Carta a quem porventura está sofrendo do mal do século - Parte I

in #pt6 years ago

Eu gostaria de dizer que não acho que você está doente. Ou que você é fraco, problemático, inadequado. Eu gostaria de dizer que não acho que você está louco, desequilibrado, fora de si. E nem acho que você é um peso, um problema, uma pedra no caminho ou no sapato de alguém. Não acho que você é negativo, desajustado e depressivo. Não acho nada disso, e gostaria que você soubesse o que penso.

Eu penso que você está em processo.

Estar em processo é quando o nosso mundo interno entra em choque com o nosso mundo externo, nos fazendo sentir inadequados, impotentes e desanimados. Muitas vezes perdidos e confusos também.

Estar em processo é quando de repente ficamos sem energia para as mínimas coisas e não conseguimos mais viver nossos dias como antes. E nem nos sentimos como antes. E nem nos relacionamos como antes. E nada é como antes. E sentimos que nada do que foi será do jeito que já foi um dia.

Estar em processo é quando atravessamos um longo deserto subjetivo, onde não existe ninguém além de nós e as noites duram muito mais que os dias. Onde as miragens surgem e desaparecem sem deixar rastro nem esperança. É quando questionamos tudo que nos fez chegar a esse deserto.

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Estar em processo é sentir vontade de não estar onde se está, mas também não saber onde se quer chegar.

Estar em processo é quando você percebe que o que você espera da vida e o que os outros esperam de você são duas coisas totalmente diferentes e quase sempre incompatíveis, e que você haverá de escolher qual das duas sacrificar, mesmo que "os outros" sejam as pessoas que você mais ama nesta vida. E pensar nisso te paralisa porque você não consegue tomar essa decisão.

Dizem as más línguas que estar em processo é a mesma coisa que estar com depressão (com ou sem ansiedade). Eu prefiro dizer que é estar passando por uma necessária revisão. Uma revisão de tudo que você é e foi até ali, de tudo que você acreditou e perseguiu. De tudo que você deu e recebeu. De tudo que você sonhou e realizou. Do que te satisfez e do que te sufocou. Do que te sustentou e do que te derrubou. Uma revisão que se faz apenas enquanto se caminha pelo vale da morte, que é um vale seco, frio e deserto.

Eu gostaria de te dizer que já estive em processo muitas e muitas vezes, e que conheço esse deserto como a palma da minha mão. Descobri que a caminhada que leva ao fim desta estrada é pessoal e instransferível; às vezes até podemos ter uma ajuda ou outra em alguns trechos, mas no geral a jornada é solitária mesmo. E que ela não é optativa, portanto, a qualquer momento qualquer um de nós poder ser lançado nesta senda. Duvide de quem diga que nunca esteve por lá.

Existem algumas dicas para que essa caminhada seja fértil e significativa, mas isso fica para um outro post. Agora vamos curtir um pouco a bad, porque romantizar a vida tatuando carpe diem nunca tirou ninguém do torpor né. Nem ficar lamuriando, eu sei. É que eu não sei se você sabia, mas dá para curtir esse momento - que é inerente à vida, diga-se de passagem - em grande estilo, quando você tem uma trilha sonora de respeito. Eu sugiro esse doom metal melódico finlandês. Se é pra sofrer, vamos sofrer com classe.

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