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in #photography7 years ago

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Amanhecer em frente ao Ilhéu de Jaco (i)

CANÇÃO DE MADRUGAR

De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei

Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado um dia
Teu corpo há-de acender
Numa fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri e dei
Dei do meu corpo chicote de força
Rasei meus olhos com mágoa
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas, alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer
Então:

Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem terras,
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem terras, nem ferros, nem farpas, nem farsas
Nem MAL

José Carlos Ary dos Santos, 1937-1984
Poeta e declamador português.

Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos era um homem irreverente, controverso e com uma personalidade fortíssima. Nos anos 60 opõe-se ao regime totalitário que governava o país, participando activamente nas sessões de poesia “Canto Livre Perseguido”.

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Amanhecer em frente ao Ilhéu de Jaco (ii)

Anos mais tarde, após a morte de Ary dos Santos" Susana Félix reinterpretou a "Canção de Madrugar".

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Amanhecer em frente ao Ilhéu de Jaco (iii)

Muito obrigada pela visita. Voltem sempre.

Bons sonhos!!!

Fotografias @ginga

Sort:  

Nice post my friend i am @djnoel i do mixes of house music,deep house and afro house regards ;)

Olá! Uma linguagem familiar =) Sou do Brasil. Tenho muito interesse pela cultura portuguesa mas ainda não pude me aprofundar. Li recentemente A máquina de fazer espanhóis do escritor Valter Hugo Mãe. Creio que ele não é natural de Portugal mas escreve apaixonadamente como um português. Já leu algo?

Caro @thomashblum, efectivamente, ainda não li esse livro do Valter Hugo Mãe. Ele nasceu em Angola (Saurimo) em 1971 ainda Angola era uma colónia portuguesa. Valter Hugo Mãe é Português. Abraço.

É lindo o teu post. É linda a poesia portuguesa. É linda a música portuguesa. Muitos beijinhos minha querida!

Obrigada, minha amiga. É sempre bom divulgarmos a música e a poesia da "nossa terra". Beijinhos

Isso mesmo, a música, a poesia e tudo de maravilhoso que Portugal tem!

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