Interação de comunidades em rede e multiculturalismo critico como práxis.

in #creativecoin5 years ago (edited)

A vivência da cultura digital, em suas diferentes plataformas é capaz de nos fazer entrar em contato com diferentes atores culturais, nos envolver nas mais diferentes causas, e trazer proximidade, das mais diversas discussões sobre a vida em sociedade no que diz respeito a esta perspectiva do progresso civilizatório.

Sociedades verdadeiramente plurais, são sociedades cultural e socialmente diversas, e também politicamente democráticas. Embora a diversidade cultural seja, na origem, um dado da realidade que existe independentemente de nossa vontade, o conceito foi se sofisticando nas últimas décadas (GOLDSTEIN, STRUBE, 2018 p22). Para Barros 2008 p19, a diversidade cultural se apresenta como um projeto, uma procura deliberada, um ponto de partida.

Para Bauman (2012) a vida moderna/contemporânea sustentada no consumo, e no individualismo, destruiu o projeto de cultura nacional, e vivemos uma época propicia ao intercâmbio cultural, impulsionado pelas facilidades de transição das informações e dos indivíduos. (PONTES, 2014, p. 428).

Neste contexto vimos o advento e a popularização dos dispositivos digitais, e da internet, o que repercutiu na criação de uma nova cultura, na qual distâncias e tempos se encurtaram na formação de redes e comunidades digitais interessadas nos mais diversos assuntos, e causas. (ZUIN, 2018, p.129)

No âmbito das relações humanas, a internet foi capaz de suprimir o espaço, as distâncias, e as temporalidades, de modo que a ideia de comunidade já não se define mais com base em proximidade geográfica, mas sim por um ponto de encontro virtual. (ZUIN, 2018, p.136)

Facebook, Instagram, Youtube e Twiter, são exemplos de plataformas que suprimiram estes espaços, enquanto os chamados Dapps, aplicações descentralizadas têm o potencial de também permitir que os usuários de suas redes sociais sejam colaborativos.

Para este trabalho utilizarei o exemplo dos Dapps desenvolvidos sobre a blockchain Steem, em concordância com o conceito de cultura como estrutura, “conjunto de regras em constante transformação, práticas que vivem novos processos inventivos e/ou de perdas de significados em função de novos ordenamentos” (PONTES, 2014, p. 427). E como praxis “...que valoriza sua característica de atitude livre e criativa que vá em oposição ao adestramento e controle tecnicista da sociedade moderna” (PONTES, 2014, p. 426). Para refletir sobre questões de como ações estruturais são capazes de promover uma práxis multiculturalista crítica neste tipo de ambiente.

Ambo conceitos expostos por Zygmunt Bauman (2012), com a pretensão de fazer uma discussão sobre as aplicações descentralizadas em vigência no Steem.

Fundada em 2016 por Ned Scott e Dan Larimer (criador do projeto Bitshares), a plataforma Steemit, foi a primeira construída sobre o blockchain Steem, uma rede de mídia social open source direcionada a blogs, focada em conteúdo original e monetizado, sem a necessidade de publicidade ou venda de dados do usuário.

De acordo com esta estrutura, os usuários são encorajados a apoiar uns aos outros de acordo com o conteúdo de real relevância por meio de upvotes, que representam curtidas com valor monetário de acordo com o tamanho de cada wallet individual, mensuradas por meio de seu criptomoeda, o Steem.

Por outro lado, o não uso de algoritmos de busca de conteúdo similar aos que são reagidos pelo individuo, faz com que as pessoas se unam em torno de tags de conteúdo, e formem comunidades de acordo com os pontos de convergência, interesses, e visões de mundo. O valor monetário do upvote, tem grande volatilidade, pelo fato do Steem ser um ativo negociado nas exchanges de cripto ativos, e sujeito a precificação constante do mercado em dólar.

Talvez pelo fator descentralização da blockchain e do open source, os participantes desta comunidade com o passar do tempo desenvolveram novas aplicações, iniciativas sociais e empreendimentos digitais.

Surgiram diversas plataformas de interação social, como Steempeak, Dsound, Dtube, Busy, Dclik, Fundition, 3speak e Dlike. Iniciativas como o Steem Basic Income, TravelFeed, Minnow Suport Project, e o Clean Planet. E empreendimentos, como os jogos Drug Wars, Steem Monsters, e os bots de upvotes. Além de tokens secundários de utilidade, e de comunidades de conteúdo.

Neste tipo de plataforma a desigualdade é aceita, nos quais conteúdos desiguais estão sujeitos recompensas desiguais. O que para Bauman, a indiferença à diferença apresenta-se, em teoria, como uma provação do pluralismo cultural. (ZUIN, 2018, p. 75)

As plataformas de interação social do Steem, por meio de um sistema meritocrático, o usuário que detêm um maior número de criptomoedas (ou tokens), tem a capacidade de apresentar votos (upvotes) mais significativos, e de maior valor econômico, para o conteúdo que mais lhe interessar durante um período de sete dias após a publicação.

Conforme Silva e Bradim:

O multiculturalismo critico levanta a bandeira da pluralidade de identidades culturais, a heterogeneidade como marca de cada grupo e opõe-se á padronização e uniformização definidas pelos grupos dominantes. Celebrar o direito á diferença nas relações sociais como forma de assegurar a convivência pacifica e tolerante entre os indivíduos caracteriza o compromisso com a democracia e a justiça social, em meios às relações de poder em que tais diferenças são construídas. Conceber, enfim, o multiculturalismo numa perspectiva critica e de resistência pode contribuir para desencadear e fortalecer ações articuladas a uma prática social cotidiana em defesa da diversidade cultural, da vida humana, acima de qualquer forma discriminatória, preconceituosa ou excludente. (2008, p.64)

Numa rede descentralizada, quais ações estruturais são capazes de promover um multiculturalismo critico como práxis neste tipo de ambiente? Está é uma pergunta sem resposta pronta, para Bauman a destruição de um projeto cultural nacional, pautada no consumo e no individualismo, faz com que estejamos entregue as consequências das próprias escolhas.

As mídias sociais assumem um papel de espaço publico de participação politica, produção cultural e entretenimento. Enquanto as comunidades em rede tem uma lógica de funcionamento descentralizada em diferentes plataformas, e as culturas periféricas são divulgadas sem intermediários da indústria cultural, conjunto de instituições sociais vinculadas a produção e distribuição de bens simbólicos. (VIGANO, 2019, p.31)

No Steem podemos constatar que as comunidades em rede participante deste ecossistema, também desenvolvem suas plataformas próprias de participação politica, como é o caso das exemplificadas acima, em especial a plataforma 3speak, que com o slogan “Deplatformed content, offensive jokes, citizen journalists and blockchain tech ” é uma plataforma de vídeos destinada aos produtores de conteúdo expulsos do Youtube.

Se todo espaço o de cultura virtual, é também um espaço politico de construção de hegemonia, choque de ideias e de visões de mundo, termino este texto repetindo e ampliando a pergunta. Quais, e como as ações culturais estruturais, e/ou estruturantes, são capazes de promover um multiculturalismo critico, e sustentavel, como práxis neste tipo de ambiente?

Um grande abraço!
Guilherme Faquetti
12 de outubro de 2019!

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Referencias Bibliográficas.

BARROS, José Márcio (Org.). Diversidade cultural: da proteção à promoção. Belo
Horizonte: Autêntica, 2008

BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

GOLDSTEIN, Ilana S.; STRUBE, Christian. Cultura e Desenvolvimento. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2018

PONTES, Matheus Mesquita. Zygmunt Bauman e o conceito de cultura. Opsis, Catalão, v. 14, n. 2, p.425-429, 2014. Disponível em: . Acesso em: 25 set. 2017.

SILVA, Maria José Albuquerque, BRANDIM, Maria Rejane Lima, Multiculturalismo e Educação: em defesa da diversidade cultural. Diversa. Ano1, n

ZUIN, Lidia. Teorias da cultura / Lidia Zuin. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2018. (Série Universitária)

VIGANÓ, Suzana Schmidt . Teorias da Cultura: Pós-Graduação Gestão Cultural- turma 1901. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2019

About Steem. Disponivel em: https://coinmarketcap.com/currencies/steem/ Acesso em 07/04/2019

Steem Apps. Descentrelised apps on Steem. Disponivel em: <https://steemapps.com/ >. Acesso em 07/04/2019

Steem Basic Income. Disponivel em: http://busy.org/@steembasicincome. Acesso em 07/04/2019

3speak. Disponivel em: <https://3speak.online/ >. Acesso em 24/09/2019

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