#FILMOTECA# - "Clue" | "Os 7 Suspeitos" (1985)
Sinopse: Durante um misterioso jantar em uma mansão isolada, Mr. Boddy, o anfitrião da noite, admite ser o homem que está chantageando a todos os convidados presentes. Quando as luzes se apagam e Mr. Boddy aparece morto, todos tornam-se são suspeitos do crime.
Será que juntar suspense e comédia em um mesmo filme funciona? A resposta é: depende da maneira que os roteiristas / diretores irão unir esses dois gêneros tão distintos, fazendo-os caminhar paralelamente afim de chegarem ao mesmo resultado final.
Não é um trabalho fácil de ser feito (se não houver muita disciplina e organização), mas o que pode ser visto em Os 7 Suspeitos é uma convergência de elementos totalmente diferentes que se fundem positivamente de maneiras muito surpreendentes.
Jonathan Lynn assume a cadeira de diretor nessa mistura inusitada de tensão e risos com consequências inimagináveis. O nível do trabalho dele é surreal quando comparado a outros filmes com temáticas parecidas: o timing cômico é apurado, a condução das cenas é muito precisa (quase milimétrica, para ser bem honesto) e a maneira como ele decide apresentar os fatos é de uma criatividade sem igual.
O roteiro que vai sendo desenvolvido de forma orgânica e cada vez mais instigante é capaz de jogar o público dentro de uma trama que consegue alternar com facilidade entre uma atmosfera mórbida, mas que ao mesmo tempo arranca risadas genuínas a medida em que tudo vai se complicando (relevando uma narrativa relativamente complexa e difícil de ser acompanhada para o telespectador mais desatento).
Com uma gama de personagens magnificamente estereotipados, o ótimo elenco (as atuações de todos - sem nenhum tipo de exceção - é excelente!) dá vida a grupo de estranhos com características totalmente baseadas em clichês que a princípio não fazem o menor sentido. No entanto, não demora muito para se notar a intenção dos roteiristas em criar personas tão caricatas com o objetivo claro de conseguir o peso ideal entre o suspense e a comédia.
Tão eficiente quanto a direção, o roteiro e o elenco são os quesitos técnicos. Eu fiquei impressionado em como a fotografia desse filme chama à atenção. Não há nenhuma paisagem exuberante (muito pelo contrário, o filme se passa todo dentro da mansão), mas o modo como o local é apresentado (e principalmente explorado a medida em que o suspense se intensifica), as cores que fazem parte dos cenários e como tudo é bem dividido (cômodos fielmente replicados garantindo uma sensação de fidelidade cenográfica com a realidade) carimba uma qualidade difícil de ser vista em produções desse tipo.
Vale muito à pena mencionar também a edição de cenas, porque tudo tem uma precisão tão cirúrgica (evidenciando um cuidado especial na ilha de edição para não estragar nenhuma surpresa reservada para o público) que fica simplesmente impossível descobrir quem é o(a) assassino(a). Neste aspecto, esse é o elemento mais inteligente de todo o filme: fazer o público entrar em uma neblina cheia morbidez (noite adentro recheadas de surpresas desagradáveis) e tratar isso de uma forma legitimamente cômica sem ter que forçar nenhum tipo de argumento.
Creio que a minha única ressalva - não que isso seja um aspecto inteiramente negativo - é com relação ao clímax da trama. Apesar do terceiro ato ser extremamente inteligente e a conclusão dos fatos ser apresentada de forma muito detalhista (inclusive, há uma surpresa muito divertida nas emoções finais... haha!), tudo acontece muito rápido (de uma forma quase frenética, onde há a presença de uma trilha sonora hilária como acompanhamento que serve como um "calmante" enquanto o mistério vai sendo revelado detalhe por detalhe) e é preciso rever tudo com cautela para entender como realmente tudo aconteceu.
Baseado em um jogo mundialmente famoso ("Detetive"), Os 7 Suspeitos é um exemplo clássico - no melhor sentido da palavra - de como se fazer uma adaptação cinematográfica com elementos próprios e inovadores, mas que ainda sim, consegue se manter fiel ao material original.