Relato 1) Céu de Maria - Primeiro trabalho com Santo Daime - (22/04/2017)

Trabalho parte sentado, parte bailado.

O meu enteado ia regularmente tomar o daime no Céu de Maria, que é da doutrina do Santo Daime, mas ainda não havia feito disto uma responsabilidade. A minha esposa já tinha ido com ele uma ou duas vezes, antes de eu conhecê-la.

Eu já havia ouvido falar sobre o Santo Daime em algum especial de tv, mas não me chamou a atenção.

Eu e a esposa havíamos seguido alguns preceitos recomendados, antes de consagrar esta bebida: 3 dias sem comer carne, sem bebidas alcóolicas e sem relações sexuais.

Neste dia fomos os três. O início do trabalho estava marcado para 22:00

Fui sem medo nem expectativas, aberto ao que viesse. O Céu de Maria é em Osasco. Fomos de uber da Lapa até uma estradinha e após uns 30 minutos de caminhada estávamos no local.

Assim que cheguei, senti uma coisa boa, muita paz e proteção. Se estivesse mais presente poderia ter aproveitado mais este momento único.

Como era a minha primeira vez, foi preciso preencher a ficha de anamnese e participar de uma reunião com outras pessoas que também estavam indo pela primeira vez. Uma irmã mais experiente nos falava sobre o daime, a força e um pouco sobre a doutrina..

O meu enteado nos levou para dar uma volta, conhecer o local. Aliás, uma bela e enorme propriedade, no meio da mata nativa:

– Na entrada vi algumas casinhas pequeninas com vela acesa em pontos estratégicos, que devem ser pontos de luz, proteção.

– O Cruzeiro, com uma casinha com vela abaixo dele. O cruzeiro do Santo Daime usa a cruz de caravaca, onde a trave inferior significa entre outras coisas, fé em dobro.

– A maioria dos homens e mulheres usavam uma mesma roupa, que depois soube ser a farda deles. O fardamento no Santo Daime é o compromisso com a doutrina.

– A igreja é alta e estava lindamente enfeitada. No meio dela há uma mesa em forma de estrela de cinco pontas com velas e algumas imagens de santos e fotos do mestre Irineu e do padrinho Sebastião, que são a referência doutrinária, com seus hinos e ensinamentos.

O trabalho seria em duas partes: a primeira sentado e a segunda bailado. O meu enteado me deu mais algumas orientações, ficamos por ali, conhecendo o local, até que o terceiro sino tocou: hora de começar o trabalho.

Já dentro da igreja, eu, a esposa e o meu enteado ficamos separados, pois na doutrina do Santo Daime os homens ficam separados das mulheres. Os gêneros também são separados por tipo: jovens, pessoas mais velhas, fardados. Os grupos ficam em frente um ao outro, separados pela mesa da estrela.

Começou o trabalho.

Todos ficamos em pé e rezamos em voz alta 3 Pai Nosso ( diferenciado ) e 3 Ave Maria.

Depois, fila por fila os fiscais iam chamando para tomar o daime, que era servido em um balcão anexo a uma sala pequena onde ficava o irmão que despacha o daime.

O daime foi servido em um copo pequeno de vidro. Tomei de uma vez. Parece um café forte, amargo e com gosto de terra. Nunca tinha provado nada assim.

Nos trabalhos com daime são servidos geralmente 3 doses. Os fiscais chamam quando é a momento, fila por fila. A primeira dose é obrigatória ( não se pode ficar no trabalho e não tomar ao menos a primeira dose ) as demais são opcionais (não fui nas demais vezes pois ainda era a minha primeira vez).

Após tomar o daime, todos voltam para sua cadeira e sentam-se. Recomenda-se fazer o trabalho de olhos fechados, pois é um trabalho totalmente interior.

O Santo Daime é uma doutrina musical. Os hinários é quem trazem o estudo e tem a função de conduzir o trabalho. Uns 5 músicos em volta da mesa da estrela iniciaram as notas do primeiro hino, cantado inicialmente pelas puxadoras ( mulheres ) e depois todos cantavam junto.

Eu estava com o hinário em pdf no celular e cantei junto, embora baixinho.

Hinos maravilhosos. A cada hino meu ser se elevava mais. Alguns hinos foram cantados em pé.

Uns 40 minutos depois comecei a sentir a força, como eles chamam quando o daime começa a fazer efeito.

Muitos vomitam, tem diarréia. Segundo a doutrina isto é a limpeza da alma que sai pelo corpo ( vaidade, orgulho, mágoa, perdão etc), pois não é possível chegar no divino com estes pesos. Eu só soltei muitos gases. Muitos mesmo ( ainda bem que eu tinha ido no banheiro antes de sair de casa, rs )

Após uns 10 hinos, todo o meu lado esquerdo começou a perder a sensibilidade. Perder mesmo. Eu não sentia o lado esquerdo. Não fiquei com medo, nem tentava mexer algum membro, pois algo em mim me tranquilizava e dizia que tudo ia ficar bem.

Senti também que meu corpo não tinha mais peso. Eu não sentia nem a bunda nem as costas na cadeira.

Sentia muita paz e amor. Um amor divino, que não julga, que perdoa, que aceita. Me senti plenamente amado e compreendido. Como se fosse um êxtase divino.

Após umas 2 horas de trabalho foi feita uma pausa para que a igreja pudesse ser preparada para o bailado. Todos saíram da igreja e quando voltamos não tinha mais cadeiras. Foi aí que vi um monte de quadrados desenhados no chão, em curva e em volta da mesa da estrela, por todo o salão.

O fiscal me posicionou em um quadrado e começaram os hinos. Imitei os demais dando dois passos para cada lado, colocando o pé a frente primeiro e virando um pouco o corpo. Tanto os homens como as mulheres bailam no mesmo sentido, mas olhando de frente, parece que elas vão para um lado e nós para o outro, se entrelaçando , com a estrela no meio.

Tem muito poder alí.

Foram mais 6 horas bailando e cantando os hinos. O trabalho terminou por volta das 05:00, após rezarmos mais 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria. Este bailado é muito gostoso de se fazer.

Saí de lá sentindo um amor inexplicável por tudo e por todos e que aquilo tinha um potencial enorme para me levar adiante na ascensão espiritual e que de alguma forma este conhecimento estava esperando eu ficar pronto.

Lá mesmo tem um espaço para comprar algo para comer. Bem gostoso, muita coisa natural.

Achei que ia ficar cansado no outro dia, mas não. Só leveza, amor por tudo e por todos, gratidão, alegria.

Durante toda a semana seguinte continuei neste êxtase divino.

Em resumo, gostei muito da experiência com o Santo Daime. Quero repetir.

Autor: Valdemir Nunes da Silva
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