#FILMOTECA# - "O Doutrinador" (2018)
Sinopse: Um vigilante mascarado surge para atacar a impunidade que permite que políticos e donos de empreiteiras enriqueçam às custas da miséria e do trabalho da população brasileira. A história do homem por trás do disfarce de Doutrinador envolve uma jornada pessoal de vingança na qual um agente traumatizado decide fazer justiça com as próprias mãos.
Creio que esse ano, o cinema brasileiro não tenha conseguido fazer um filme tão relevante e tão gigante quanto este (apesar de ter bons exemplares ao longo de 2018). Em O Doutrinador, a relevância se junta ao gigantismo da temática (e do projeto em si) para - literalmente (embora essa não seja a intenção) - esfregar na cara dos telespectadores que ainda duvidam do potencial nacional de fazer filmes grandiosos, e acima de tudo, de qualidade!
Desde os seus créditos iniciais, os pontos tecnicamente positivos do longa (que é baseado em uma HQ brasileira!) são notórios. Uma produção fora do que pode ser, normalmente, visto nos padrões normais do nosso cinema. O requinte dos cenários, a fotografia que propicia uma atmosfera que mistura densidade e suspense, além de construções e finalizações de cenas que seguem padrões hollywoodianos (mas que em momento algum deixam de incutir muita brasilidade).
Todos os aspectos nessa questão são muito bem planejados e bem executados. Sem dúvidas, é o filme brasileiro mais ambicioso do ano... Algo como há muito tempo não era visto nas telonas (acredito que desde Olga, em 2004). De uma forma ou de outra, isso acaba provando por "A + B" que quando os produtores / estúdios querem investir para fazer um cinema que encha os olhos, eles conseguem sem maiores obstáculos.
O foco da trama presente no filme (que segue a linha "justiça com as próprias mãos") durante todo o seu desenvolvimento é algo que certamente já passou pela mente de milhões de brasileiros: se tornar um justiceiro e "varrer" (talvez de uma forma não tão incisiva, afinal... aqui fala-se sobre execuções/assassinatos) os políticos corruptos do nosso país com o objetivo de tornar o país em um lugar mais justo e igualitário para todos.
Esse é o panorama no qual a importância da narrativa vai ganhando cada vez mais peso. Talvez, a fácil empatia do público para com a história alivie um pouco as situações tão amargas/indigestas que compõem o todo... Mas nem por isso o filme se torna mais leve, aliás, muito pelo contrário, porque as mais diversas problemáticas que são jogadas na tela são motivos mais do que suficientes para ótimos momentos de reflexão.
Gustavo Bonafé está no comando de um melhores filmes de ação (que mistura muito suspense ao longo da projeção) do ano. Apresentando um total controle sobre o seu trabalho, ele se aproveita de toda a qualidade do roteiro (que mergulha fundo em dilemas éticos e pessoais que são a força motora da existência desse filme) e de um elenco muito competente e dedicado (responsável por dar vida a personagens cheios de nuances complexas e desafiadoras, que dialogam muito bem entre si), fazendo com que toda a atmosfera que o filme exala seja algo mais concretizado para o público.
Aliado ao seu trabalho (que tem momentos muito inspirados, principalmente na questão de planos sequências e alguns ângulos de câmera diferenciados... algo mais estilizado, por assim dizer) está também uma trilha sonora que cai como uma luva e um trabalho caprichado de edição de cenas que enriquecem tudo de uma maneira mais instigante e confere um tom mais urgente (e em alguns momentos, até frenético) aos acontecimentos.
O Doutrinador é, em poucas palavras (como poderia ser bem definido), uma verdadeira luta do bem contra o mal, da justiça dos "mortais" contra os mais diferentes mecanismos de corrupção (assim como quem os maneja) de uma maneira mais humanizada, mais eletrizante e mais cheia de simbolismos que estão paralelamente próximos a realidade de milhões de brasileiros.
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