem-se das perseguições e assédios perpetuados por parte dos media, que tenham tido a necessidade de limpar o seu nome.

À medida que as coincidências à volta de Dorian se desvaneciam e que se tornava cada vez mais difícil encontrar o perfil ideal para Satoshi Nakamoto, a certeza de que a sua identidade nunca seria divulgada começou a ganhar forma.

Satoshi somos nós

Muitos anos se passaram e a realidade é que até ao dia de hoje ainda não foi possível descobrir a verdadeira identidade da pessoa ou do grupo de pessoas por detrás do pseudónimo Satoshi Nakamoto. Independentemente disso, os feitos atingidos pelo próprio Satoshi, pelo Bitcoin e pela tecnologia blockchain tornaram-se no fruto de anos e anos de trabalho e dedicação de uma comunidade verdadeiramente global que se juntou à volta de uma missão para criar um mundo mais justo.

Talvez faça mesmo sentido que a sua identidade permaneça desconhecida. Assim, o seu nome será para sempre um símbolo de inspiração e a força motriz para todos aqueles que se quiserem juntar e contribuir na promoção dos valores descentralizados, da colaboração e da transparência. Satoshi somos nós!