A prostituição na Idade Média de Jacques Rossiaud | #Biblioteca

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Sobre o que se trata este livro?

Pouco se pesquisou, de forma dedicada, aos estudos sobre prostituição no período medieval até meados do século XX. Ainda assim, após as décadas de 1960, a pesquisa nesta área compôs uma corrente de pensamento que atribuía a prostituição às calamidades da baixa Idade Média e a desordem dos costumes. Rossiaud em seu livro, buscou alcançar a difícil tarefa de compreender a amplitude e os significados sociais da prostituição medieval.

A maioria das cidades tinha, um Prostibulum Publicum construído, mantido e dirigido pelas autoridades públicas, principescas ou municipais:

Dijon, Beaune, Mâcon, Villefranche, Bourgen-Bresse, Lyon, Bourg-lès-Valence, Valence, Romans, Viviers, Bagnols, Pont-Saint-Esprit, Orange, Avignon, Beaucaire, Tarascon, Arles, Nîmes, Alês, Uzès, Cavaillon, Pernes, Bédarrides, Sisteron, etc. possuíam a sua maison lupanarde, o seu bon hostel, sua bonne carrière, seu château gaillard, também chamado de maison de la ville, maison commune, maison des fillettes e que a linguagem popular qualificava ordinariamente de “bordel”.

O prostibulum, que frequentemente era construído com gastos compartilhados por todos, isto é, com dinheiro público, era arrendado a uma abbesse ou a um administrador, que teoricamente tinha o monopólio da profissão.

Para se localizar

Rossiaud limitou-se pela rede de cidades do sudeste francês, da Borgonha até Provença, região no entorno do rio Ródano, entre 1440 e 1490. Nesse período a região era pouco afetada por guerras, podendo-se afirmar que estava em relativo equilíbrio econômico. Contudo, destaco que a divisão do mapa abaixo é extremamente contemporânea, ele visa apenas ter uma noção breve de onde localizaria-se no espaço.

mapa

Além dos bordeis, também existiam as casas de tolerância, conhecidos por banhos públicos. Nesses espaços, mesmo com restrições para a prostituição, sua prática era frequente, além de ser um local para alcovitagem. Em diversas cidades, os conselhos decidiam por oficializar a prostituição através da “utilidade pública” ou do “interesse da coisa pública”.

Até o princípio do século XVI as tentativas repressoras são raras, efêmeras e ineficazes. Prostitutas públicas e mulheres secretas infiltravam-se em todos os lugares e se instalavam tanto em bairros luxuosos quanto na periferia.

Antes de pensar em uma visão extremista da Idade Média, ou como tudo controlado pela Igreja ou como um espaço completamente livre da mesma, vamos tentar ver alguns elementos que pode ter provocado essa “fornicação municipalizada" nas cidades medievais. O autor nos traz uma série de evidências quanto à violência sexual. Prática comum entre os homens residentes das cidades, diferente do que se pressupõe. Apenas 25% do casos judicializados tinham por autores ou cúmplices estrangeiros. Do restante dos casos, 85% dos casos eram composto por jovens de 18 a 24 anos. Rossiaud afirma que um jovem cidadão de cada dois participava pelo menos uma vez desses ataques coletivos cujo objetivo era violar uma mulher.

banho públic
Aquarela | por Anthony da Borgonha (1470)

Haviam casos em que a vítima estava caminhando na rua durante a noite, já outros relatos dizem que esses grupos de jovens preparavam o golpe, forçando a porta da cada de uma mulher, com o rosto descoberto a violavam várias vezes. Ou levavam a vítima pelas ruas até uma casa de um dos cúmplices, onde faziam o que quisessem com ela a noite inteira. Era nesse contexto, que os notáveis e as autoridades, que quase nunca puniam esses casos de violação (salvo quando os agressores era estrangeiros), decidiam em reduzir esses episódios criando e incentivando seus filhos a frequentarem os prostíbulos.

Na França medieval, a prostituição não teve uma prática homogênea. Em dezembro de 1254, como nos relata Rossiaud, o rei francês, São Luís, ordena que as mulheres da vida sejam expulsas de seu reino, que seus bens confiscados, inclusive a sua vestimentas. Em 1256, reitera a ordem de perseguir as mulheres, mas acrescenta que convém afastá-las das ruas honestas, dos estabelecimentos religiosos e se possível colocá-las para fora dos muros da cidade.

homens de vermelho
Óleo sobre tela | por Jean-Léon Gérome (1861)

Ainda que toda pesquisa histórica é data, e esta em questão foi publicada há 34 anos atrás, Jacques Rossiaud realiza seus objetivos e nos apresenta um excelente panorama francês na baixa Idade Média. A obra é extremamente tranquila de ler, resultado da dedicação do trabalho de tradução de Cláudia Schilling. A obra está esgotada, mas é possível encontrar exemplares em lojas de sebos, ou mesmo em sebos virtuais. Aqueles que gostam do tema, vale muito a leitura.


Agradeço sua dedicação na leitura.
Te desejo uma excelente semana e volte quando quiser!

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ROSSIAUD, Jacques. A prostituição na Idade Média. Tradução de Cláudia Schilling. Rio de Janeiro: Paz e Terra, [1984] 1991.

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