#FILMOTECA# - "If Beale Street Could Talk" | "Se a Rua Beale Falasse" (2018)

Sinopse: Tish está esperando um filho enquanto luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas, a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê.

Ao longo de alguns anos, o cinema vem tratando do racismo com uma força cada vez mais consistente. Nunca se falou tanto sobre o tema (e principalmente, nunca se fez tantos filmes sobre), e os exemplares que tratam dessa nefasta problemática estão cada vez mais consistentes números. Mas, muito mais do que "simples" números, o nível de qualidade é o que anda chamando mais atenção e o emocionante Se a Rua Beale Falasse está aí para solidificar essa estatística.

Fonte: Divulgação (The New York Times)

Baseado no romance de James Baldwin, o roteiro desse filme foca no racismo quando o mesmo era tratado a ferro e fogo... Onde os negros eram "mudos" (por mais vontade que tivessem de gritar o quanto eles também são humanos e merecem os mesmos direitos das demais pessoas) e não tinham vez em qualquer uma das camadas sociais aceitas na época.

Embora o projeto - infelizmente - não tenha uma identidade mais forte e uma originalidade mais transparente (às vezes, até deixando uma leve impressão de que algo "mais do mesmo" já havia sido feito em outros títulos) é impossível não se deixar emocionar com essa jornada em busca não apenas de justiça, mas do seu lugar no mundo (algo que por sinal, é direito de todos) e no poder da própria voz perante a um mundo que parece estar tão distante, mas ao mesmo tempo, tão perto.

Fonte: Divulgação (Metacritic)

O que mais gritam as esquinas da rua Beale são o preconceito contra uma raça renegada pela sociedade (e pode ter certeza de que o grito é bem estridente). Nesse aspecto, o filme é um acerto direto na luta contra essa ideia horrenda de segregação que insiste em perdurar (ainda que em uma "menor" proporção, em comparação a décadas anteriores)... Aliás, indo bem mais além disso, é um soco potente no estômago de todos aqueles que ousam concordar com esse tipo de atitude.

A evidência da importância e da beleza por trás desse filme falam por si só (é realmente autoexplicativo... só assistindo para poder entender o que eu estou querendo dizer). O tom poético que é praticamente imposto à trama é muito bonito de ser visto, mas eu achei o ritmo muito compassado e muitas vezes contemplativo demais. Mesmo que o filme seja sobre uma história de amor (onde a onda de racismo atua em "segundo plano"), eu acho que esse olhar sentimental poderia ter sido diminuído um pouco (em certo ponto, tudo fica muito lento)... E talvez, sido alterado por algo mais visceral.

Fonte: Divulgação (Deadline)

Barry Jenkins (Moonlight) é quem dirige à trama. Ele volta transparecendo a costumeira firmeza e qualidade no seu trabalho. Optando por um caminho linear ao apresentar os elementos da história (ainda que meio piegas em alguns momentos pontuais), ele consegue apresentá-los e desenvolvê-los de uma forma gradual e precisa ao ponto em que o filme avança. Dessa forma, ele garante o interesse do público, que por sinal, é arrebatado por ótimas performances atuações ao longo da projeção.

O elenco é de uma precisão artística incrível (principalmente o núcleo coadjuvante). Personagens complexos e sensíveis misturam-se constantemente e alguns deles (como a excelente personagem da Regina King , que com este filme entrega a sua melhor performance da carreira até então... por sinal, ela foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar desse ano) ganham os holofotes quase que naturalmente, tamanha é habilidade técnica em transbordar tantos tipos de emoções em situações tão adversas.

Fonte: Divulgação (City News Toronto)

Se a Rua Beale Falasse é uma tentativa muito bonita de tocar em um assunto tão indigesto através de uma maneira tão humana, com isso trazendo uma força extra a uma representatividade tão necessária. Com um produção refinada (principalmente nas questões da fotografia na trilha sonora, que são incrivelmente tocantes... frames e melodias que parecem se fundir em algo sensacional!), esse é o tipo de filme que merece muita atenção do público.