A Idade Média ou Idade das Trevas?

É muito comum ouvirmos falar da "Idade Média" em discursos sobre progresso versus retrocesso. Mas será que a Idade Média se resume a isso? São apenas MIL ANOS de retrocesso? Ou seria a famosa Idade das Trevas, período de atraso, de violência, de bárbaros entre tantas outras (des)qualidades. E ainda temos o aspecto mais comum atribuído à Idade Média: A perseguição às mulheres pela Santa Inquisição. Gostaria de alertar que eu não sou nenhuma daquelas românticos saudosistas, que só buscam olhar para as maravilhas de uma época. Mas tampouco podemos acreditar que qualquer período que seja na história da humanidade seja completamente bom ou ruim, muito pelo contrário. Ainda que nesse post não entrarei nesse assunto, já deixo um spoiler de posts futuros: aos que ainda não sabem, as bruxas foram perseguidas e queimadas durante a Idade Moderna e Iluminismos.

#MulheresMedievais #ChristinedePizan #EstudosMedievaisnoBrasil #HistoriaMedieval

Quem foi Christine de Pizan?

Como a imagem e o título acima já entregam, vamos abordar a escrita das mulheres. Principalmente sobre uma mulher, Christine de Pizan. O nascimento de Christine ocorreu ao norte da península itálica, na extraordinária e movimentada cidade italiana de Veneza, por volta de 1364, o que é possível relacionar com sua valorização de escritos italianos, com uma memória de origem troiana e sua forma republicana de governo. Tommaso di Benvenuto da Pizzano, pai de Christine, era natural de Bolonha . Realizou seus estudos em medicina e astronomia/astrologia na Universidade de Bolonha, onde assumiu a posição de professor em 1344. Aos médicos era esperado que dominassem, em particular, a arte da retórica, a fim de persuadir seus pacientes a se submeterem aos tratamentos prescritos. Lógica e filosofia natural também foram consideradas preparações necessárias para o estudo da medicina.
Em 1357 Tommaso da Pizzano mudou-se para Veneza a pedido de seu amigo dos tempos da universidade Tommaso Mondino da Forlì. Pouco tempo depois acabou por casar-se com a filha de Mondino da Forlì, dessa união nasceu a veneziana Christine de Pizan. Em seus textos, Christine, menciona seu pai e avô como “conselheiros assalariados” da Republica Veneziana. No período em que Tommaso da Pizzano viveu em Veneza teve a oportunidade de se familiarizar com Philippe de Mézières, um francês que era o chanceler de Pedro I, rei de Ciro. Após o assassinato do rei em 1369, Philippe retornou a Paris para a corte de Charles V, onde ele e a família de Christine se encontrariam novamente.
Charity Cannon Willard, uma pesquisadora e reconhecida biógrafa de Christine, afirma que “os monarcas queriam astrólogos em seus tribunais como conselheiros, um precedente estabelecido no século XIII por Frederico II de Hohenstaufen e Alfonso o Sábio da Espanha.” Dessa forma, o pai de Christine é convidado pelo Charles V (1338 - 1380), também conhecido como “o sábio”, para se tornar conselheiro do rei para assuntos de astrologia e medicina. Inicialmente Tommaso vai sozinho a Paris, com a intenção de ficar um ou dois anos. Contudo depois de cerca de um ano estava convencido de mudar-se com sua família para a França. Assim, em dezembro de 1368, quando Christine tinha aproximadamente quatro anos de idade acompanhou seu pai, antes Tommaso di Benvenuto da Pizzano, a partir de então chamado de Thomas de Pizan, e sua família foram recepcionados pelo monarca francês Charles V no palácio do Louvre. Foi durante o século XVI, com a prensa, que deram à família de Christine uma falsa conexão com a cidade de Pisa e começaram a escrever incorretamente o nome da família usando a letra s. Por isso que encontramos as variações entre Pizan e Pisan em diversas publicações e cópias dos manuscritos . O rei Charles V foi generoso com família de Christine. Além de garantir à Thomas generoso pagamento de honorários, o rei lhe concede propriedades, como Orsonville na região da floresta de Fontainebleau, e Château de Mémorant. No final do livro Les fais et bonnes meurs du sage roy Charles V (1404), Christine de Pizan, evidenciando sua presença autoral no texto, demostra certa familiaridade com o rei sábio:

Embora eu tenha recebido uma nobre imposição para realizar este trabalho, como já disse, foi agradável a mim, e por muitas razões, relacionar a vida de um príncipe tão perfeito quanto o bom rei Charles. Eu tinha duas razões principais, primeiro por suas virtudes, depois por seus benefícios para mim, e com isso eu me encontrei comprometida; porque eu estava com meus pais, nutridos pelo seu pão na minha infância e juventude.
Christine de Pizan

Continua...

Hoje ficamos por aqui... Mas essa história ainda continua, espero que tenham gostado.