Janeiro Branco – Saúde Mental e Bem-Estar

in #pt5 years ago (edited)

Já passamos da metade de Janeiro mas nunca é tarde para falar sobre saúde mental, esse estado de bem-estar psíquico cada vez mais raro na nossa sociedade. A cada ano aumentam os diagnósticos de transtornos mentais pelo mundo, e também o número de pessoas que passam por períodos economicamente incapacitantes por motivos de saúde mental. Pessoas que precisam tirar licença médica ou que simplesmente chutam o balde e largam seus empregos sem mesmo saberem como vão pagar os boletos que estão em cima da mesa.

Existem muitas estatísticas alarmantes sobre o assunto, principalmente porque não existe mais um grupo específico onde seja maior a prevalência das psicopatologias no geral. De crianças a idosos. De ricos a pobres. De empresários a empregados. De anônimos a famosos. De índios a cortadores de cana. De qualquer que seja o gênero. Todos estamos suscetíveis a ter uma crise a qualquer momento, um surto que nos tira do nosso estado mental habitual e que não se controla com facilidade. Ou então passíveis de vermos uma alteração contínua e progressiva no nosso comportamento, a qual não conseguimos explicar e tampouco controlar. Em ambas as situações a gente não se sente exatamente doente, mas infeliz, sem saber o que está acontecendo.

Se é doença ou não, tudo depende do seu conceito do que é doença e saúde. A OMS diz que saúde é "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade". Neste caso podemos admitir que não estamos necessariamente doentes, porém, da mesma forma não podemos afirmar que estamos saudáveis.

Afinal, é sinal de saúde não ter o sono regular, não ter um peso ou apetite regular, não ter um humor regular, não ter uma neuroquímica regular, não ter uma disposição física regular, não ter uma memória regular, não ter um sistema cognitivo regular, não ter habilidades sociais regulares, enfim, não poder contar com suas próprias funções orgânicas e psíquicas dentro de uma previsibilidade mínima? Todos estes fatores afetam inegavelmente a nossa vida, e por isso não devemos negligenciar nosso bem-estar mental e todos os seu determinantes, que nem sempre são apenas genéticos. Pelo contrário, os determinantes sociais da saúde são extremamente fortes nas questões referentes à nossa saúde mental. Por isso foi criado o janeiro branco, para que seja uma espécie de marco anual que nos alerte para a importância de monitorar e cuidar do nosso bem estar mental.

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A OMS criou um questionário chamado WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) para avaliar a percepção que as pessoas têm da sua própria qualidade de vida. O WHOQOL aborda 04 domínios básicos da vida de um cidadão global comum, que por sua vez se desdobram em facetas do nosso cotidiano:

Domínio I - Domínio físico

Dor e desconforto
Energia e fadiga
Sono e repouso
Mobilidade
Atividades da vida cotidiana
Dependência de medicação ou de tratamentos
Capacidade de trabalho

Domínio II - Domínio psicológico

Sentimentos positivos
Pensar, aprender, memória e concentração
Auto-estima
Imagem corporal e aparência
Sentimentos negativos
Espiritualidade/religião/crenças pessoais

Domínio III - Relações sociais

Relações pessoais
Suporte (Apoio) social
Atividade sexual

Domínio IV - Meio ambiente

Segurança física e proteção
Ambiente no lar
Recursos financeiros
Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
Transporte

Uma rápida análise nestes itens e já percebemos que nossa qualidade de vida deixa a desejar em muitos pontos. Ao longo dos anos o cansaço e a frustração podem chegar a níveis que nos prejudicam e até debilitam. Podemos sim, precisar de terapia, de remédios e vários outros tipos de ajuda.

E não, não somos loucos por causa disso. Está tudo bem em de repente não suportar uma pressão a qual tentamos resistir por tanto anos. Está tudo bem em chorar sem saber de onde vieram tantas lágrimas. Está tudo bem em ter uma crise de pânico no meio da rua e não conseguir voltar para casa sozinho. Está tudo bem em acordar um dia sem ter forças para levantar. Está tudo bem em criar pequenos rituais diários que não fazem sentido mas que conseguem te acalmar. Está tudo bem em sentir e fazer coisas que demonstrem que não, que não está tudo bem.

É natural, somos humanos vivendo umas das fases mais loucas da história. Perdemos referenciais seculares, milenares. Criamos revoluções que alteraram nossas relações com o tempo e o espaço. Mudamos as formas de interação humana e criamos robôs para interagir conosco. Produzimos e divulgamos nos últimos 50 anos mais conteúdo do que em toda a história da humanidade. Estamos vendo surgir novos modelos de arranjos econômicos, sociais, familiares e culturais. Estamos vendo nossa subjetividade ser moldada a cada dia por tecnologias e parâmetros sem precedentes. Então, está tudo bem em não estarmos bem. Está tudo bem em não aceitar seguir adiante em um caminho que desconhecemos e que nos causa desconforto muitas vezes.

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O que não está bem é fingir que está tudo bem, e deixar que o mal-estar avance, te abrace e causa a sua queda. Como dizem os meninos do Primeiramente: esperança não é só esperar.


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Boa @aliny! Ótimo post! Por coincidência iria fazer um hoje para o @brazilians, mas deixei para semana que vem. Vivemos uma época que o determinismo biológico volta a ser uma evidência central na medicina e nos próprios governos relacionados a questão de saúde. A evolução da biomedicina, e a falta de conhecimento, somado a esse fenômeno cultural das inovações tecnológicas, vem nos distanciando do entendimento mais importante, nossa saúde e biologia, é constituída essencialmente com nossa relação com meio, principalmente social. Fiz um post no meu blog sobre essa dificuldade de conceituar saúde, e as noções generalistas na qual bem critica aqui. Mais uma vez parabéns! Até mais!

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Oi Matheus, adorei o seu post, mas estou um pouco perdida sobre a melhor forma de seguir você e ter acesso aos conteúdos que você produz. Estou gostando do blog. Agora sobre essa questão da nossa relação com o meio e em como isso nos afeta... nossa, é muito estranho que até hoje tenhamos que tocar nesse assunto como se ele fosse algo metafísico, hipotético e sem conexão direta com a nossa realidade. Uma relação que nos influencia tanto mas ao mesmo tempo tão negligenciada né. Será que existem países onde a visão de saúde já esteja mais ampla e integral? Obrigada por vir e comentar.

É realmente muito estranho essa falta de capacidade de entender algo tão simples e objetivo, tomado como subjetivo erroneamente. Eu só utilizava o Steemit, mas vi que precisava divulgar mais a plataforma. Fiz um blog para posts de temas que gosto, um site educativo o https://imaginariovirtual.com, e utilizo os dapps aqui para ir conhecendo. Tem países como Inglaterra, Espanha, Canadá que tem saúde melhor e mais organizada pelo que sei. França caiu muito nos últimos anos. Outros não sei...

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