YouTube e Filosofia: Revista PUCRS entrevista Alysson Augusto

in #pt6 years ago

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Neste primeiro semestre de 2018, abracei a oportunidade de participar de duas cadeiras eletivas na PUCRS, as quais compõem o novo sistema de certificações da universidade, sendo um desses certificados voltado à produção de conteúdo para YouTube. Dada a novidade, e diante do fato de que já tenho certa experiência na área, surgiu a oportunidade de conceder uma entrevista para a Revista PUCRS — a qual já foi publicada. A fim de registrar este momento, colo abaixo a entrevista na íntegra, com as respectivas perguntas da jornalista Vanessa Mello, além de minhas respostas — é claro. Espero que lhes seja interessante.


Alysson Augusto em foto promocional para matéria "Múltiplos Caminhos" na Revista PUCRS | Aula de Karen Sica / FAMECOS | Foto de Camila Cunha

Revista PUCRS: Você é aluno da Filosofia, certo? De qual semestre?

Alysson Augusto: Sim, sou aluno da Filosofia, e estou no oitavo semestre.
Talvez valha aqui uma observação: comecei a estudar filosofia (licenciatura) na PUCRS em 2013 e já estou há 5 anos na universidade, o que daria um total de 10 semestres — porém, se formos pensar na grade curricular da filosofia e não na aleatoriedade com que fiz as cadeiras (por vezes com apenas 3 disciplinas num semestre, por vezes com até 7), existem apenas 8 "semestres oficiais" — logo pode-se dizer que estou no último.

R. P.: Tem algum tipo de bolsa, é aluno ProUni?

A. A.: Sim, sou bolsista pelo ProUni. Não fosse esse tipo de auxílio, eu provavelmente estaria agora aos 24 anos apenas com meu ensino médio, trabalhando em algo menos criativo e mais mecânico, tendo um outro direcionamento em vida que sequer consigo imaginar. A oportunidade ofertada pela PUCRS em parceria com o governo foi e está sendo um marco na minha vida.

R. P.: Por que escolheu a certificação de Produção em YouTube?

A. A.: Quando vi mais essa oportunidade, consonante com toda a reformulação que está ocorrendo na PUCRS, senti ser minha obrigação abraçá-la. Não apenas porque eu tinha alguns créditos de cadeiras eletivas para sanar, mas porque, pensei, talvez não fosse apenas uma coincidência que agora eu pudesse tratar, de forma acadêmica, uma formação específica para produção de conteúdo no YouTube. O YouTube mesmo oferece cursos para criadores, os quais muitos já fiz, mas que em comparação são mais superficiais — por não nos ofertarem um panorama intelectual para além de estratégias de marketing e produção de conteúdo, o que entretanto ocorre com a bibliografia utilizada nas cadeiras de certificação da PUCRS, onde estou tendo, por exemplo, a oportunidade de mesclar a filosofia com a produção audiovisual, a partir de autores como o filósofo da informação Pierre Lévy, aprimorando meus conceitos filosóficos ao passo em que produzo resenhas para vídeos.

R. P.: Você tem um canal no YouTube, certo?

A. A.: Sim, um canal que, por falta de criatividade e por querer expressar justamente minha forma de ver o mundo, nomeei com meu próprio nome, Alysson Augusto (youtube.com/AlyssonAugusto). Nele trato de filosofia, economia, política, ciência, cultura e outras temáticas de interesse acima de tudo intelectual, crítico e educativo.

R. P.: Já consegue aplicar nas suas atividades no canal os conhecimentos das disciplinas?

A. A.: Sim, pois as diferentes frentes de atuação que estou aprendendo — a partir das duas cadeiras nas quais estou inscrito em busca de meu certificado — têm propósitos próprios para o aprimoramento da nossa atuação, enquanto criadores, no mundo digital. Na cadeira "Influenciadores e Estratégias de Marketing", com a professora Karen Sica da Cunha, por exemplo, nos habituamos a analisar as diferentes redes sociais de marcas e influenciadores digitais, estudando assim tendências e o que faz um conteúdo ter sucesso, nos apropriando assim de conceitos como benchmark, target e persona, além de nos habituarmos à construção de estratégias de marketing, análise de concorrência, geração de influência e engajamento nas redes. Na cadeira "Roteiro, Produção, Direção e Edição de Vídeos para YouTube", com a professora Fernanda Cristine Vasconcellos, por sua vez, o propósito é menos construir uma estratégia capaz de manter nosso sucesso nas redes, e mais focar em como podemos de fato começar nossa aventura no YouTube, visando nosso próprio desenvolvimento pessoal enquanto criadores de conteúdo, exercitando certa autonomia criativa a partir de referências que já são sucesso em seus diferentes nichos de conteúdo. Ambos os nortes dados pelas diferentes cadeiras são complementares, e garantem uma ampliação panorâmica de um entendimento necessário sobre como o mundo da produção de conteúdo funciona — se é que realmente estamos preocupados em tornar nossos projetos sustentáveis.

R. P.: O que esse conhecimento especializado pode acrescentar na tua formação?

A. A.: Como alguém que cursa licenciatura em filosofia, meu norte tem sido me formar professor. É sabido que um professor melhor é um professor adaptado ao seu tempo, e em tempos de acessibilidade tecnológica, de alta interatividade em redes onde a comunicação é decentralizada (embora não seja o caso de as plataformas e agregadores de conteúdo o serem), fica a cargo do professor a disputa cada vez mais frenética por atenção de seus estudantes, que de modo cada vez mais natural combinam o dever e "quebra-cabeça" de estudar com a facilidade cada vez mais intuitiva de seus celulares. Cada vez mais pessoas prestam mais (e melhor, diga-se) atenção a conteúdos através das telas de seus smartphones, de modo que o intermédio que por séculos caracterizou o papel do professor (ser aquele que dá ao a-luno, ao "não-iluminado", o conhecimento, a "luz" profetizada pelo "sábio") acabe perdendo sua necessidade e, talvez, mesmo sua relevância. Nesse sentido, um professor que aceita esses fatos e tenta adaptar sua didática considerando fatores como estratégias para captar atenção, estudo de concorrências eficientes e, a partir daí, estabelecimento de uma persona razoável mas suficientemente interessante que desbanque o desejo dos estudantes por mexerem em seus celulares (a fim de fugirem da obrigação de estarem em aula), acaba por ser um norte auxiliar na minha formação pessoal, enquanto um educador ciente de que os tempos são outros. Com certeza esses conhecimentos vieram para somar.

R. P.: De que forma pretende usar essas duas certificações na tua carreira e no mercado?

A. A.: Sempre que penso em carreira e mercado de trabalho, acabo considerando aquilo que alguns filósofos como Zygmunt Bauman chamam de "modernidade líquida", um termo que busca representar o mundo contemporâneo enquanto um mundo de fluidez, onde nada é garantido, ao contrário de um século atrás, quando uma pessoa qualquer começava uma carreira e tinha certeza que morreria fazendo o que sempre fez. O que quero dizer é que não acredito que morrerei tendo vivido uma vida profissional estável, e não considero isso algo ruim ou sequer assustador. O fato de estar preenchendo minha vida cotidiana com estágio, com faculdade e projetos pessoais que, entre si, representam diferentes carreiras, mostra que podemos não apenas ser multi-tarefa, como também multi-carreira, explorando possibilidades que — por um acaso ou pelo mais perfeito encaixe profissional — podem ser frutíferas às nossas vidas. As certificações, aliás, parecem surgir justamente desse entendimento de que não há certezas profissionais no mundo de hoje, e por isso mesmo ter formações complementares será um auxílio essencial nas nossas tentativas por sucesso profissional.

R. P.: Como está sendo essa experiência na certificação?

A. A.: Está sendo uma experiência bastante gratificante. Consigo explorar o lado teórico dos estudos sem que isso seja "chato", pois a prática desses entendimentos é sempre abraçada, o que acaba dando sentido ao que fazemos — e quando vemos sentido em nossa atuação, o aprendizado é não apenas significativo, mas certeiro.

R. P.: Como aluno, qual a importância da Universidade oferecer uma trajetória aberta, onde o estudante pode escolher certificações em áreas diferentes da sua graduação e interagir com colegas de diversos cursos?

A. A.: Toda forma de ampliação de oportunidades me parece, em regra, algo positivo. Dar às pessoas os meios para que atinjam seus próprios fins, especialmente quando são fins socialmente pró-ativos, agregadores e justos, não reflete apenas uma facilitação de suas vidas, pois acaba especialmente por reforçar a ideia de que tais pessoas são dignas de conquistarem seus espaços e construírem sua relevância no mundo. Que a PUCRS amplie horizontes profissionais de seus estudantes, bem como horizontes sociais (garantindo mais oportunidades para que se comuniquem, seja pelas cadeiras de certificação ou mesmo nos espaços coletivos como a recém inaugurada Rua da Cultura), é um ponto essencialmente positivo na construção de uma comunidade acadêmica do tamanho do futuro.

R. P.: Você percebe em aula essa troca de informação entre áreas?

A. A.: Sim, direto. É comum que, ao colaborarmos com os tópicos coletivamente tratados em espaço comum, traçamos referências entre o que está sendo posto em discussão e nossas próprias áreas.
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