Filme: The Deer Hunter (1978) De: Michael Cimino

_{Credit: Universal / edited by Kubrickamente}

À semelhança dum dos grandes clássicos da mesma década, ‘The Godfather’ (1972), o primeiro ato de ‘The Deer Hunter’ concentra-se numa festa de casamento. Não obstante a longa duração das cenas relativas à cerimónia, estas permitem espreitar a realidade monótona duma pequena comunidade russo-americana residente no interior dos EUA. Desde os laços de amizade entre as várias personagens, passando pelas dinâmicas sociais que levam uma cidade a celebrar a partida de jovens para a guerra, fruto duma noção enlamaçada do que é o patriotismo, até ao início dum estudo de personagem marcante no que à típica figura do “herói de guerra” diz respeito, todas estas componentes narrativas servem de base para uma melhor compreensão dos horrores que se seguem e das suas consequências psicológicas nas duas personagens principais, interpretadas por Robert De Niro e Christopher Walken. Da solene união matrimonial, somos, então, arremessados para a Guerra do Vietname, com especial foco num sádico "jogo da roleta russa" – uma arma, seis buracos, uma bala - que as duas personagens são obrigadas a jogar numa prisão vietnamita, para entretenimento dos seus captores, que apostam dinheiro no possível resultado de cada disparo – morrer ou viver. Se bem que as técnicas de hoje sejam outras, esta folia forçada, este potencial suicídio por coação, compõe aquela que é uma das melhores cenas de suspense da História do Cinema, conforme vemos De Niro enfrentar o canhão do revólver, num esgar febril de desespero e dor. Apesar de, na altura, muitos jornalistas de guerra terem insistido que não existem registos de tais jogos perversos, o "jogo da roleta russa" pode, e deve, ser encarado como uma metáfora para a guerra em si, para a sensação de impotência face aos conflitos imprevisíveis e bárbaros que assombraram a pugna do Vietname e traumatizaram os milhões de jovens que tiveram a sorte de voltar para casa, para uma sociedade incapaz de colar os estilhaços. Portanto, fugindo do rótulo de filme anti-guerra, ‘The Deer Hunter’ pode ser antes encarado como uma analogia para os efeitos devastadores dum conflito bélico na mente do soldado comum que, na maioria das vezes, tal como a História denuncia, abandona o conforto do seu lar para experimentar, em primeira mão, o maior atestado do primitivismo nesfasto que, ao longo dos anos, nunca se desligou do Homem moderno. A guerra nunca traz nada de bom.