O que a alergia alimentar da minha filha me ensinou

in #pt7 years ago (edited)
Ter filhos pode ser às vezes a idealização de um sonho, um desejo que alguns vão construindo durante a vida e, muitas vezes, quando pensamos em como vamos ser como pais ou como vão ser nossos filhos, nossa imagem que temos deles pode ser bem diferente daquilo que a vida nos presenteia. Claro, ninguém almeja filhos com sérias doenças ou limitações, mas aceitar que não temos controle algum desta parte de nossas vidas às vezes pode ser bem complicado.

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Minha filha nasceu perfeita, teve um pré-natal perfeito, tudo sempre dentro dos conformes. Nas primeiras consultas pediátricas, o médico já alertou que aproximadamente pelo 15º dia de um recém-nascido, a temida cólica começa a dar o ar de sua graça, principalmente pelo fato de que o leite materno nesta fase começa a apresentar uma constituição mais complexa, com mais proteína e gordura do que o primeiro leite (colostro) que desce logo ao nascer e nutre o bebê nestas duas primeiras semanas. Devido ao processo de amadurecimento intestinal do bebê ser ainda um pouco lento, ele pode sofrer bastante com o processo de digestão, apesar deste alimento ser fundamental.

Como orientação médica, evitei ingerir certos alimentos que faziam com que a composição do leite ficasse mais pesada e assim causasse mais cólica na Clarice, mas a partir, exatamente do 14º dia, ela passou de um bebê que passava a maior parte do dia dormindo, para um bebê mais ansioso, chorão e carente de muito colo. Apesar da minha restrição, as cólicas foram aumentando num nível catastrófico, onde as crises que eram apenas pela tarde passaram a ser praticamente 24h por dia.

Apesar de evitar ao máximo a ingestão de leites e derivados, feijão, brócolis e outros alimentos que causam gases (e por isso aumentam as cólicas), as crises de dor da minha filha só faziam aumentar e com isso surgiam outros sintomas: vômitos em jato, muita diarreia (ela usava mais de vinte fraldas por dia), refluxo oculto, pele ressecada e muito estresse.
Ela passou a ser uma bebê muito nervosa e ansiosa.

Eu achava que era simplesmente cólica e refluxo, pois são coisas muito comuns que atingem grande parte dos bebês, mas havia algo errado, era o que muita gente me dizia. Então sempre estava levando em todos os pediatras possíveis e o diagnóstico era sempre o mesmo: refluxo e cólica. Normal, logo passa.

Mas não passou. Quando ela tinha 4 meses completos, as diarreias começaram a vir acompanhadas de sangue e aí eu comecei a me desesperar. Levei em quatro pediatras diferentes e a resposta foi de que poderia ser um fissura no intestino devido às diarreias constantes. Mas ela não ganhava peso e aquela frieza médica estava acabando comigo. Havia algo mais e eu precisava descobrir.

Por fim, investi numa cara consulta com uma pediatra muito mais atenciosa e logo após eu descrever os sintomas, ela logo de cara já veio com o diagnóstico: APLV. Eu já tinha ouvido falar nesta sigla em fóruns maternos pela internet, mas quando ela descreveu os sintomas e me explicou ao certo o que era, um filme passou pela minha cabeça...
APLV significa ‘alergia à proteína do leite da vaca’, o sistema imunológico da minha filha estava passando por um estresse quando recebia esta proteína, fazendo-o atacar o próprio organismo, resultando em feridas intestinais, refluxos etc. Eu não consigo nem imaginar a dor que minha filha sentia.

Mas é preciso lembrar que eu a amamentava exclusivamente e que ingeria muito pouco leite, porém mais a frente descobri que pacientes com esta alergia, não podem nem estar em contato com superfícies que tenham tido contato com a proteína, nem traços, nem nada. Não é intolerância à lactose, pois esta é uma restrição apenas do açúcar do leite; a APLV refere-se à proteína do leite (normalmente a caseína), o que pede uma restrição alimentar muito maior.

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Como ela ainda não estava se alimentando, quem fez a dieta foi eu. Retirei tudo o que continha na minha alimentação, incluindo traços, derivados etc. E quando ela começou a se alimentar com outros alimentos também fez a dieta. Certa vez, minha sogra usou a panela que eu usava para fazer as sopinhas da Clarice para ferver leite. Mesmo lavando e fervendo, quando usei para fazer comida novamente, minha filha teve mais uma crise alérgica, por isso qualquer contato era complicado.

Esse processo todo durou mais ou menos um ano, quando os sintomas foram desaparecendo e o organismo dela aos poucos foi amadurecendo, passando a tolerar a proteína e com isso, veio a cura.

Minha filha teve um problema de saúde relativamente sério, que se não tivesse sido descoberto na época, poderia ter evoluído e causar problemas mais complicados em sua saúde. E eu, como mãe de primeira viagem, jamais imaginei que iria passar por tudo isso e nem sabia dessas alergias alimentares em bebês tão pequenos. Isso tudo fez eu perceber que apesar de esperarmos por filhos perfeitos e saudáveis, a vida nos presenteia com novidades o tempo todo e que exigir que tudo seja do jeito que queremos pode ser muito decepcionante e egoísta.

Faz parte dos mistérios da vida termos que passar por desafios nunca imaginados para que possamos evoluir como seres humanos e, principalmente, nos tornarmos melhores. E quando se trata de filhos, o aprendizado é muito maior.

Obrigada por ter lido até aqui! Abraços, Carol.

Fonte das imagens

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ter filho muda completamente a nossa vida

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Hi! I'm from Brazil, so I speak Portuguese. ^.^

Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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É muito bom viajar junto contigo nessa jornada inusitada. Parabéns, é isso mesmo. Precisamos evoluir e as lutas vêm pra ajudar a aperfeiçoar.

Muito obrigada pela leitura e comentário! <3

Lembro bem dessas inúmeras crises e do tamanho de nossa ansiedade em não saber o que fazer. Um grande alívio descobrir o problema, mas não o final do estress, por que daí veio a dificuldade em adaptar leites depois, tentamos o de soja e tudo mais né. Você escreve muito bem meu amor, parabéns pela sensibilidade com as palavras. Te amo.

Pois é, Thom! Só a gente sabe como foi! Te amo. <3

É muito complicado passar por essa situação ainda mais sendo mãe de primeira viagem, mais Deus é muito bom e nos proporciona a coragem para continuar e vencer.

Pois é, Aline... Mães de primeira viagem sofrem muito e passam muito perrengues hahah, mas passa, né? Tudo são fases na maternidade.

Carol, tenho uma amiga que passou por coisas muito parecidas. Acompanhei de perto todo o sofrimento e posso imaginar como foi duro pra vocês. O bebê dela agora tem 2 anos e as crises tem sido cada vez mais raras. Vou mostrar seu post pra ela, tenho certeza que vai ajudar muito.
Abraços! :)

Obrigada, Renata! Isso, mostre pra ela, pois na época o relato de outras pessoas que passavam por isso me ajudou demais! Abraços e boa sorte para ela e o filho. Abraços!

Que complexo!! Ainda bem que deu tudo certo e que agora já está ok!! Grato por compartilhar conosco esses acontecimentos!! Pode servir para referência no futuro de alguém!!

Obrigada, Paulo! Hoje eu só agradeço por tudo ter passado, foi muito difícil. Compartilho porque na época estes relatos me ajudaram muito. Abraços.

Opa, de nada!! Abraço

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