[BLOG] Liberdade Negativamente Positiva: Liberais e Comunitaristas

Liberdade Negativamente Positiva: Liberais e Comunitaristas

Lá na faculdade, especialmente nas aulas de filosofia do Direito, a professora costumava dividir as linhas de pensamento jurídico como derivadas ou da tradição das ideias de Kant, os liberais, e os derivados do pensamento de Hegel, os comunitaristas.

Era muito comum ela nos contar que os liberais seguem uma linha de pensamento onde a definição de liberdade e a forma como a concretizamos é "negativa" e que os comunitaristas, por outro lado, seguiam a linha da liberdade "positiva".

Para quem não sabe, a liberdade negativa é aquela na qual você age dentro um determinado limite, limite esse que faz "fronteira" com o limite das outras pessoas, nenhuma interfere na esfera privada alheia, ninguém burla a liberdade dos outros, todos agem dentro do seu espaço, sem interferência externa. Você se mantém livre, portanto, enquanto ninguém interferir no seu espaço.

Você pode perguntar então: Porque os outros não tiram minha liberdade e de fato respeitam meu espaço? Porque na moral kantiana você trata a outra pessoa como um fim nela mesma, você a respeita porque o respeito é uma ação moral universalmente válida, tanto do seu ponto de vista como de qualquer outra pessoa. Age de modo que suas ações possam ser tomadas como princípios morais válidos para todos. Uma sociedade bem educada pode tomar para si esses princípios básicos da convivência humana e absorvê-los como uma linha de conduta a ser seguida, e novamente, sem precisar de interferência externa que as obrigue a fazê-lo.

A liberdade positiva dos comunitaristas parte do princípio que para você ser livre deve haver uma ação, não se trata mais de agir sem interferência externa, mas sim de você agindo para ser e manter-se livre. É diferente dos liberais na medida em que naquele você "fica parado" e neste você "se move" para atingir seu resultado, ser livre.

Na dialética de Hegel, todo o status quo possuí uma oposição, e quando estas duas forças se confrontam temos como resultado final uma síntese, que é uma "misturada das duas com um toque de coisa nova". Uma vez eu li um texto que questionava essa ideia e se perguntava até onde isso era visível no mundo contemporâneo, o texto argumentava que hoje a sociedade é complexa demais para dividirmos toda ela em duas frentes, como uma dicotomia.

Embora essas duas visões de liberdade pareçam muito diferentes entre si, e muitas pessoas escolham uma das duas para usar de lentes e interpretar o mundo através dela, a realidade é que ambas se aplicam, de forma complementar, no mundo real. Sim, para análises teóricas e construção de pensamentos dentro do universo da filosofia, é perfeitamente tranquilo adotar uma e prosseguir daí, mas se quisermos produzir um resultado prático e que de fato seja aplicável ao mundo real, para a construção e desenvolvimento de um modelo sólido de gestões e organizações sociais, devemos compreender que a ressignificação de ambas as teorias e a união delas em um único modelo de aplicação prática é essencial.

Eu vou agir tanto de forma a manter minha liberdade individual como também respeitando o espaço alheio, vou garantir que minha liberdade seja mantida intacta tanto aplicando os princípios morais de repeito e bloqueando interferências externas como também irei agir em prol das liberdades das outras pessoas, porque embora o individualismo seja um elemento importantíssimo do progresso econômico, devemos também ter uma consciência de comunidade (já que ninguém produz sua lasanha e seu Netflix sozinho no quintal de casa), pois com uma comunidade forte de indivíduos livres, como eu exemplifico melhor em outros posts (Post 1, Post 2, Post 3), haverá um progresso e uma estabilidade garantidas.