#FILMOTECA# - "Le Scaphandre Et Le Papillon" | "O Escafandro e a Borboleta" (2007)

Fonte: Divulgação (AlloCiné)

Sinopse: Aos 43 anos de idade, o editor-chefe da revista Elle, Jean-Dominique Bauby, tem um derrame devastador que o deixa paralisado e dependente, algo frustrante para um homem conhecido por aproveitar demasiadamente a vida. A única coisa capaz de mover é o olho esquerdo. Então ele aprende a se comunicar piscando e escreve um livro de memórias.

"C'est la vie?! (É a vida?!), é a pergunta que inunda e sufoca todo o ser do protagonista Jean, que ao se vê aprisionado no próprio corpo devido a uma complicação que lhe ocasionou uma condição muito rara (a síndrome do encarceramento), começa a relembrar toda à sua vida e também, a se questionar: "Será que ainda vale à pena estar vivo?".

Fonte: Divulgação (La Cinémathèque Française)

O roteiro - que é uma adaptação do livro homônimo e autobiográfico - de Ronald Harwood é uma das coisas mais belas - dentro do cinema Francês - que eu já assisti recentemente (e diga-se de passagem, me arrependo muito de não ter assistido esse filme anos atrás). O trabalho contém um teor singelo em suas entrelinhas que ganha uma força descomunal à medida em que o filme avança. O resultado consegue atingir em cheio o estômago do telespectador com um soco bastante incômodo sobre qual seria o real valor de uma vida.

A construção e o desenvolvimento dos personagens são simplesmente magistrais (sim, sem exageros... "magistral" é palavra). O poder de imersão que o roteiro oferece para que o elenco brilhe é um show à parte em meio a tantas qualidades presentes durante toda a projeção. As relações do protagonista (um trabalho sensacional do ator Mathieu Amalric) com a equipe médica (em especial com a sua fonoaudióloga) e com a família (em especial com a ex-esposa) são extremamente tocantes... Ao passo que as lembranças que mostram o passado dele, são brutalmente densas e cheias de sutilezas.

Fonte: Divulgação (My Movies)

Julian Schnabel faz um trabalho primoso com este filme (não é à tôa que ele foi indicado a vários prêmios e obteve algumas vitórias, dentre elas: um Golden Globe de Melhor Diretor). Há tanto zelo e inspiração na direção dos takes que o nível de qualidade do projeto (que pode ser traduzido como pura poesia) se torna evidente sem precisar de muito tempo para que isso aconteça.

Os enquadramentos de câmeras são incontestavelmente criativos. Eles são responsáveis por criar novas - e sufocantes - perspectivas de visão para o público (algo que pode ser presenciado na maneira com a qual o protagonista começa enxergando a trama: o enquadramento em primeira pessoa) e com isso, Schnabel demonstra um olhar poderoso para lidar com situações extremamente dramáticas (mostrando a dor através de diversos prismas).

Fonte: Divulgação (Ladepeche)

Não há como não mergulhar na história de Jean-Dominique Bauby e vivenciar junto com ele toda a amargura, arrependimento, delírios e também os momentos de felicidade que construíram a sua vida. O filme é bastante emotivo e acaba funcionando como uma espécie de testamento que está sendo escrito bem diante dos nossos olhos... Nos deixando de herança, um vendaval de questionamentos e reflexões.

Fortemente ajudado por um trabalho técnico de grande qualidade, a edição das cenas demonstra uma clareza na condução dos fatos (tornando tudo ainda mais intenso) e a fotografia que consegue transformar vários momentos apreensivos em lapsos de liberdade, fazendo com que a experiência de assistir a este filme seja algo que todo mundo deveria vivenciar ao menos uma vez na vida.

Fonte: Divulgação (The Festival Agency)

"O Escafandro e a Borboleta" é um dos dramas mais poderosos que eu já assisti até hoje. Um filme capaz de discutir com tamanha força e delicadeza, toda a fragilidade que pode habitar dentro de um ser humano.. Bem como toda a inconstância dos nossos atos (algo que nos acompanha durante à vida inteira, refletido-se em nossas decisões, nos mostrando que a vida é sempre muito mais do que nós podemos imaginar).

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