Uma falha humana inata

in #pt6 years ago

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▬ Thomas Hobbes / New Statesman ▬

A primeira inclinação de toda pessoa que detecta um problema é buscar por um responsável pelo que está acontecendo. Às vezes a responsabilidade cai, convenientemente, sobre aqueles que gostaríamos que fossem responsáveis (um político da oposição, um desafeto social ou algo do tipo), e às vezes temos que estar abertos a admitir que nós mesmos temos uma parcela de "culpa" (palavra problemática por seu vínculo religioso) sobre aquilo que, sabemos, é algo a ser solucionado e precisa de explicações desconfortáveis de serem dadas.

Entretanto há casos em que os problemas não são exatamente fruto da ação individual humana. Há casos (e talvez sejam mais comuns do que pensamos) em que as origens dos problemas que visamos combater são próprias do ambiente do qual brotam. E quando o ambiente favorece incentivos nocivos, temos um sistema no qual as interações dos indivíduos, em conjunto e co-responsavelmente, acabam por concretizar o pior de nossa espécie.

De fato, o nosso sistema social, político e econômico parece possibilitar que atos errados sejam cometidos pelas pessoas. Porém isso acaba sempre numa questão ética: o problema é o sistema ou o próprio ser humano?

Afinal, se for o sistema, isso significa que o ser humano precisa do “pai estado”, ou qualquer mecanismo superior à sua agência individual, para lhe dar, constantemente, uma direção comportamental para atuar na sociedade. Assim sendo, a boa ação humana é necessariamente condicionada (psicólogos behavioristas parecem acreditar que assim seja, e mesmo filósofos como Thomas Hobbes).

Porém, se o problema for o ser humano em si, e casos imorais continuam acontecendo mesmo em sistemas perfeitos, isso significa que, independentemente do sistema, o ser humano continuará errando e demonstrando o seu pior nas situações que forem convenientes para tanto.

De qualquer forma, se a "culpa" é do sistema de incentivos disponíveis ou se é puro reflexo de uma natureza humana que transpassa as limitações impostas pelo ambiente de convício social, tudo indica uma falha humana inata, que permite toda a perversidade na terra.

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O grande problema dessas teorias é 8 ou 80 - eu já concordo bem mais com o Yuval Harari. Ser humano ainda é um animal bem primitivo que pode fazer coisas horríveis, mas mesmo assim isso não exclui que alguns façam coisas magníficas. Neurociência my friend...

Se não fosse nossa reconhecida capacidade de nos superarmos enquanto espécie, certamente não teríamos Hararis por aí pra falar disso.

Não gosto da ideia contratual do Rosseau nem do Hobbes. Acredito que essas duas máximas que são pregadas em ambos são muito rasas para que analisemos as ações humanas, por isso, prefiro a análise da escritora Ayn Rand e do economista Mises para analisar o que realmente define o homem... Seu egoísmo e a sua ação.
O homem toma ações e elas são baseadas em duas coisas, busca da felicidade ou fuga da dor. E sempre ele irá pensar no seu próprio egoísmo. Logo, se você definir que o Estado é necessário, você automaticamente está dizendo que pessoas egoístas precisam tomar atitudes altruístas, o que não vai acontecer, esse é o grande defeito de todos os pró-Estado. Não há como você defender um Estado sem que antes você negue a necessidade humana e racionalizar tudo em questões egoístas.

A bem da verdade, Hobbes admite o egoísmo do homem e parte justamente daí pra formular sua teoria contratual. Pro Hobbes, "o homem é o lobo do homem", pois é predatório em busca de seus próprios interesses. E é justamente por isso que ele defende que o Estado é necessário: se deixarmos o homem fazer tudo baseado em seu egoísmo, a sociedade ruirá, pois será uma luta de todos contra todos pela imposição de seus interesses pessoais. No sentido de que o Estado seria necessário para coibir certas expressões maléficas do egoísmo humano (que pra Hobbes seria reflexo de sua natureza), eu tendo a concordar. Ocorre que Hobbes, vivendo num período de monarquia e não fazendo ideia do que seriam direitos humanos (a base da civilização ocidental pós-guerras), não conseguia enxergar que mais que o papel do Estado para regular a sociedade, o que realmente nos direciona a boas ações são os incentivos adequados — de modo que a opressão do Estado sobre nossa vontade seja apenas um incentivo possível. Hoje conseguimos descobrir incentivos de diferentes maneiras, e vejo nesta iniciativa privada chamada Steemit, que segue uma lógica coletiva (onde precisamos balancear nossa atuação a fim de evitar a queda de nossa reputação e perdas financeiras), um exemplo de sistema de incentivos que brota da sociedade sem necessidade de um regulador centralizado — como é o caso do Estado. Mesmo Ayn Rand e o próprio Mises viam alguma necessidade no Estado, a questão é até que ponto ele é realmente necessário.

Correto, mas é ai que está o problema... Quem gere o Estado são lobos que tem como objetivo ganhar através do seu egoísmo. Ayn Rand era totalmente contra o Estado, através da lógica objetivista dela, já Mises era liberal, mas se analisar bem o contexto e a história, verá que ele era mais um libertário do que um liberal.
No caso sobre a necessidade de um Estado, eu não vejo isso, visto que o egoísmo de cada um que fez com que prosperássemos.

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"A primeira inclinação de toda pessoa que detecta um problema é buscar por um responsável pelo que está acontecendo." Não. A primeira é buscar entender o por quê.

O "sistema social", político e "econômico" não possibilita atos errados, somente reprimem. Porque poder agir de forma errada (analisado num sistema ético) todo mundo vai poder, mas existirá punições.

O ser humano vive em várias coisas dessa que chamamos de sociedade, assim como sob vários sistema. Ambos, sendo conflituosos ou não.

O problema frequentemente é ESSE sistema (se não sempre), não sistemas em si. Logo, sendo o problema esses sistema, o ser humano não precisa "do pai estado" exatamente por esse ser um dos sistemas problemáticos nem de qualquer "mecanismo superior" (outro sistema problemático) e uma boa ação PODER SER condicionada é diferente de É condicionada (behaviorismo ? sério ?).

Essa ahmmm capacidade e volitividade do ser humano de errar e de continuar sendo imoral seja por qual motivo for, não é uma "falha", é só uma das características da natureza humana.

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