#BIBLIOTECA# - "Die Verwandlung" | "A Metamorfose" (1915)

Tudo o que é novo, tudo o que é diferente do que já existe sofre - quase que de forma automática - uma rejeição em massa. Embora ainda existam os que nadam contra a maré, a grande maioria tende a torcer o nariz para o que se aprensenta de uma forma ainda não conhecida.

A ordem é: se não faz parte do senso comum, é ignorado e / ou escondido. Esse é o principal dilema vivido por Gregor Samsa, um cacheiro viajante que desiste de todos os desenhos e sonhos para ser o único meio de sustento a salvar a sua família da miséria. No entanto, as coisas tem um complicador estranhamente inusitado: Gregor um dia acorda - sem maiores explicações na forma de um inseto grotesto... Uma situação que lhe fará vivenciar emoções nunca antes imaginadas por eles (e por quem está ao seu redor).

Fonte: Divulgação (Atlas of Transformation)

Lançado em 1915 (porém escrito originalmente em 1912 e concluído em apenas 20 dias), esta é a obra mais conhecida de Franz Kafka. Um livro que atingiu um status de referência no trato de uma das psiques mais poderosas e confusas do ser humano.

A história narra de uma forma muito detalhada e bem escrita as angústias sofridas pelo protagonista de uma forma bem crua, justamente com o teor atmosférico que a trama precisa para ganhar o leitor logo em suas primeiras páginas (que não se poupam em jogar a quem estiver lendo o livro dentro de um universo que mistura deliberadamente elementos surreais e inverossímeis com uma realidade seca aliada a um senso de humor tipicamente ácido).

Em sua nova forma, Gregor perde o emprego e é rejeitado pela família. Ninguém entende o que lhe acontecera (nem ele mesmo tem a menor pista de como aquela situação grotesca lhe tomou posse) e para evitar maiores embaraços perante a sociedade, ele é mantido "preso" em seu quarto. Sendo testemunha das conversas que a família frequentemente tem sobre como eles irão fazer para pagar as contas - e é nesse momento de vulnerabilidade que o livro ganha o leitor por completo - , Gregor se vê impotente em não poder mais ajudar e começar a ficar inquieto até que em um dado momento ele foge do quarto.

A família se preocupa com a situação, mas não pelo bem estar dele... Mas sim pela ideia dele querer retornar sem avisar e assustar os possíveis novos inquilinos (já que a única saída encontrada pela família fora alugar alguns cômodos para estranhos). E é justamente isso o que acontece muito em breve, quando Gregor volta, ao ser seduzido por causa uma música tocada ao violino por uma hóspede. Mas nenhum deles consegue vê-lo porque a família consegue criar uma distração perfeita para desviar os olhares... E após esse "ataque", não há mais ninguém que haja em deseja de Gregor: todos o veem como uma ameaça.

Uma pergunta recorrente na mente do leitor que se aventura nessa trama está diretamente relacionada ao quão desprezível um ser humano consegue ser. Através de personagens que sedimentam de forma clara esse questionamento, Kafka entrega a seus leitores uma gama de aspectos reflexivos muita rica e que certamente tem o poder de fazer essa história grudar na mente do leitor sem ter que fazer muito esforço para isso acontecer (porque a leitura flui de uma forma meticulosamente agradável através das páginas que fazem questão de contar até os mínimos detalhes).

Importante ressaltar que o protagonista vive três importantes fases: no primeiro momento, o medo que Gregor sente da sua nova condição; no segundo momento, a aceitação (embora ele tenha em mente que precisa se esconder do mundo para poder viver em paz) e no terceiro momento, um ódio que se apodera dele quando ele percebe que todos querem se ver livres dele. É um trinca de episódios poderosamente explosiva, que garante momentos grandiosos ao longo das páginas (até chegar o seu final triste, melancólico e repleto de simbolismo).

"A Metamorfose" é um exemplo de ficção científica filosófica necessária para todos aqueles que além de prezarem por uma ótima leitura, gostam ainda de se sentirem desafiados a tentar compreender algo que pode ser encarado como algo incompreensível: a essência do ser humano.