Nióbio Cash: o pior do “jeitinho brasileiro”, agora nas criptomoedas!

in #niobio6 years ago

Hoje vamos analisar o projeto da "criptomoeda brasileira", chamada Niobio Cash. Antes de entrar na moeda, vamos entender o que é o Nióbio:

O Nióbio é um mineral raro, que serve para fortalecer ligas metálicas, sendo utilizado em diversas indústrias como aeronáutica, informática, automobilística, entre outras.

O Brasil possui 98% das reservas desse mineral, que ganhou certa relevância recentemente após alguns discursos nacionalistas e protecionistas por parte do candidato à presidência, Jair Bolsonaro. Outros exemplos de protecionismo que temos são a Petrobrás e os Correios, péssimos exemplos de transparência, ética, qualidade e preços baixos para a população.

O Nióbio vem sendo considerado a Sétima Maravilha do Mundo e salvação do Brasil, como se fosse um tesouro escondido e mal utilizado, quando na verdade ele é substituível por outros minerais como Vanádio e Titânio, encontrados em diversos outros países. Esse é o principal fator para o preço do Nióbio ser limitado ao que é vendido atualmente. Subir o preço, simplesmente leva os consumidores a buscar por outros minerais. Para piorar, é necessário muito pouco nióbio pra cada tonelada de aço, tornando mesmo as minúsculas reservas de outros países, suficiente para atender ao mundo por séculos. Nada disso é mencionado no projeto da Nióbio Cash.

Agora eu te pergunto: O que você acha da transparência dos serviços prestados no Brasil? E da qualidade? Se você confia nisso... essa é uma moeda pra você.

O problema dos serviços estatais passa justamente pela centralização, já que ela concentra poder na mão de poucos indivíduos. É um sistema falho que depende da honestidade e competências desses indivíduos, para funcionar. O resultado é óbvio: não funciona.

A Nióbio Cash vem ganhando atenção por parte de muitos brasileiros, mesmo apostando neste modelo antiquado de centralização das decisões, nacionalismo e protecionismo ao invés de focar no indivíduo. É uma aposta que vai contra tudo que pregam as criptomoedas e a tecnologia blockchain.

O whitepaper começa com uma ode ao nacionalismo: “é uma criptomoeda que visa a valorização do Brasil, através do financiamento as riquezas do país”. Aqui já fica claro o discurso alinhado ao de políticos: o de que a riqueza não é dos indivíduos e sim da nação. O coletivo está acima do indivíduo, um discurso socialista na essência, e eu não faço a menor ideia do que te levaria a investir em um projeto que no primeiro parágrafo já divide o que você nem ganhou.

Pra acentuar isso, o título faz questão de dizer que trata-se de uma "criptomoeda brasileira”, como se isso por si só fosse algum orgulho. Note a incoerência! Criptomoedas existem para acabar com fronteiras, que são justamente aquilo que prendem pessoas à moedas estatais, à leis esdruxulas e tantos outros problemas ligados a existência de Estados. Esse é o motivo de você nem mesmo saber qual a nacionalidade do Bitcoin, da Ethereum, da Nano ou de qualquer criptomoeda. Elas não possuem nação, são globais e seus times são multiculturais. O projeto delas independe da vontade dos fundadores, já que as decisões são descentralizadas.

Se você para pra pensar, verá que o sucesso do projeto da Nióbio Cash está totalmente atrelado à liberação do Estado para estas atividades. Essa criptomoeda promete algo que não depende dela nem de pesquisadores, já que os minerais sob o solo nacional são de propriedade do Estado. Qualquer veto do governo e nada sai do lugar, muito menos uma possível exploração desse minério.

E como funciona a Nióbio Cash?

Quanto a tecnologia ela utiliza a CryptoNote, um protocolo de Proof of Work geralmente utilizado por criptomoedas que querem preservar o anonimato das transações, o que é um ponto positivo. A Monero e a Bytecoin utilizam essa mesma tecnologia.

O projeto promete que será uma moeda que oferecerá transações anônimas, criptografadas, rápidas e com taxas muito menores que as opções tradicionais. Só que nada disso é novidade no mercado de criptomoedas. Moedas já estabelecidas oferecem o mesmo. Então vamos passar pro principal diferencial dessa criptomoeda:

5% das criptomoedas mineradas são, teoricamente, revertidas pra um fundo de estudo sobre o mineral nióbio. A primeira coisa que me chama atenção é a divergência de informações no próprio projeto. Analisem comigo o que falava a versão anterior do site, onde indicava que 50% das taxas de mineração seriam revertidos a este fundo... e o que fala o site atual, onde aparece a informação sobre os 5%. Uma alteração desse tamanho deveria ser seguida por uma explicação... mas não encontramos absolutamente nada. (Nota do autor: essa divergência foi explicada pelos desenvolvedores da moeda após o lançamento do vídeo. A informação permanece sem explicação adequada nos documentos oficiais, mas as duas fórmulas de cálculo chegam no mesmo valor).

Outro ponto importante é que não existe qualquer estudo indicando o nível de interesse por esse tipo de pesquisa ou mesmo a autorização pra que ela ocorra. O projeto nem mesmo se importa em explicar como isso será feito. Tudo que temos é uma afirmação vaga de que parte do dinheiro será entregue para “pesquisadores” que estudam o Nióbio.

Calma, que piora... quem vocês acham que decide quais os “projetos de pesquisa” receberão verba? Bom, se é uma criptomoeda, nós esperamos que seja uma decisão descentralizada, correto? Isso provavelmente é decidido de alguma forma pela comunidade de detentores do Nióbio Cash? Certo?

Não.... quem decide quais projetos de pesquisa serão financiados, vejam vocês, é o time por trás da Nióbio Cash! Ou seja, decisões centralizadas, onde você precisa confiar na competência e honestidade das pessoas que fazem parte desse time... da mesma forma que você faz quando aposta em políticos pra dicidirem onde investir seu dinheiro arrecadado via impostos.

Outros 5% teoricamente financiarão o desenvolvimento e evolução da criptomoeda. Como isso vai acontecer? Quais são os critérios? Quais as metas de desenvolvimento? O que eles querem atingir? Ninguém sabe... não existe qualquer comentário.

Bom, mas se as decisões são centralizadas no time da Nióbio Cash, esperamos que seja uma equipe de estrelas, com informação abundante sobre a experiência e qualificações desse time, correto? Infelizmente não... mais uma vez não encontramos nenhuma informação sobre as pessoas, além de fotos e da função delas no projeto. Não existe informação sobre experiência profissional, perfil no LinkedIn, absolutamente nada. Ironicamente existe um link onde se lê “Quer mais informações sobra a nossa equipe? Clique aqui”... você clica e é redirecionado pra página principal, onde novamente, só aparecem as fotos. Fui insistente e tentei procurar informações sobre os fundadores no Google, mas encontrei perfis vazios no LinkdIn e nada sobre a carreira ou experiência deles. Note a diferença para projetos sérios de outras criptomoedas, onde geralmente encontramos times formados por estrelas, graduadas em Universidades de nível internacional, com vasta experiência em suas funções em multinacionais conceituadas.

Uma pergunta que eu me faço é: como esse time da Niobio Cash é remunerado se não existiu ICO? Quanto eles recebem e como eles recebem o pagamento pelo seu trabalho? De onde vem os recursos para manter as atividades de desenvolvimento do projeto?

No final nos é apresentado o Roadmap ou Cronograma, que novamente não apresenta nada além de lançamento de carteiras até o final de 2018, quando teria início o Apoio à Pesquisas com o mineral nióbio. O último estágio, no início de 2019 seria integração com plataformas de e-commerce, onde provavelmente você poderia fazer compras utilizando o seu Nióbio Cash.

O que me assusta é que aparentemente os brasileiros nem mesmo analisam os projetos antes de investir. Eles simplesmente embarcam em qualquer coisa que possa ser facilmente minerável e render algum trocado, de preferência em português, para facilitar o uso. Analisei todos os vídeos existentes sobre essa criptomoeda e todos eles somente lêem o material do site, como se fosse verdade absoluta e focam em como minerar essa criptomoeda. Nenhum questionamento sobre o conteúdo e viabilidade do projeto, sobre o time por trás desse projeto, sobre as incoerências em ser uma criptomoeda e defender nacionalismo e protecionismo. Nada.

As considerações finais são risíveis, dando a entender que o Bitcoin possui “mantenedores” ou donos e que eles são os culpados pelas altas taxas que observamos alguns meses atrás. Na realidade o Bitcoin apresenta uma limitação no número de transações que pode realizar e um aumento no número de transações naturalmente irá gerar um aumento das taxas de transação, isso é algo natural que se chama mercado e aparentemente é algo que o time da Nióbio Cash desconhece.

A dificuldade que o Bitcoin encontra em realizar alterações que corrijam esse problema deriva justamente de sua descentralização, já que para algo ser mudado, precisa de consenso de praticamente todos os envolvidos, ou seja, mineradores, programadores e usuários... e isso não é algo fácil de acontecer.

A Lightning Network, criticada no texto, vem justamente como uma das formas amplamente aceitas para resolver o problema, que por sinal, já ficou para trás, já que atualmente as taxas de transação do Bitcoin estão na casa dos centavos. Afirmar que taxa de transação é roubo, não é somente ignorância, é desonestidade intelectual. Sistemas baseados em mineração, dependem do trabalho de mineradores para funcionar e o preço deste serviço variará naturalmente de acordo com a oferta e demanda pelo serviço.

Não satisfeitos, voltam a defender o nacionalismo, com a bizarra afirmação de que seria melhor se cada país tivesse sua própria criptomoeda! Como se limitar o uso de moedas, associando-as ao desenvolvimento de cada país, fosse positivo pra algum investidor. Se hoje usamos Bitcoin, fugindo das garras do Estado brasileiro é justamente por ela não estar ligada a um país específico. Ela é uma moeda livre e desassociada de “riquezas nacionais” dependentes da aprovação de um país. Isso seria bizarro.

O único acerto é quando eles afirmam que as criptomoedas foram criadas para possibilitar a descentralização de poder. E é justamente o que não se consegue em sistemas que dependem de mineração, protecionismo e nacionalismo, como no caso da Nióbio Cash.

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