Mais um dia no Abrigo - Tem coisas que o tempo não apaga, é pra sempre

in #pt7 years ago

Ontem eu trabalhei 24h, o Funcionário que trabalha no período noturno teve um problema e não foi trabalhar, como não pode ficar com apenas um funcionário, eu fiquei também no período noturno.


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Durante o dia tudo calmo, não tem muitas crianças na casa, a partir das 17h as crianças vão chegando e 18h20 estão todas e casa. É a hora da janta, é a hora em que as crianças estão agitadas, afinal elas passaram o dia todo nas atividades e não brincaram, então é preciso brincar, gastar energia e dormir. É um horário em que se volta a ser criança, de brincar mesmo, colocar todas as crianças no quintal e correr, pular, dançar...

Adolescentes gostam de novelas, então eles ficam na sala em um completo silêncio.

A partir das 21h as crianças tomam banho, e um chocolate quente, para ir dormir. 22h todas as crianças estão em suas camas, os adolescentes esperam a novela acabar para dormir.

É interessante ouvir o silêncio da noite, não estou acostumado com tanta calmaria.

Durante o dia é mais fácil de esquecer o passado, é mais fácil de se distrair para não lembrar. Mas de noite, a solidão do travesseiro é torturante.


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Às 03h42 uma criança sai do seu quarto chorando, desce as escadas e vai para a sala, onde eu estava dormindo e minha companheira acordada, (sim, eu estava dormindo, afinal eu trabalhei durante todo o dia). Acordei rápido, fui acordado, e vi a criança chorando no sofá, ao lado da minha parceira de trabalho.

Fui chegando aos poucos, primeiro sentei no sofá, depois puxei uma conversa com a parceira, e a criança foi entrando aos poucos na conversa... Até chegar a pergunta principal: Porque você estava chorando?

A resposta da criança foi de abalar, desestruturar mesmo um adulto:

Eu sonhei com a minha mãe

Essa criança tem apenas 8 anos e está no abrigo há mais ou menos 2 anos, antes ela vivia com a sua família, em sua casa.

É preciso ser forte para se trabalhar em um abrigo, mas é preciso ser humano também, não sou de ferro, sou humano tenho minhas fraquezas também. A minha única reação foi abraçar essa criança e chorar junto com ela. Não sei se fiz certo, não sei se fiz errado, eu fiz o que me deu vontade.

Às 04h40 nos três estávamos na cozinha tomando um leite quente. A criança voltou para a cama, para dormir mais uma hora.

Eu e a minha parceira ficamos conversando sobre as dificuldades da vida. O quanto que é difícil para todas as crianças colocar a cabeça no travesseiro e não pensar no passado, não pensar na família que teve que deixar contra a sua vontade, ter que esquecer a mãe. Eu não sou mais forte do que nenhuma dessas crianças, o que elas passam, o que elas suportam, eu não aguentaria nem metade. Mãe é para sempre!

Às 05h40 começamos a acordar as adolescentes, que precisam de mais tempo para se arrumar, são vaidosas e logo em seguida acordamos as crianças. Essa criança não conseguiu pegar no sono novamente, ela continuava chorando, mas como aqui todos tem que ser, ou parecer, fortes a criança ao ver as outras crianças acordadas logo parou de chorar e se arrumou para seguir as atividades do dia.

Tenham um bom dia, eu vou dormir!

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