#BIBLIOTECA# - "Foreign Body" | "Corpo Estranho" (2008)
O horror médico é um subgênero do horror literário que foi batizado pelo escritor Robin Cook. Ele foi o precursor das ideias envolvendo tramas com teores macabros envolvendo o mundo da medicina e seus possíveis desdobramentos (que sempre são responsáveis por misturar suspense, drama e muitas reviravoltas ao longo do caminho).
Em Corpo Estranho ele nos apresenta a jovem Jennifer Hernandez, uma estudante de medicina que tem a sua inesperadamente modificada ao saber - através de um noticiário - que ela perdera a avó em um hospital em Nova Delhi, na Índia. Sem ter conhecimento da situação, Jennifer acaba descobrindo que a avó havia viajado para o local em busca da chamada medicina do terceiro mundo (onde os procedimentos cirúrgicos são muito mais baratos do que os normais) para se ver livre de um problema de saúde.
Determinada a descobrir o que houve, Jennifer viaja para a Índia e logo se vê em um espiral de mortes misteriosas que parecem estar conectadas com uma grande conspiração que tem o objetivo de desmoralizar o turismo médico - cada vez mais crescente - no país.
As questões mais pertinentes (e urgentes) que Cook trás com esse livro estão intrinsicamente ligadas com as motivações que levam as pessoas a recorrerem a métodos "alternativos" de lutar contra certas enfermidades. Não há dúvidas de que existe uma crítica ferrenha a esse "submundo" dos tratamentos alternativos existentes medicina e as complicações que estão atreladas as suas práticas deliberadas.
Os dilemas são os mais diversos, partindo daquela velha questão do "custo x benefício" até a desconfiança acerca das qualidades estruturais dos hospitais (inclui-se aqui, por exemplo, a questão da funcionalidade dos equipamentos) e as qualificações dos médicos que prometem milagres que a medicina como um todo ainda não tem sequer o conhecimento.
O livro vai descascando essas camadas que mostram um sistema médico defasado, mas que ironicamente parece estar ganhando cada vez mais adeptos. É uma balança que não faz sentido, mas que parece ganhar à força necessária para continuar sendo perpetuada, criando assim, um embate entre os dilemas morais e sociais (não apenas dentro da mente dos personagens, mas também nas dos leitores).
Um fato interessante é que desde o início os leitores sabem quem são os vilões aqui, e com isso, cria-se uma instigação maior em acompanhar o desenrolar da trama (que por sinal, é muito fluída e dinâmica... procurando não perder tempo com elementos que possam arrastá-la e tornar o livro em uma experiência entediante).
O suspense é gradual e sempre presente (e os personagens devidamente bem construídos corroboram para arredondar a qualidade da história), fazendo com que o leitor fique cada vez mais motivado em procurar mais pistas e assim, tentar desvendar o mistério (que aliás, tem um ótimo terceiro ato e uma conclusão bem interessante) por trás desse espiral de mortes que aparentemente não tem conexão alguma entre elas (mas que tem muito mais em comum do que o leitor pode inicialmente pressupor).
O poder desse livro com relação a esse tipo de medicina clandestina é tanto, que o autor consegue plantar um questionamento recorrente na mente do leitor: "Quando eu precisar, eu vou sempre prestar bastante atenção aos médicos que eu vou procurar me consultar."... Pode parecer algo simples, mas se a cada nova ida ao médico você pensar em algo parecido, é sinal que o livro pegou você pelo braço e não te largou mais, haha (ou seja, é uma leitura ótima)!