#FILMOTECA# - "The Secret Life of Walter Mitty" | "A Vida Secreta de Walter Mitty" (2013)
Sinopse: Walter Mitty desenvolve fotos para uma revista, mas foge do tédio através de devaneios heroicos. Quando Walter recebe uma chance para uma verdadeira aventura, ele tem a chance de construir um relacionamento com uma colega de trabalho chamada Cheryl.
Em algum momento de nossas vidas, nós sempre ficamos entediados com alguém (família, amigos, colegas) ou com alguma coisa (trabalho, vida amorosa, recomeço de planos)... Mas quando isso se torna algo recorrente, torna-se um problema relativamente complicado de ser solucionado. A saída muitas vezes encontra-se na criação de uma "realidade paralela" e isso é justamente o que o protagonista de A Vida Secreta de Walter Mitty faz para poder se (re)descobrir.
Ben Stiller é um ator conhecido pelas comédias, e praticamente todos os atores nesse nicho precisam desafiar-se para mostrar que são mais do que "comediantes" e com isso, conseguir outros tipos de projetos que elevem a seu status dentro do mundo cinematográfico.
As comédias não são exatamente um problema (muito pelo contrário, porque elas rendem muito dinheiro para os estúdios!) mas os subgêneros, a exemplo das comédias "pastelão" (comédias nonsense), ainda são vistos como uma categoria inferior. O gênero que entra em cena como "substituto" geralmente é o drama ou o suspense... Stiller optou pelo drama (ainda meio que fantasioso), e não é que ele se deu bem?
Nesse filme, ele se desafia (apesar de ainda ter muito teor cômico que facilita o seu trabalho) de uma forma bem incomum para os padrões dos trabalhos dele e isso se reflete na maneira que a sua atuação é impressa na tela. Inicialmente, o drama que é criado em volta do seu personagem é bem simples, mas deixa uma brecha para algo mais complexo que o roteiro não perde muito tempo em mostrar.
Mergulhado em seu mundo particular Mitty não faz ideia do que está perdendo ao viver de uma forma "reclusa", sem muitos pontos altos em sua vida. Isso faz dele um adulto apático, sem muita vontade de viver, mas quando a vida lhe reserva uma desafiadora surpresa ele enxerga nisso uma chance de sair do estado de inércia. Nesse aspecto, os roteiristas conseguem acertar bastante porque o modo como a vida dele é mostrada é algo com o que muitos telespectadores podem se identificar (tornando a narrativa ainda mais crível, apesar de suas surrealidades).
Um ponto específico da parte técnica que precisa ser observado com atenção (na verdade, apenas ser apreciado já seria o suficiente para os telespectadores menos exigentes) é a fotografia, que desempenha um papel fundamental no amadurecimento da trama. O modo como as fotografias são exploradas são eficientes, e praticamente todos os planos sequências envolvendo-as são muito bonitos de serem vistos.
A edição de arte também merece um comentário específico por conseguir fidelizar a ideia de apresentar cenários grandiosos que fazem parte de uma importante trajetória do longa e juntamente com a trilha sonora (que é inserida com precisão em momentos chaves), refinam a ideia de um roteiro que vai crescendo de maneira natural, sem forçar o próprio ritmo ou apelar para plot twists desnecessários.
O próprio Stiller é o diretor do filme, e a forma que ele encontrou para balancear as suas duas funções (ambas de muito peso, obviamente) é algo que vale muito à pena ressaltar. Enquanto ator, ele entrega uma de suas melhores performances (principalmente porque o seu personagem consegue ser quase inocente em suas motivações... e ao mesmo tempo indeciso: hora quer uma coisa, outra hora não quer mais) e junto com Kristen Wiig protagonizam cenas de qualidade. Enquanto diretor, ele tem uma ótima noção do que está fazendo e apesar de alguns pontos fora da curva, entrega um trabalho que permite ao público notar a proximidade dele para com o projeto.
A melhor experiência em assistir A Vida Secreta de Walter Mitty é, além de criar uma afeição real pelo drama do personagem (que tem uma essência até meio bagunçada em alguns aspectos), poder viajar através de diversos lugares e em cada um deles, poder "vivenciar" junto com o protagonista as situações que fazem dele alguém tão confuso e que ao mesmo tempo consegue ser tão determinado na busca pelo seu verdadeiro eu.