Trapalhadas de um "acordo" ortográfico

in #pt7 years ago

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Pois é meus caros, a cantiga já é velha, e com estes avanços e recuos, lá se continuam a trocar as voltas a quem nada tem que ver com estes malabarismos.

Até à data resisto, sim, não sou contra nem a favor, simplesmente continuo a escrever em concordância com aquilo que constava dos manuais escolares adoptados pelo sistema educacional naqueles tempos de escola.
Nunca me tinha passado pela cabeça que estas coisas pudessem prescrever, tipo carta de condução, sei lá, começo a sentir-me um pouco ignorante, embora nunca me tenha considerado muito inteligente, aliás, naquela altura ainda levei umas boas réguadas à custa disso mesmo, porque:

  • 1º escrevia algumas palavras de acordo com o actual “acordo” ortográfico “ Que ironia do Car#!* :D o que hoje é correcto, já foi considerado incorrecto e eu enfardei por isso mesmo.
  • 2º naquela altura os professores podiam dar umas valentes réguadas para repreender o aluno, ainda me lembro daquele pedaço de madeira que mais parecia uma raquete, com uns buraquinhos no meio para cortar o vento..dava para fritar um ovo na mão, depois de uma investida daquelas!

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A maior lacuna recai imediatamente sobre o título “acordo”!

Não há nem houve “acordo”, houve e há sim, um debate sem consensos e um tratado que se arrastou desde 1990, altura em que Portugal adere à CEE e decide modernizar-se para ser aceite pela comunidade, e nessa pseudo modernização decide trocar tudo pelos tão preciosos EUROS, começando desta forma a reforma em prol das normas europeias, tudo teria de ser enquadrado e normalizado, pendurado e abandonado, sempre em prol da “normalização”.

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Nesta reforma estaria incluída a normalização e regulamentação da própria língua portuguesa, esse património tão importante para a comunidade de todos os países de língua portuguesa, com suas particularidades e diferenças, “diferenças” e é aqui que aparentemente reside o “problema”, na diferença.
O tratado acaba por entrar em vigor em 2009, passados 19 anos, já assisti a conflitos armados serem resolvidos de forma mais solene, enfim, contudo, embora tenha entrado em vigor, o debate continua aceso, e não faltam argumentos que o justifique, principalmente os argumentos filológicos (onde abordam aquilo que mais me fascina nesta novela) e que se têm demarcado mais dos políticos, económicos e até mesmo jurídicos.

Mas antes de abordar alguns aspectos caricatos vigentes do novo tratado, quero só transcrever o “breve” percurso desde a primeira tentativa de implementação desta ideia "revolucionária" até à data em que é “oficialmente” aplicada:

“A ortografia da língua portuguesa é determinada por normas legais. No início do século XX Portugal estabeleceu pela primeira vez um modelo ortográfico de referência para as publicações oficiais e para o ensino. No entanto, as normas desse primeiro Formulário Ortográfico não foram adotadas pelo Brasil. Desde então, a ortografia da língua portuguesa foi alvo de um longo processo de discussão e negociação, com o objetivo de instituir, através de um único tratado internacional, normas comuns que rejam a ortografia oficial de todos os países de língua portuguesa. As tentativas iniciais materializaram-se num primeiro acordo, assinado em 1931, que, no entanto, viria a ser interpretado de forma diferente nos vocabulários ortográficos nacionais entretanto produzidos: em Portugal, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1940; no Brasil, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1943, acompanhado de um Formulário Ortográfico. A fim de eliminar estas divergências, foi assinado por ambos os países um novo acordo ortográfico, em 1945, mas este apenas foi aplicado por Portugal, continuando o Brasil a seguir o disposto no Formulário Ortográfico de 1943. Nas décadas seguintes, houve várias tentativas de chegar a novo consenso, mas, embora no início da década de 1970 tenha havido revisões que aproximaram as duas variedades escritas, não foi aprovada oficialmente uma reforma que instituísse um documento normativo comum. Fruto de um longo trabalho da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, os representantes oficiais dos então sete países de língua oficial portuguesa (além do Brasil e de Portugal, também Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) assinaram em 1990 o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, ratificado também, depois da sua independência em 2004, por Timor-Leste. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) entrou em vigor no início de 2009 no Brasil e em 13 de maio de 2009 em Portugal. Em ambos os países foi estabelecido um período de transição em que tanto as normas anteriormente em vigor como a introduzida por esta nova reforma são válidas: esse período é de três anos no Brasil e de seis anos em Portugal. Com exceção de Angola e de Moçambique, todos os restantes países da CPLP já ratificaram todos os documentos conducentes à aplicação desta reforma.”
Fonte: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php


Belo percurso não? :D
Agora vamos aos “porquês”?

Qual o propósito da ideia que visa uniformizar a escrita entre os 7 países de língua oficial portuguesa?

Basicamente, a ideia é ter uma ortografia comum entre estes 7 países e dessa forma facilitar uma maior projecção internacional do idioma e da sua adopção como língua de trabalho das Nações Unidas, reduzir o custo ao acabar com a duplicação de edições de livros uniformizando os processos de escrita e dessa forma favorecer a projecção das obras bibliográficas escritas em português.

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Até aqui tudo bem, não encontro qualquer tipo de problema, de facto a língua portuguesa, apesar de ser um activo com mais de 200 milhões de utilizadores, “ainda” não assume a relevância que seria desejada, mas nesta tentativa de se fazer bem, fez-se muita trapalhada, porque acima de tudo, a língua tem origem na dinâmica das populações, com toda a sua riqueza e cultura, e nunca poderá ser verdadeiramente decretada...

Muito sinceramente, nunca tive grandes problemas de interpretação ao ler obras escritas em Português do Brasil, e acredito que o mesmo se passe ao contrário, porque na verdade, o que este tratado veio alterar, foi tão somente aquilo que já era perfeitamente entendível, e com isso desapareceram as consoantes mudas, o acento gráfico em alguns vocábulos, o circunflexo noutros, assim como do hífen, enfim, uma autêntica trapalhada, para quem lê e para quem escreve.

Pelo que percebi e pelo pouco que li sobre as alterações feitas, parece-me que este tratado teve mais impacto em Portugal, talvez pela importância da acentuação na forma como pronunciamos as palavras.
Vejam aqui algumas mudanças:

Depois de muitos debates por parte de académicos e partes interessadas, a Academia de Ciências de Lisboa, propõe o regresso das consoantes mudas, do acento gráfico, do circunflexo, assim como do hífen.
Enquanto não se decidem, a malta vai ficando cada vez mais confusa e as editoras vão encaixando mais uns cobres!

Agora é esperar para ver se vão a tempo de evitar que passe por vergonhas quando tiver de ajudar a minha filhota com os trabalhinhos da disciplina de Português :P

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Aqui partilho um pequeno vídeo com Ricardo Araújo Pereira e Gregório Duvivier, onde falam sobre as diferenças entre o português falado em Portugal e o português falado no Brasil.
Esta intervenção fez parte da programação do Experimenta Portugal 2017 que teve lugar no Unibes Cultural em São Paulo no dia 21 de junho de 2017.
Muito bom :D


Obrigado pela visita :)

@aleister


Aproveito também para recomendar a todos os autores de língua portuguesa que visitem o canal @camoes criado por @jsantana, um projeto que visa disseminar e apoiar autores de Língua Portuguesa

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Tudo muito bem e nao me vou prenunciar muito. Mas como falaste e tudo uma questao de negocios. Dinheiro. E a culpa deste acordo e de portugal e da uniao europeia. Porque quando foi falado em se criar a lingua brasileira tudo ficou com medo. Pois portugues iria sair das linguas mais faladas a nivel mundial no que diz respeito a negocios e seria substituido por Brasileiro.

Depois vinha a lingua Carioca, Baiana, Caipira etc... e ai a lingua Portuguesa continuaria á frente hehehe

Sim, concordo, toda esta trapalhada de acordos parte de Portugal, como referi no post, compreendo que exista uma necessidade de potenciar a língua portuguesa, mas não será certamente atropelando toda uma dinâmica já existente, e depois talvez essas ideias de criar uma lingua brasileira resultem destas trapalhadas, porque na verdade o Brasil sempre teve idioma.

Está brutal @aleister . Não estou de acordo com este acordo. Não sei escrever desta forma. O problema vai ser quando tivermos de ensinar a Clara a escrever e explicar que nos aprendemos a escrever de uma forma e que agora se escreve de outra 😨😨😨😲😲

Sim, temos de voltar à escolinha ;)

Muito bom!!! Isto é realmente uma bela trapalhada!

Não sabia que o regresso de letras mudas etc... E é como dizes, daqui a pouco o pessoal não vai poder ajudar os filhos nos trabalhos da escola...

Pessoalmente ás vezes escrevo á moda antiga, e ás vezes lembro-me de acordo com o famoso acordo. Não levo isso muito a peito.

Esse video está top também, só rir.

E é engraçado que as diferenças escritas eram mesmo mínimas, penso que nenhuma pessoa sentia-se incapaz de compreender.

Só deixar aqui a nota que: Brazil, Portugal, os P.a.l.o.p.'s e Timor partilham este idioma fantástico que é a Lingua Portuguesa. Uma lingua complexa digna de Poetas!! Algo que tanto influencia a cultura onde nos inserimos. Como o outro diz no Video "As diferenças deveriam de nos unir"

Uma escuta aqui uma escuta ali! heheheheh

Sim, exactamente como eu, ora escrevo de uma forma, ora escrevo de outra, dou por mim a misturar tudo, chego a um ponto que não sei o que é correcto e o contrário... não havia de todo a necessidade de assassinar a língua portuguesa com alterações sem sentido, como dizes as diferenças eram mínimas e o que realmente distingue e enriquece são as pequenas diferenças que nos deveriam unir... Abraço

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Muito obrigado :)

Eu sou da velha escola, e acho que o acordo ortográfico foi a maior burrife proveniente de políticos que só para isso servem... roubar-nos o dinheiro e dizer-nos como havemos de viver.

Sim, de facto isto foi muito mal pensado, ou talvez tenha sido propositadamente mal pensado, as editoras e mais uns quantos agradecem ...

Excelente post. Obrigada por ele.
Eu entendo que o idioma poida ter unhas palavras de uso "oficial" con contido e escrita definidos para comunicacións que deban ser inequívocas, como as relacións co estado e as contractuais.

Para min o conceito muda na rúa. Penso que ese é o espazo de desenvolvemento da comunicación oral e debe ser por elo transgresora coas normas e innovadora coas formas.
Ë na rúa onde as palavras toman sentido (e segundos sentidos), é na rúa onde o idioma vive.. E essa é a nosa lingoa. A do povo. Non a fanática da oficialidade.

En canto a multiculturalidade, entendo que as gentes das distintas geografías deberiamos ser mais permeábles unhas coas outras para acadar un grado de mestizaxe mais alto, creando o nossa propia neo-lingoa.
Apertas dende a Galiza.

Muito obrigado pelo seu comentário, sim concordo, deverá existir um consenso oficial que não passará disso, pois existirão sempre dinstinções entre as várias comunidades, especialmente com o idioma de uso corrente, o que se usa na rua, e essa particularidade não pode ser extinta com decretos, muito obrigado pelo comentário e cumprimentos cordiais para a Galiza, a bela Galiza :)

Muito bom amigo @aleister. De minha parte esses "acordos da treta" como falam aí em Portugal para mim é uma merda e não ajuda em nada. Esses burocratas estão sem ter o que fazer na vida e inventam mais uma forma de atrapalhar a vida do povo. Valeu!

Sem tirar nem pôr meu amigo.. Uma autêntica trapalhada, tanto querem unificar que só acabam por atrapalhar, enfim. Abraço

Este (des)acordo é uma perfeita trapalhada. Eu considero que já escrevi bem, isto é, sem erros ortográficos, neste momento já não escrevo, já não sou coerente. Isto começou tudo com um trabalho que fiz em 2011/ 2012 e onde era "obrigatório" escrever com o Acordo. Nessa altura formatei o cérebro para algumas palavras. Agora corto consoantes mudas numa palavra e estou a escrever pelas regras do Acordo, como mantenho-as noutras palavras, e estou contra o Acordo.

😂😂 compreendo perfeitamente aquilo que escreves, passa-se o mesmo comigo, dou por mim a escrever de acordo com o actual e o anterior, uma confusão 😂 mas é estranho, porque o período de transição em que seria aceitável escrever segundo o anterior, já terminou, tendo passado a ser obrigatório escrever qualquer documento oficial de acordo com o novo acordo... Contudo continuo a ver muitos académicos e mesmo cronistas a escrever segundo o anterior, e para isso acrescentando no final que não aderiram ao novo acordo... Agora a academia de ciências já demonstrou interesse em voltar a fazer uma revisão, enfim, trapalhada das grandes, e até lá vão se fazendo edições atrás de edições e uma pessoa continua sem perceber como escrever... Mais se parece com as regras do código da estrava em relação a como se fazer uma rotunda, muda a cada mês 😎😂😂

Para mim neste momento é mais fácil conturnar uma rotunda do que escrever. Quando comecei a tese de mestrado quis escrever segundo o acordo ortográfico, e numa das revisões finais (liguei o corretor do word) sei que havia uma palavra ou duas que ficam horriveis sem o duplo "c" (não sei se era a palavra ação ou outra que usei muito) e não consegui. Reverti tudo para a escrita pré-acordo! Sinceramente acho que não há consensoe cada um faz o que quer. Questiono-me como esta situação está a ser tratada nas escolas...

É exactamente isso que me preocupa, actualmente é oficial e está aplicado o novo acordo no código do sistema de ensino, mas entretanto vem a academia de ciências de Lisboa e volta a propôr alterações, mas como já é habitual, tudo se arrasta neste país, até lá há uma forte probabilidade da minha filhota começar a aprender segundo o actual e depois levar com as alterações... É uma autêntica paródia enfim...

Não estamos livres de ser revertido, e entretanto já saíram umas quantas crianças da escola primária para o ensino básico que aprenderam a ler e escrever com o acordo. É o que temos. Talvez para as crianças seja mais fácil de aceitar, elas são esponjas a absorver conhecimento. Nós é que somos mais relutantes ;)

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