#FILMOTECA# - "Eu Te Matarei, Querida." | "My Cousin Rachel" (1952)

Fonte: Divulgação (Amazon)

Sinose: Philip suspeita de que Rachel seja a responsável pela morte de seu primo. O motivo da viúva seria a valiosa herança da família. Mas, Rachel usa seu poder de sedução para atrair Philip que logo se apaixona por ela.

A dúvida que paira na mente de milhões de leitores que já leram o livro "Dom Casmurro" é: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Em "Eu Te Mararei, Querida", vale o mesmo princípio da dúvida (só que agora não através de ares literários, mas sim, ares cinematográficos) a respeito da prima Rachel, sobre os atos misteriosos dos quais ela é acusada pelo primo Philip.

Fonte: Divulgação (Silver Screen Modes)

O desempenho do elenco encabeçado por Olivia de Havilland e Richard Burton consegue fazer com que os telespectadores nunca cheguem em um consenso sobre os atos comprobatórios de culpa que cercam Rachel, fazendo com que Philip seja vítima de suas próprias vontades (ao tornar-se submisso as ordens da prima... tudo em nome do amor que ele sentira por ela). Essa "confusão" toda a respeito do dilema "inocência vs. culpa" se deve a cumplicidade em tela de Havilland e Burton, que entregam performances de alto nível obrigando os telespectadores a se dividirem em dois lados bem distintos (assim como acontece com os leitores de "Dom Casmurro").

Fonte: Divulgação (Pinterest)

Com um roteiro poderoso em suas mãos (cheio de nuances relacionadas aos perfis dos personagens... algo não apenas restrito aos protagonistas, mas também aos coadjuvantes), o diretor Henry Koster consegue criar um clima de tensão e dúvida muito eficiente, que a todo momento ronda a mente dos telespectadores propagando a ideia de que eles nunca saberão - de fato - os verdadeiros segredos / motivações de Rachel. Não seria nenhum exagero dizer que Koster tenta brincar com as percepções dos telespectadores durante todo o filme (sem de fato lhes entregar nada de concreto).

Fonte: Divulgação (TCM)

Sendo esse o principal trunfo do filme, é realmente como ele termina: nenhum dos lados dos telespectadores pode afirmar o que realmente aconteceu... A dúvida continua pairando. Mesmo que o terceiro ato do filme seja extremamente apressado (por sinal, essa é a minha única ressalva... porque o final poderia realmente ser melhor desenvolvido), ele consegue atingir um limiar muito instigante, porque como nada é completamente resolvido... As interpretações ficam a margem do quão criativa a mente dos telespectadores pode ser.

O clima relativamente gótico presente em toda a trama (algo que deve ser creditado ao ótimo trabalho de fotografia e principalmente a direção de arte), com cores limitadas e sempre escuras, além cenários relativamente mórbidos (seja pela própria cor que reforça ainda mais essa ideia, ou pela sua arquitetura bem específica) é a cereja do bolo neste filme que mergulha em um enredo de interesses que ainda são extremamente pertinentes para os dias atuais.

Fonte: Divulgação (The Film Experience)

Desconsiderando esse péssimo título nacional... Eu Te Matarei, Querida vale muito à pena para quem está à procura de um filme mentalmente desafiador e de ótima qualidade.

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