Poço de agonia
O sol já se punha e ali, preso naquele poço, estava Jorge. Uma fratura em sua perna o impedia de tentar subir as paredes úmidas. Em suas mãos, arranhões e uma dor latejante como a de sua perna. Ali estava por horas, sem que ninguém ouvisse suas súplicas por ajuda. Na mente do jovem rapaz um caos, dor e desespero; lembrava de ter bebido, estava na casa de seus tios, ali perto daquela floresta havia uma casa enorme, uma festa, música, e a maldita bebida.
Aos poucos a energia que aplicara nas tentativas de escapatória dava lugar a um cansaço enorme, e no lugar dos gritos de socorro, um silêncio pensativo. - Não devia ter aceitado o desafio – dizia Jorge a si mesmo, - mas eles logo sentirão minha falta, vão procurar por mim, melhor que eu esteja atento. - Jorge tenta guardar energia e descansa um pouco. O poço era fundo, era sorte ter fraturado somente a perna, podia ter morrido; o poço, apesar de bastante húmido, estava sem água. Ali ao seu lado apenas um balde velho e uma corda curta. Não havia como sair daquele jeito. Rendido pela dor e pelo cansaço, Jorge adormece.
...
Noite. Uma chuva leve começa a cair. - Procurem por ali! - exclama Paulo, tio de Jorge. - Jorge! - gritam outros a procurá-lo – Algumas pessoas passam por um poço velho, a borda coberta de folhas quase que disfarçava o buraco, numa noite daquelas, um breu sufocante, e a chuva, só aumentando. Não perceberam o poço. Aos gritos a multidão se afasta e Jorge, paralisado, permanece calado. Havia ouvido os demais em sua procura, mas enquanto dormia, percebera pequenas patas caminhando sobre seu peito, ao abrir os olhos, um momento de terror. Escorpião! Jorge da mesma forma que acorda mantem-se paralisado, o bicho estava muito perto de seu rosto, suas mãos estavam muito longe, temia que não desse conta de reagir rápido o suficiente, se fosse picado e as pessoas não o ouvissem, morreria certamente, manteve a calma; manteve o silencio; apenas lágrimas desciam enquanto as vozes se afastavam.
A chuva caia com raiva, os ventos corriam contra as árvores brutalmente, galhos e folhas caiam no poço, assim como uma quantidade grande de água. A criatura peçonhenta abandonara o peito de Jorge, que na primeira chance, usando o velho balde, golpeia-o até que a morte do bicho estivesse mais que confirmada. Ali descarregara raiva e frustração.
Mais algumas horas, sua respiração estava pesada, como se nadasse quilômetros; sentia-se tonto ainda, podia ser fraqueza causada pelos ferimentos, pela dor, pelo estresse. Sentia seu corpo desistir por um instante.
Fome.
Jorge perdera a noção do tempo em que ali estava. Seu estômago reclamou.
Apesar do tempo ter melhorado com o passar da noite, o céu nublado dificultava saber que horas poderiam ser. O jovem se levanta, era hora de agir novamente, não podia esperar a morte daquela forma, precisava fazer alguma coisa para que o vissem, ou dar um jeito de sair dali. Pensativo, prestava atenção nos sons lá fora. Vez ou outra, um barulho de camionete, e de alguns animais, mas nenhum que desse a ele alguma chance de agir, ninguém estava passando pelo local.
Mais uma noite se aproximava, na agonia de nada ter para comer, e de pensar que ninguém iria ajudá-lo, o jovem encara o escorpião morto... Estava nojento, mas já entre perder ou não sua sanidade, pega a criatura, retira o ferrão utilizando um pedaço de madeira que soltara do balde. O resto tentaria comer. Por mais nauseante que fosse, ele o fez, e se alimentou um pouco.
Uma noite difícil, uma manhã tão difícil quanto. Jorge relembra seus passos no dia do acidente, e uma informação nova parece revisitar sua cabeça. Um empurrão. Ele não caiu por acidente, apesar da bebida, sentira o empurrão em suas costas. Um suor frio desce por sua espinha, quem ali poderia querer matá-lo?
Um som, um ronco de motor, a caminhonete de seu tio. Era dia, o sol escaldante incomodava lhe. O carro estaciona, sons de passos se aproximam. Tão fraco estava o jovem que sua voz não mais saía. Apenas olhou para o alto, esperando que alguém o encontrasse ali. Uma sombra. Jorge sorri, uma felicidade lhe aquece o coração. Estava salvo, bendito seja este que o encontrara. Ele se levanta aos poucos, com o pouco que lhe resta de força. Protege os olhos com as mãos, na intenção de ver o rosto de seu salvador. Mas é aí que seu semblante se converte por completo. Felicidade torna-se terror, um medo sem explicação. Ali, encarando-o não era um monstro, ou um demônio, não era um animal selvagem; algo ainda mais improvável; impossível. Aquele que Jorge vê no fim da luz, olhando-o nos olhos era Jorge. Era ele mesmo. Por quê? Como? - Quem é você? - pergunta Jorge, com sua fraca voz ecoando pelo poço. - Sou você - responde aquele debruçado sobre a entrada. - Viverei sua vida agora, não se preocupe... já enjoei de viver a vida de seu primo, não é pessoal Jorge... Adeus... - termina a criatura com um sorriso maligno. Jorge para, sua respiração para por um instante, só fica o silencio, o vento, uma lágrima, e a luz no fim de tudo se apagando; o poço sendo tampado, o fim para Jorge no fundo do poço.
Valeu! Falei a dica da tag #pt em seu post de introdução mas não tinha visto que vc já está usando como recomendado. Sucesso e boa sorte mais uma vez!!
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