Negócios sociais e desobediência civil
Apesar de não haver nada de ilegal no conceito e na operação de um negócio social, existe nele um componente que subverte a lógica estatal e por isso acredito tanto nesse modelo de negócio.
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O Setor 2.5 é aquele que opera entre o 2º e o 3º setor da economia. Seria um híbrido dos dois setores. Em algum ponto da cadeia produtiva de um determinado produto/serviço uma causa ou um grupo social vulnerável é priorizado, mesmo que isso possa minimizar (jamais eliminar) a lucratividade do negócio. É uma forma de gerar impacto social através da inclusão produtiva.
Escrevi um post que fala sobre o como o Estado monopoliza o terceiro setor, e sobre como a sociedade civil tem dificuldade de atuar de forma voluntária e solidária em prol de causas sociais diversas. Os negócios sociais têm o poder de quebrar esse monopólio, uma vez que inserem em seus objetivos alguma questão social e não precisam de certificação alguma para isso. Todos os marcos legais e regulamentações estatais do 3º setor podem ser burlados por esta via.
Num mapeamento nacional recente (que pode ser acessado no link da imagem abaixo), vê-se que os negócios sociais atingem vários setores da economia, com potencial para ir muito além, visto se tratar de um modelo de empreendedorismo relativamente novo no Brasil.
Uma das coisas mais legais dos negócios sociais é que são criações da sociedade civil, financiados pela sociedade civil, para atender em sua grande maioria demandas da sociedade civil. Isso nos leva a um outro patamar de organização social e econômica, onde as trocas voluntárias que ocorrem dentro do contexto do "social business" ilustram perfeitamente a soberania da teoria do valor subjetivo (no caso a afinidade que o indivíduo tem com cada causa/negócio) em detrimento da teoria do valor-trabalho (não adianta haver muitas horas de trabalho, se o produto ou serviço oferecido não apóia causas ou representa princípios considerados relevantes pelo consumidor final).
Claro que o 2º setor é bastante regulado e tributado, e isso ainda dificulta que idéias muito legais possam ser colocadas em prática, pois esses negócios são totalmente submetidos às regulamentações comuns aos setor privado da economia, ainda que consigam boicotar as regulamentações do 3º setor.
Mas se nós, enquanto consumidores, procurarmos consumir tanto quanto possível de empresas e empreendedores sociais, podemos fortalecer uma espécie de contra-economia. Apesar de não ser ilegal ou caracterizar um "mercado negro" propriamente dito, os negócios inclusivos nos livram de algumas regulamentações -como a certificação estatal de beneficiência por exemplo - através do uso pacífico e voluntário de dispositivos do mercado em prol de causas sociais diversas
No contexto dos negócios inclusivos a autorregulamentação através de tecnologias descentralizadoras como a blockchain, aliada ao consumo consciente, pode fazer ruir o monopólio estatal da virtude. De forma que cada indivíduo, por livre e espontânea vontade, possa ser um ponto de desobediência ao código moral, à escala de valores e à priorização de pautas sociais que nos são impostas pelo Estado.
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela sua contribuição!
Dois excelentes textos o de ontem e este de agora, devemos nos atentar que o Estado possui o monopolio territorial (força) como de repente ele tem o monopólio da virtude, só pode ser através dos intelectuais e tecnocratas.
ptgram
Oi, @caiiiotkn! Obrigada pelo comentário. Realmente, acredito que existe uma "elite intelectual" que se presta a esse papel. Já os demais cérebros pensantes estão ocupados demais para defender o Estado, eles estão criando coisas que geram valor para a sociedade. Esses, para mim, são as verdadeiras mentes brilhantes.