#FILMOTECA# - "Última Parada 174" (2008)
Sinopse: Baseado em fatos reais (ocorridos no ano 2000), o filme acompanha Sandro do Nascimento, um sobrevivente da chacina da Candelária, que após sequestra um ônibus no Rio de Janeiro mantém uma mulher sob a mira do seu revólver, atraindo assim, holofotes indesejados.
Um episódio trágico que acometeu a sociedade carioca há 18 anos atrás, mas que permanece tão atual e latente (inclusive, em esferas ainda mais profundas por causa da descentralização da violência) é o cerne principal dessa trama intensa sobre a violência e o descaso com as populações mais carentes da cidade que, ainda hoje, é tida como a "capital interina" do Brasil.
Bruno Barreto acerta em cheio ao dirigir o filme com ritmo visceralmente cru (em certos momentos, há uma nuvem narrativa que lembra um documentário... e isso aumenta o grau de qualidade do filme, em um aspecto geral). A maneira com a qual ele conduz à trama é muito hábil e proporciona ao público uma imersão a história que está sendo contada de uma maneira onde é impossível não criar empatia pela realidade daquele povo (não apenas por ser uma triste realidade, mas também, pelo fato do trabalho que o elenco entrega de ser de uma notável veracidade).
A trilha sonora tem toques de urgência e trabalha em congruência devido a sua assertividade no uso das cenas. Momentos simples tornam-se grandes acontecimentos apenas pela adição de algumas notas musicais, e a medida em que o roteiro vai crescendo (tanto no desenvolvimento dos personagens, como de toda a trama em si... que aos poucos vai ganhando um ar cada vez mais complexo e desafiador) o espectador consegue entender cada vez mais a realidade que muitas vezes está estampada na cara dos governantes (mas que eles insistem em dizer que não a enxergam).
Os fatos que levam Sandro a chegar no que pode ser interpretado como um ápice na sua maneira de pedir socorro para uma comunidade que está - a cada novo dia - agonizando cada vez mais forte (e respirando cada vez mais lentamente). Com uma atitude potencialmente perigosa em suas mãos, ele não tinha a intenção de tornar o seu ato em uma comoção nacional... Mas, inconscientemente foi isso que ele fez.
A mídia, como de costume, fez o seu tradicional "circo" e colocou o jovem bem no meio do picadeiro. Sem ao menos considerar a motivação que o levou a planejar e executar tal plano, ela dilacera - juntamente com o sistema policial - por completo até a mais simplória das suas tentativas em mostrar que o que ele deseja não é criar uma catástrofe, mas sim, alertar a sociedade do quanto ele e sua comunidade vem sendo injustiçados ao longo dos anos.
Evidentemente que seus atos não justificam suas ações, mas essa foi a medida mais ferrenha que ele encontrou para se fazer ouvido de uma maneira mais ampla. O roteiro consegue captar toda essa essência de uma maneira muito humanizada (e que ao mesmo tempo revela uma mistura de frustração e tristeza), fazendo com que um amplo terreno para discussões mais acaloradas possam acontecer acerca dos temas em questão. O problema maior é quem deveria dar ouvidos a isso prefere continuar a fazer ouvido de mercador (agindo apenas nos momentos em que lhe são convenientes).
O tom do filme é quase sempre puxado para uma obscuridade (seja algo destacado nos seus cenários, locações ou fotografia) e com edição de cenas intencionalmente abruptas (em certos momentos causando momentos de desconforto no público) aliada a toda a complexidade que é advinda dos problemas secundários que servem de suporte para encorpar ainda mais à trama, acaba resultando em um campo de guerra onde não há vencedores... Apenas perdedores (onde muitos deles, inclusive, acabam pagando uma conta não lhes pertence).
Última Parada 174 é, sem dúvidas, um dos trabalhos que melhor representa a era do "Cinema Novo" do Brasil, onde a preocupação em fazer um filme que realmente carregue alguma essência na sua construção (algo que possa ficar de "legado" para quem o assiste) é a motivação fundamental para expressar o que conhecemos como arte (cinematograficamente falando).
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