#FILMOTECA# - "Benzinho" (2018)
Sinopse: Irene é uma devotada mãe de família que precisa lidar com a partida prematura de seu filho mais velho, Fernando, que vai tentar a vida como jogador de handebol na Alemanha.
O cinema brasileiro vem numa pegada constante quando o assunto é qualidade de roteiro. É claro que ainda existem as comédias globais pra lá de desnecessárias, mas em compensação, existem também as novas tentativas de fazer horror, suspense, terror e o bom e velho drama (que na grande maioria das vezes é sempre bem pertinente com algum assunto interessante no centro do jogo). Muito ainda há de se aprender, mas os cineastas aqui do nosso país estão entrando no ritmo e o drama familiar Benzinho ilustra bem esse novo quadro que a cinematografia nacional quer pintar.
A síndrome conhecida como "ninho vazio" (que é basicamente quando os filhos deixam o conforto, a comodidade do lar e o aconchego do pais para ganharem o mundo) é o olho do furacão dessa trama singela (com alguns toques cômicos bem pontuais, conferindo um contrapeso agradável de assistir), mas que ao mesmo tempo tem uma força brutal quando considerada todas as suas entrelinhas tão bem escritas e bem executadas.
Dialogando com o público de uma maneira muito didática através de personagens bem palpáveis (porque é fácil se correlacionar com alguns deles depois de pouco tempo de projeção... algo demonstra o ótimo trato dos roteiristas na composição e no desenvolvimento dos mesmos, que é gradual e cada vez mais envolvente), o roteiro inicialmente parece não ter o gás necessário para ficar de pé a ponto de segurar os seus 90 minutos (porque o nível é "morno")... No entanto, não demora muito para o filme crescer diante do público de uma maneira mais convincente e mostrar serviço através de um turbilhão de sentimentos.
Há muita humanização na trama, onde até os mínimos detalhes são bem cuidados (leia-se aqui, os ótimos planos sequências em momentos banais que se tornam tão incríveis por terem captadas as suas essências, que por sinal, revelam-se um ótimo aspecto existencial com o qual brinca o roteiro em mais um de seus acertos). Creio que já fazia um bom tempo em que eu não assistia a um filme brasileiro com um roteiro dramático tão bem posto, sem exageros inúteis e situações forçadas para criar um clima de tensão que não existe.
Uma redoma familiar vai sendo quebrada pela iminente ausência de um membro importante da família da protagonista, e a partir dai, vários questionamentos vão surgindo (e com ele, desencadeiam-se uma quantidade de reflexões difícil de se imaginar).
Entrelaçado a essa questão, estão abordagens socioeconômicas que são predominantes na maioria do nosso país. Algo que é muito válido (além de atual), onde prevalece a ideia de fazer esse aspecto entrar como subtexto na trama afim de mostrar as transformações a qual a classe mais desfavorecida de um país com um sistema sócio-político-econômico tão complicado quanto o Brasil vem sofrendo ao longo dos anos.
Um show à parte é a performance dos atores. Liderado por Karine Teles (que obviamente merece o destaque, já que aqui entrega muito provavelmente a melhor atuação de sua carreira até então), é notória a entrega do elenco. Tudo converge para o mesmo ponto comum, onde há uma sinergia entre eles que serve como o fio condutor da personificação sólida de cada personagem.
O clima intimista está presente durante toda a projeção e esse aspecto merece um destaque especial pela sensibilidade do diretor Gustavo Pizzi traduziu a linguagem do ótimo roteiro através de situações e gestos simples, mas que de tão bem estudados e trabalhados, revelam-se momentos épicos ao longo de um drama que só tende a crescer a medida em que mais conflitos vão surgindo.
Benzinho é um filme comovente. Em poucas palavras, pode ser descrito como um filme de amor: o amor incondicional de uma mãe pelo filho, o amor necessário para manter uma família unida, o amor na descoberta de que há felicidade em ver a felicidade no outro... Enfim, o amor que existe no ato da independência, de ser quem você precisa ser onde quer que você esteja.