Por que Bolsonaro é a MELHOR coisa que pode acontecer à esquerda

in #politica6 years ago

Bolsonaro

Uma fantasia peculiar, e bastante curiosa, dos fãs do Bolsonaro é achar que ele iria provocar grandes mudanças institucionais. Seja pela revogação do Estatuto do Desarmamento, das cotas em concursos ou vestibulares, do ECA, da instituição da pena de morte, da permissão de tortura, da maioridade penal aos 7 anos, enfim, por uma série de mudanças legislativas e constitucionais, o “Mito” ia chegar lá, fazer e acontecer.

Para variar – bem, estamos falando de pessoas capazes de admirar alguém com o perfil político como Bolsonaro, então sem surpresas aqui – se trata do mais profundo e completo desconhecimento sobre como funciona uma república.

Presidente, sozinho, não muda nada. Para utilizar termos mais técnicos, não muda porcaria nenhuma. Dá direcionamento a políticas escolhendo pessoas, apenas, dentro dos estritos limites que o Legislativo coloca. Indica um nome, o Legislativo o aprova ou não. Apresenta um orçamento, o Legislativo aprova ou não. Como tem que ser: o Legislativo, que é o poder que tem como função REPRESENTAR os cidadãos, é o Conselho Fiscal do Executivo, que tem como função ADMINISTRAR.

Mesmo os decretos presidenciais geralmente apenas regulamentam matérias com prévia permissão e limites impostos pela legislação. Dito isso, então, é de bom tom a adultos reconhecer que quem “MUDA” as coisas não é o Presidente, é o Congresso, por meio de leis.

Segue-se daí que, se o Presidente quiser influir no processo legislativo, deve manter a) uma base aliada ampla, forte e leal, ainda mais para as votações mais qualificadas (leis complementares e emendas constitucionais) e b) ter um bom trânsito e boa comunicação com o Legislativo, para que essa base não sofra erosão, e para, ocasionalmente, costurar acordos com partidos de oposição e viabilizar aprovações mais difíceis.

Presidente isolado não governa, é governado. E, se se insurgir contra o isolamento, vai para a vala. Querem exemplos? Temos dois bem recentes.

Ocorre que Bolsonaro é um parlamentar de PÉSSIMA comunicação com o Legislativo - um verdadeiro pária lá dentro. Não só isso: já anunciou, diversas vezes, que seu primeiro ato seria bolivarianizar a nação, fechando o Legislativo e assumindo os poderes plenipotenciários em um Super-Executivo, exatamente nos moldes de Hugo Chávez, outro centralizador, que já elogiou abertamente.

Certamente não é algo que agrade aos ouvidos do Parlamento.

O eleitor com uma concepção mais infantil do processo político acha que Bolsonaro iria promover mudanças, como se presidente mandasse em algo em termos de leis. Com cerca de 92% de rejeição no meio do Congresso (e a dele deve estar até passando disso), o sonho de revogar o Estatuto do Desarmamento vira até uma AMPLIAÇÃO no Estatuto, em manifestação de poder da oposição.

Isso, esse mal-estar, só pensando nele, na presença dele, isolada, pisando por cima dos poderes da República com o tanto de inimigos que ele JÁ tem. Imagina o Bolsonaro realizando essa promessa dele de tirar o controle dos Ministérios dos partidos e dar para os amigos dele, generais brucutus, leigos e que pregam parafuso com martelo e acham que inflação se resolve colocando os preços em um pau-de-arara em um porão escuro de delegacia.

Os partidos iam amar. Nem é receita de Impeachment não.

Sobram estas as opções a um Bolsonaro eleito, isolado e perplexo: ou cumpre a promessa e declara guerra ao Legislativo (o que seria garantia de despejo), ou começa a negociar, tudo, cada coisa, em uma posição tão inferior, com tão poucas cartas na mão e com tanta deficiência na arte da composição - vamos lembrar que em 25 anos Bolsonaro não conseguiu convencer seus colegas a apoiar uma proposta sua que seja - que fará o governo mais submisso, hesitante e paralisado da história.

Resumindo, Bolsonaro não é o pior tiro no pé que a Direita pode dar, é dar um tiro nos dois pés, nos joelhos, tomar uma xícara de cianeto com limão e ir nadar depois do almoço tendo comido manga com leite. Um Bolsonaro da vida não só não completaria o mandato por incompatibilidade total e completa com a República como, depois dele, a esquerda voltaria nos braços do povo dizendo “viu, eu avisei, hein”.

E não estaria nem um pouco errada em falar isso.

Seria uma forma espetacular de a direita desperdiçar o momento proporcionado pela queda da dobradinha Lula/Dilma, se negando a decidir por um candidato politicamente viável, e simplesmente "cedendo a vez" para uma oposição que utilizaria um mandato catastrófico como muletas, suporte e justificativa para se reestruturar, se renovar e partir para mais 16 ou mais anos de hegemonia.

(publicado originalmente em https://web.archive.org/web/20170324043154/http://douglasdnn.com/por-que-bolsonaro-e-a-melhor-coisa-que-pode-acontecer-a-esquerda/)

Sort:  

Eu como sou um libertário me considero de direita. Mas isso não me impede de reconhecer que Bolsonaro representa o que há de pior na política nacional. Um demagogo metido a salvador da pátria com chavões e respostas fáceis para problemas muito difíceis. Se ser direita fosse ser bolsonarista, eu seria de esquerda desde criancinha. Sem falar que há controvérsias se ele pode ser considerado de direita mesmo, visto que em matéria econômica é meio reticente a privatizações e é protecionista.

Exatamente. E é espantoso que alguém que agora quer ser o "candidato do menos Estado", além de defender CENTRALIZAÇÃO, defenda protecionismo, reserva estatal "estratégica" e direcionamento da economia "com mão de general".

Ou é ignorância ou má-fé, e não estou disposto a acreditar na primeira hipótese.

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Texto perfeito! Esclarecedor, coerente e reflexivo. Sou de direita, confesso que não tenho total compreensão sobre questões políticas, mas tenho discernimento suficiente para saber que as promessas de campanha do Bolsonaro não tem fundamento, além da sua visão preconceituosa e hostil em relação as minorias da sociedade. Estava em busca de mais argumentos para convencer seus simpatizantes das inúmeras razões para não votarem neste candidato. Encontrei mais algumas aqui. Obrigada! E como seu comentário abaixo, também tenho dito: os eleitores do Bolsonaro, ou não possuem inteligência ou não possuem caráter e, diante das evidências, acredito na segunda hipótese.

Não vou votar nem no Lula nem no Bolsonaro no primeiro turno, mas no segundo vou voltar em quem não for o bolsonaro. Espero que ele nem chegue lá.

Mais bons argumentos pra lista de razões pelas quais Bolsonaro não merece meu voto. Valeu, @Donin, te espero mais presente por aqui! :)

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