Por mais historiadoras/es e medievalistas no Steemit!

in #pt6 years ago (edited)

hiking (1).png Imagem: Pixarbay.com

Vamos abrir uma nova porta?

Prometi no último post que falaria em breve sobre o falso conceito de Idade das Trevas atribuído a Idade Média, certo? Pois bem, se estiver ok, abrirei esta porta hoje, retornando em breve às mulheres escritoras. Nesses últimos anos, houve uma inundação de memes abordando os retrocessos das relações sócio-políticas no Brasil e no mundo que ironicamente usavam nada mais nada menos que uma ideia de Idade Média tipicamente. A zoeira foi infinita, inclusive eu e Rodolpho, meu colega doutorando do mesmo programa de pós, apresentamos este pequeno vídeo com a colaboração de colegas do curso.

É diante desses estereótipos que os medievalistas brasileiros tem buscado demonstrar, através de intensas pesquisas acadêmicas, como esta ideia de "Idade Média", que consta nos memes, é um conceito que foi propagado pelo Iluminismo e utilizado para legitimar seu argumento principal de iniciar-se um novo período das luzes. Percebo que a Idade Média, como qualquer período da história, deve ser considerada um período de transformações, trocas culturais e desenvolvimento que, nem de longe, justifica os estereótipos que nos chegam até hoje.
No Brasil, os estudos medievais tem ganhado força apenas nas últimas duas décadas, colhendo seus frutos nos últimos anos, com uma safra de excelentes doutores/as nos mais diversos períodos dessa longa Idade Média. Período que por vezes ultrapassa seus atribuídos 1000 anos. Contudo, com a redução do ensino de história na educação básica, ainda menos espaço sobram para os períodos da antiguidade e medievo, resultado de políticas nacionalistas que não visão construir conexões entre as inúmeras continuidades históricas que carregamos em nosso cotidiano que poderiam facilmente serem melhor compreendidas com uma boa base dos períodos mais remotos.
Resultado disso é a manutenção de um ensino de história (desses períodos em questão) positivista enraizado ainda no século XIX, que não dialoga em quase nada com as pesquisas encasteladas em diversas universidades brasileiras. Pesquisas estas que são reconhecidas internacionalmente. (Futuramente posso abordar mais sobre isso se quiserem).
Acredito que a Plataforma do Steemit, através de uma área da história que vem demonstrado forte crescente no Brasil chamada História Pública, tem forte potencial de contribuir para a dispersão desse conhecimento que por anos tem se limitado ao campo acadêmico. Ou como chamamos aos nossos "pares". É com grande alegria que tenho conversado e convidado colegas dos grupos de pesquisa a que pertenço MERIDIANUM - Núcleo Interdisciplinar de Estudos Medievais e do GEFEM - Grupo de Estudos entre Feminino e Masculino na Longa Duração, para que possamos juntos compartilhar mais diferentes reflexões sobre o medievo e a antiguidade para além do que se costuma conhecer.

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Agradeço sua dedicação na leitura e nos encontramos na próxima.

Uma excelente semana.

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Outras Postagem:
Mulheres escreviam na Idade Média? - #1.1 -
Mulheres escreviam na Idade Média? - #1.2 -

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Lembrei de um livro chamado A catedral e o bazar, onde o autor tentava explicar a internet usando ambas analogias pra comparar o mundo centralizado (a catedral) dando lugar a descentralização (o bazar). Na minha visão a catedral não poderia ser um exemplo tão claro assim para descrever a centralização do mundo industrial, pelo que ouvi falar elas eram construídas na idade média de uma forma voluntária, em camadas, e com grupos autônomos de artesãos que inclusive deixavam suas assinaturas em detalhes da obra. Posso estar enganado mas isso tb é parecido com o software livre e o desenvolvimento da internet, inclusive o blockchain atualmente. Valeu! Sucesso e boa sorte mais uma vez!!

Sim! Isso começou com a própria proposta das pequenas igrejas, ainda num processo de cristianização dos territórios pagãos, dos mais diversos. Além do que as próprias igrejas eram de vertentes teológicas diferentes durante os séculos IV ao IV e X em grande parte da Europa. Nestorianismo, Arianismo, Donatismo, Maniqueísmo, Montanismo, Ebionitas entre outras que sobreviveram do cristianismo primitivo, como ainda há que chame. Mesmo depois, ainda teremos diversos grupos que rompiam com a visão que hegemônica. Porque a reforma protestante não surgiu do nada, não é mesmo?
Enfim, mas voltando ao que vc havia mencionado. A ideia de indivíduo como conhecemos hoje ou mesmo a variação que temos durante a modernidade é bem diferente da ideia de sujeito na Idade Média. Um sujeito na Idade média quase que obrigatoriamente precisa fazer parte de uma comunidade, algum grupo. E quanto alguém de um grupo é morto ou tem sua honra manchada de alguma forma, era como se aquele coletivo o fosse.
Portanto, sim. Era muito comum das Igrejas e Catedrais serem construídas com esforço coletivo e comunitário. Mesmo aos que não construíam efetivamente contribuíam de diferentes formas. As catedrais, em especial surgiram a partir de um dos "renascimentos" o do século XII, com uma melhor do clima que contribuiu para décadas seguidas de boas safras e aumentos demográficos por quase toda a Europa. Além disso nesse mesmo período foi quando surgiram as primeiras universidades européias.

Mas vou parar por aqui, caso contrário vou escrever outro post no lugar do comentário. Acho que ficou bem evidente que amo história medieval, né? Obrigado pela leitura e pelos votos de sorte e sucesso!Logo-50.png

Valeu! Particularmente acredito que, além do sistema de construção das igrejas e catedrais, as guildas de artesãos e o modo de produção onde o trabalhador era dono das ferramentas de trabalho (que os marxistas chamariam de posse dos meios de produção) são modelos que podem servir de referência para entender os tempos atuais, a chamada sharing economy e mesmo a economia open source, inclusive o blockchain.

Parabéns, é uma proposta excelente. Tenho bastante interesse na área, apesar de não ser historiador (fiz quase um ano de história só). Sou muito interessado nesse período e volta e meia leio algo.
Mitos mais comuns que poderiam ser trabalhados: Na idade média as pessoas achavam que a terra era plana; na idade média ninguém tomava banho; as pessoas se alimentavam mal; os servos trabalhavam em jornadas exaustivas; o exagero em relação à inquisição; a perseguição às bruxas e também a ideia de que as pessoas viviam pouquíssimo tempo.

Acompanharei suas postagens!
Tenha uma boa jornada no steemit!
Abraço!

Sim! Há muito o que se problematizar ainda sobre a Idade Média. Até mesmo um conceito que parece tão simples e cristalizado como o Feudalismo. Que lamentavelmente por nossa evidente herança historiográfica francesa, há historiadores que ainda afirmam a pasteurização do feudalismo. Quando o que foi considerado para cunhar este conceito, foi uma pequena região do norte da França. Em todo o restante da Europa, há "exceções" a este modelo. Curioso, né? Pretendo aos poucos ir abordando os diferentes tópicos. Até mesmo o conceito de mito para os antigos, que tem relação nenhuma com o nosso conceito de mito=inverdade=mentira. Ao invés disso, eram construções teóricas e socioculturais de pensamento e/ou conhecimento de grupos sociais, ou seja, diferentes paradigmas epistemológicos. Mas isso fica pra um outro momento.

Muito obrigado pela leitura! Aguardo você nas próximas postagens.Logo-50.png

Eu desconheço essa questão do feudalismo. Fiquei interessado!
E certamente havia muita diferença da cosmovisão medieval para a nossa.

Muito interessante e são temas que gosto bastante. Muito bom tem um estudioso trazendo essas diferenças do uso de termos de temporalidade em uma generalização, ignorando as particularidades de cada tempo, que fizeram parte da construção da civilização de hoje. Por diversas vezes, mesmo estudando as generalizações, e sabendo o quanto elas esvaziam o intelecto de anos e anos de conhecimento, me refiro a idade média como um todo.

E essa falta de respeito com o conhecimento faz parte do desconhecimento, pois na minha área passamos batido pela idade média, que não teve uma contribuição tão rica, ou que não foi estudada, em convergência com os estudos atuais. Voltamos muito ao período pré socrático, e com os sofistas. Passamos na idade media somente no advento da psicologia tomista, reinicio do estudo filosófico, base de sustentação conhecimento psicológico, com a Filosofia Medieval. Assim tomismo se converteu na filosofia Eclesiástica, o qual recebeu o nome de Filosofia Perene. Que na direção atual, nao adicionou muito, e nomes como Guilherme Ockam, Roger Bacon trazem uma mudança de perspectica da filosofia da época, que São Tomás de Aquino, já havia iniciado. E com o crecimento do humanismo, lá pelos fins do século XIV, e no século XV, que a consciência realmente começa a se desvencilhar dos grilhões quebra cercavam.

Talvez sem esse período, não fosse possível esse crescimento, e ainda acredito que sabemos pouco sobre essa época. E mesmo sabendo a importância do Tomismo, me refiro a idade média como um todo, quando me refiro a brutalidade das leis sociais e pensamentos operantes na época. Valeu @leodelara!

Então já começarei a me policiar, e aprenderei aqui com essa oportunidade o que realmente nem de perto aprendi na escola, aprendi esse básico na especialização. E com isso irei me referenciar melhor a essa época que como todas, tem muitas perspectivas a serem observadas, e são de estrema importância a nossa construção civilizatória.

Com certeza há muito ainda a se pesquisar. Uma das principais razões para que tenhamos medievalistas latino-americanos (em especial brasileiros) é que nós não somos tão fortemente influenciados pela relação política que o passado quanto os europeus. Lá, por vezes há uma necessidade em construir justificativas culturais e identitárias para pescar os maiores peixes na captação de recursos. Nós, ainda que tenhamos uma hereditariedade, em alguns casos, não estamos tão atrelados. O que provoca diferentes questionamentos. As discussões filosóficas/teológicas são muito ricas e plurais na Idade Média. As vezes me sinto em uma areia movediça. Quanto mais eu pesquiso, mais material eu encontro para mais e mais possíveis estudos. Acredito que você vai gostar muito quando eu abordar Hildegard de Bigen ou Trotula (ou Trotta) de Salerno. Ambas tem relação direta com a medicina medieval.

Agradeço sua leitura e te aguardo nas próximas postagens.Logo-50.png

Muito boa análise, e em complemento justamente na discussão psicanalítica atual, espera-se muito de nós latino americanos, órfãos de dogmas e hereditariedade identificatoria, para uma análise crítica é neutra do conhecimento, eles mesmos querem esse retorno da gente, justamente pelo que trouxe nesse comentário.

Claro, os que buscam o conhecimento, pelo conhecimento e só.

Esses não conheço, Hildegard nao me é estranho, mas estarei aguardando para aprender. E se tiver interface com o conhecimento filosófico, antropológico ou identificatório social época, certamente seria um grande aprendizado.

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