Fatores determinantes da mudança - Parte 2 - Versão complexa

in #pt6 years ago (edited)

Realidade social: violência, poder e mudança
Fatores determinantes da mudança - Parte 2 - Versão complexa


"A mudança é a única verdade estática e a participação é a chave" - ​​charlie777pt
Introdução

Esta é uma parte muito pesada para se ler, e é mais direcionada à abordagem académica e científica da psicologia social, e é necessário usar o gráfico abaixo para entender essa difícil conceitualização do pensamento complexo que não pode ser simplificada.
A maioria destes escritos, em parte, é baseada em meus próprios pontos de vista, que contêm muita leitura de muitos mestres de teorias sobre esses assuntos, que eu filtrei e sintetizei com minha própria experiência.

1- O que faz a mudança?

"O mundo que criamos é um processo do nosso pensamento. Não pode ser mudado sem mudar nosso pensamento". -Albert Einstein
A mudança social está ligada a padrões de comportamento, valores culturais e normas.

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As pessoas reportam-se a uma escala de Valores Permanentes, baseada nos 3 sujeitos intra-psíquicos, o Cognitivo, o Afetivo e o Social, determinando suas atitudes, que são disposições para padrões de comportamento predeterminados.
Quando expostos a situações de dinâmicas sociais estamos num inter-relacionamento de pessoas, onde elas têm que virtualizar os seus Valores Permanentes (causando tensão e ansiedade), e confrontar esses Valores Virtuais, até que a interação acabe.

Após a interção as pessoas reabsorvem as tendências conflitantes, por voltar á sua escala de Valores Permanentes e restaurar o equilíbrio pela distensão psíquica resultante.
Neste processo de virtualização mútua de valores, aprendemos adaptamo-nos, tornando nossos valores permanentes mais flexíveis, com menos resistência à mudança, mas eles sempre continuaram permanentes, mas não estáticos.

Por exemplo, se formos educados para ser racistas, mas se tivermos que viver em uma aldeia com essas pessoas, ao princípio temos tem preconceitos e estereótipos influenciando a nossa percepção deles, mas depois de algum tempo adaptamo-nos e pela humanização dos outros, e até esquecemos que somos racistas nos nossos valores permanentes, mas no fundo não é verdade, mas reduzimos imenso a ansiedade do confronto, porque os nossos valores permanentes se tornaram totalmente "elásticos".

A maleabilidade do ego de conhecer, analisar e expor nossos valores permanentes na virtualização da comunicação face a face (e interpretar nossos mecanismos de ansiedade) é a chave para a liberdade e uma vida pessoal com o prazer de surfar as ondas de mudança.

"Quando começa a perceber que cada tipo diferente de música, a música individual de cada pessoa, tem seu próprio ritmo, vida, idioma e herança, percebe como a vida muda e aprende a ser mais aberto e adaptável ao que está ao nosso redor. " - Yo-Yo Ma
Arriscaria dizer que a adaptação à modernização da sociedade exigirá um desenvolvimento crescente de nossa inteligência emocional (do sujeito afetivo) pelo contato humano, para expandir nosso sujeito social e ao mesmo tempo ter uma hiper-curiosidade em desenvolver nossas concepções de sujeito cognitivo do mundo.

E nunca devemos esquecer que um a relação asséptica com as telas frias como intermediárias entre as pessoas não é a mesma que a comunicação face-a-face.
As mudanças nas interações e relacionamentos transformam as atitudes e comportamentos das pessoas, grupos e instituições sociais que afetam a cultura e levam à aceitação de novas normas e regras sociais.

"Mude antes que precise." Jack Welch

2 - Uma visão complexa e global


Todos os conjuntos (sociedades) ou subconjuntos (instituições e grupo) sociais impõem-se como "totalidades" que são dinâmicas e com cadeias de transformação e auto-regulação (cibernética)que se fazem especificamente por normas ou regras impostas pelo grupo á dinâmica das relações interindividuais, resultando numa interiorização progressiva das ações por cada indivíduo.

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Este Sistema é uma Gestalt (forma) duma totalidade relacional como um sistema de interações que que modifica desde o princípio os indivíduos e que vai por outro lado explicar as variações do Todo.
Na análise dos processos formadores dos sistemas encontramos uma profunda identidade de natureza (isomorfismo) entre as operações do pensamento individual e as que são inerentes a todo o processo de cooperação social (praxeologia).
O objectivo será estudar as relações interindividuais e da dinâmica do grupo na relação com os mecanismos do conhecimento intraindividual, e por outro lado com as normas e regras sociais que envolvem o campo onde se desenrola a ação.

Kurt Lewin estudou os campos perceptivos e afetivos (uma gestalt que inclui o sujeito e as suas reações) e a dinâmica de conjuntos desses campos, revelam que as oposições ou inibições e barreiras psíquicas, dependem da estrutura de conjunto do campo, e das necessidades mais prementes dos indivíduos.
Cada ação precede de uma necessidade que está ligada ao sistema e que favorece ou desfavorece a sua execução, necessidade esta que está ligada a valores que também dependem do sistema social envolvente.
É importante ter em conta a condição das necessidades e valores em relação ao objeto e não só as formas cognitivas.

A grande dificuldade teórica é caraterizar a vida afetiva em relação ás funções cognitivas e ainda mais precisá-las no funcionamento das condutas.
Lewin e Bruner falam das condutas como um função dum campo total (sujeitos e objetos) segundo a Gestalt, correspondendo a estrutura desse campo ás percepções , atos de inteligência, etc. enquanto a sua dinâmica determina o funcionamento por atribuição de valores positivos ou negativos aos objetos (Atração = + = positiva e barreira, e Repulsão = - = negativa)

Antes de qualquer ato de vontade há sempre duas tendências em conflito, que não são absolutas mas relativas é situação perceptiva do momento.
Qualquer percepção é tanto social e ligada a apreciações afetivas, como puramente cognitiva, e é um produto de sobrestimações e subestimações momentâneas que vão determinar a vontade, como um modelo de operações reversíveis (regulações energéticas opostas) que corrigem as estimativas conduzindo a valores momentâneos para chegar á escala de valores permanentes, criando a modificação do fraco (afetivo) em mais forte.
O ato de vontade é então uma descentração ativa do sujeito em relação á situação presente a fim de permitir um regresso aos valores permanentes da sua escala interna.

O fator de coordenação não inato das ações que se afirma no seu desenrolar funconal é o elemento do equilíbrio, que como auto-regulação cibernética (como a homeostasia orgânica) se baseia nas compensações ativas do sujeito ás modificações exteriores.
Temos de ter em atenção que temos sempre as atitudes se encontram enleadas em necessidades, numa escala de valores permanentes, a que nos reportamos no momento dos conflitos e determinam uma certa predisposição para a ação a que se refere o objecto da atitude, decorrendo daí as respostas implicitadas pela situação do momento.

As atitudes desenvolvem-se de acordos com as necessidades , que decorrem e se estruturam em função da sua inserção social.

"When people shake their heads because we are living in a restless age, ask them how they would like to life in a stationary one, and do without change". -George Bernard Shaw
Aqui termina um post que exigiu um grande esforço de leitura, pelo que agradeço a todos que conseguiram chegar ao fim.

No próximo post iremos falar sobre os caminhos da Mudança

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A Realidade Social: Violência, Poder e Mudança

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Os caminhos da mudança - Parte 2 - Processo de Mudança
A Mudança social

Referências consultadas:

Les concepts fondamentaux de la psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
La psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
A dinâmica social-violência, poder, mudança - Gustave-Nicolas Fischer , Planeta/ISPA, 1980

Gustave-Nicolas Fischer é Professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de psicologia na Universidade de Metz.
Raven, B. H. e ; Rubin, J. Z. (1976). Social psychology: People in groups
French, J. R. P., e ; Raven, B. H. (1959). The bases of social Power. In D. Cartwright (Ed.),Studies in social Power. Ann Arbor, MI: Institute of Social Research
Castel, R. As metamorfoses da questão social. Vozes, 1998.
Moscovici, S. (1976).Social influence and social change. London: Academic Press.
Michel Foucault, Discipline and Punish: The Birth of the Prison
Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes.
Dahl, R.A. (1957). The Concept of Power,
Giddens, Anthony, Capitalism and Modern Social Theory: An Analysis of the Writings of Marx, Durkheim and Max Weber, 1971.
Grabb, Edward G., Theories of Social Inequality: Classical and Contemporary Perspectives,1990.
Weber, Max, Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology, 1968.
Lewin, K. (1948) ‘Action Research and Minority Problems’, in G.W. Lewin (ed.), Researching Social Conflicts , New York: Harper and Row
Parsons, T. (1966). Societies: Evolutionary and comparative perspectives.
Levy, A. (1986) Second-order planned change: Definition and conceptualization, Organisational Dynamics
Watzlawick, P., Weakland, J.H., Fisch, R. (1974) Change: Principles of Problem Formation and Problem Resolution. New York, Norton.

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O que eu acho mais interessante nos teus posts é que a abordagem que você procura utilizar - até para uma versão mais complexa do assunto - é sempre algo agradável de ser lido.

Mais um ótimo post, @charlie777pt.

Muito Obrigado.
Vou sempre tentar ser simples e também complicado, para continuar a passar a mensagem da liberdade pela consciência pessoal e contra todos os poderes instituídos, seja pelo abuso da autoridade ou pela opressão.

E você faz isso muito bem. Os posts sempre são interessantes.

Como você acompanha os meus posts sobre filmes, eu te recomendo esse aqui: https://steemit.com/movie/@wiseagent/filmoteca-lion-or-lion-uma-jornada-para-casa-2016. Se puder, dá uma força.

Obrigado.

all things are your point of view,great.
i like your writting.

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