Sonda New Horizons: boas novas!

A imagem acima é um mosaico que mostra Plutão como nunca antes visto. O registro foi feito em 13 de julho de 2015 quando a sonda News Horizons da NASA ainda se aproximava do planeta anão.

Não demorou para surgirem piadas e memes porque a grande mancha clara que vemos na superfície do planeta anão lembra a silhueta do Pluto, personagem da Disney. Mas Plutão, em inglês, também é Pluto. Confiram abaixo, o meme "Pluto on Pluto".

Pluto on Pluto Fonte da imagem

A News Horizon nos revelou a verdadeira face de Plutão. Antes, o pequeno astro não era muito mais do que uma bolinha distante. Em 1996 era um mero aglomerado de pixels. Em 2005 já era possível distinguir Plutão de Caronte, a maior de suas três luas. Mas os dois ainda eram somente bolinhas distantes e geladas. Mas a News Horizons passou tirando tinta do planeta anão e nos revelou com riqueza de detalhes a complexa superfície do astro. Confira abaixo a evolução temporal dos registros fotográficos de Plutão.

Plutão como visto por nós ao longo do tempo Fonte da imagem

A foto abaixo é sensacional! Ela mostra Plutão e Caronte ao fundo, num único clique, quase como numa foto de família. Mas agora os membros da família distante tem suas faces reveladas!

Plutão e sua lua Caronte Crédito da imagem: NASA/NEW HORIZONS

Depois que a sonda passou por Plutão, continuou fotografando-o. Só que agora o Sol havia ficado para trás, retroiluminando o astro. A imagem abaixo, de 25 de julho de 2015, mostra o que foi possível registrar a partir de então.

Plutão retroiluminado pelo Sol Crédito da imagem: NASA/NEW HORIZONS

Deu para entender como foi feita a imagem acima? Na ilustração abaixo mostro exatamente o que aconteceu. Antes a sonda "via" de frente a face iluminada de Plutão. Mas, ao passar por ele, passou a "ver" a sua face não iluminada pela luz da nossa estrela.

A New Horizons antes e depois de passar por Plutão, deixando o Sol para trás

Mas, se você está pensando que "coisa sem graça fotografar Plutão como uma bola preta iluminada por trás", saiba que a bordo da sonda vão, além de câmeras, outros instrumentos científicos¹. E com eles foi possível, por exemplo, nesta tomada com a atmosfera retroiluminada, fazer espectroscopia para saber a composição química dos gases que envolvem Plutão. Pura esperteza científica num projeto meticulosamente desenhado passo a passo para cumprir inúmeros experimentos pré-programados que muniram os cientistas de dados para serem estudados ainda por muito tempo. Resultado disso? Conhecimento científico original!

E você deve estar se perguntando "e agora, depois de passar por Plutão, o que vai acontecer com a sonda? Para onde ela vai?" Já que a sonda ganhou bastante energia para viajar tão longe e tão velozmente, seria desperdício deixá-la simplesmente vagando pelo fundão do Sistema Solar. Os cientistas que não dormem no ponto pensaram "por que não mandar a nave propositalmente para estudar os confins do Sistema Solar?". E foi exatamente o que fizeram. Depois da espetacular visita a Plutão, a sonda tem uma segunda mas não menos importante missão: afastar-se bastante do Sol para estudar o Cinturão de Kuiper², uma faixa de objetos menores orbitam o Sol para lém do planeta Netuno e, por isso mesmo, que os astrônomos chamam de objetos transnetunianos. Em especial, a sonda tem um alvo ainda mais específico no Cinturão de Kuiper: o objeto 2014 MU69 provisoriamente apelidado de Ultima Thule.

Para preservar os instrumentos da nave, todo o seu sistema entrou em hibernação desde 21 de dezembro de 2017. Mas continuou rasgando o espaço para longe do Sol. A boa nova é que NASA acaba de divulgar que a New Horizons, como previsto, acordou do processo de hibernação às 3h12min (horário de Brasília) no último dia 5 de junho. Como a NASA sabe disso? A nave mandou sinais para a Terra avisando que está tudo correndo bem. E ficou aguardando instruções do centro de controle.

A partir de agora os cientistas vão coletar dados de navegação da nave para saber com precisão se ela está cumprindo a rota correta. E vão começar um processo de ajuste desta rota para o perfeito sobrevoo em Ultima Thule. Em agosto de 2018 a sonda começará a observar ainda de longe o Ultima Thule.

Assim como aconteceu com Plutão, através do site oficial da missão, podemos todos pegar carona com a News Horizons para espiar em tempo real os lugares mais distantes do Sistema Solar nunca antes vistos por nenhum ser humano. Tenho certeza de que vai ser sensacional! Eu não vou perder essa carona? Você vai? Fica sossegado. Aqui pelo Física na Veia! vou avisando a cada novidade da New Horizons. Combinado?

Abraço astronômico do prof. Dulcidio! E Física na veia!

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¹ Os instrumentos que seguem junto com a nave são: Ralph - Visible and infrared imager/spectrometer; Alice - Ultraviolet imaging spectrometer; REX - Radio Science EXperiment Measures atmospheric composition and temperature; LORRI - Long Range Reconnaissance Imager) telescopic camera; SWAP - Solar Wind Around Pluto - Solar wind and plasma spectrometer; PEPSSI - Pluto Energetic Particle Spectrometer Science Investigation; SDC - Student Dust Counter. Saiba mais sobre eles aqui

² O Cinturão de Kuiper (pronuncia-se 'Kaiper'), cuja existência foi sugerida em 1951 pelo astrônomo Gerard Kuiper (1905-1973), é uma região do sistema solar que se estende desde a órbita de Netuno (a 30 UA do Sol) até 50 UA do Sol (1 UA = 149,6 milhões de km, a UA - Unidade Astronômica, equivale à distância média Sol-Terra).