#FILMOTECA - O Jardim das Palavras (2013)

in #pt6 years ago (edited)

Trago hoje uma animação japonesa leve e agradável de assistir, uma estória de drama e romance com formidável gosto estético.

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Direção: Makoto Shinkai | Gênero: Animação, Drama, Romance
Ano: 2013 | Nota no IMDB: 7,6/10

ESSE TEXTO CONTÉM ALGUMAS INFORMAÇÕES QUE PODEM SER INTERPRETADAS COMO SPOILERS (apesar de eu ter evitado colocar as partes vitais da trama)

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O Jardim das Palavras, ou Koto no ha no niwa é uma animação do aclamado diretor Makoto Shinkai (de Your Name e Cinco Centímetros por Segundo). Seu formato é bastante leve de uma maneira que convida o telespectador a sentir os momentos, a se ater aos detalhes como a chuva que cai sobre o parque, à luz invade um ambiente e também aos sentimentos dos personagens, sentimentos que soam em conjunto com os recursos estéticos mencionados.

Takao Akizuki é um jovem de 15 anos que tem uma aspiração peculiar à sua idade: ele deseja aperfeiçoar na arte de fazer sapatos para que, no futuro, possa viver disso. Ele vive com sua mãe e seu irmão, mas parece ser ele o eixo central da casa, uma vez que os outros dois frequentemente se mudam dali ou ameaçam morar em outro lugar. Então a ele cabem as tarefas domésticas, sua vida escolar e também os trabalhos que assume para juntar dinheiro para, no futuro, pagar uma escola profissional para seguir seus sonhos.

Takao costuma pegar o metrô, menos nos dias de chuva. Nos dias de chuva, prefere fazer o trecho a pé. Diz ele, confuso nessa fase tão complicada da vida, que, quando era criança, o céu parecia estar mais perto. Agora, quando chovia, ele sentia novamente o céu mais perto e preferia ir caminhando. Nesses dias chuvosos, sempre passava pelo parque – ou jardim – nacional de Shinjuku Gyoen, onde havia um pequeno quiosque.
No primeiro dia retratado do filme, ao chegar nesse quiosque em meio à chuva, encontra lá uma misteriosa moça sentada. Mais tarde, descobrimos que ela é Yukari Yukino e que tem 27 anos. Inesperadamente, ela cita um tanka (poema curto tradicional japonês): O som leve do trovão, o céu nublado, talvez a chuva venha. Se assim for, você ficará aqui comigo?

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Yukino não revela muito sobre si, mas diz que nos dias de chuva não vai ao trabalho e fica naquele quiosque tomando cerveja e comendo chocolates. Nos dias de chuva, Takao passa a fazer o mesmo, não indo para a aula para fazer companhia a ela enquanto desenha seus sapatos. Aos poucos, os dois se aproximam e passam a ansiar pelos dias de chuva para que possam se encontrar naquele lugar onde sempre ficam a sós desfrutando da companhia um do outro.

O filme toca bastante no ponto da maturidade. Takao está numa idade difícil e de transição para a vida adulta enquanto Yukina, mais velha, também tem sua carga de problemas e inseguranças. Uma visão que coloca o diretor Makoto Shinkai é a de que, muitas vezes, pessoas mais velhas não estão em melhores condições de maturidade que os jovens, que todos podem passar por dificuldades, desadaptar-se e caminhar com passos inseguros. Uma figura usada para ilustrar isso na estória é a metáfora de ensinar a caminhar. Os dois personagens oferecem um ao outro um suporte para que o outro possa caminhar seguramente ou reaprender a andar. Os sapatos de Takao cumprem um papel dentro disso, pois promete para Yukina fazer um sapato para ela.

Não poderia dar mais detalhes da história para não arruinar a experiência, mas o filme mantém o olhar sobre a relação dessas duas pessoas naquele espaço quase sagrado do pequeno quiosque nos dias de chuva, onde estão protegidos e juntos aprendem a caminhar e sobre a relação dos dois com o mundo lá fora, onde o caminho dos dois acaba por se cruzar. É um filme sobre o crescimento da adolescência e a superação de obstáculos que podem surgir no trajeto de qualquer um e em qualquer idade. Mais que isso, é sobre a intimidade criada entre duas almas que encontram um espaço seguro para o crescimento interno, um espaço criado na segurança da proteção da chuva; enquanto chove lá fora, os dois se abrigam da intempérie, do mundo lá fora, das inseguranças e ameaças, e se abrigam um no outro para que possam aprender mais tarde a andar com passos seguros.

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O filme é muito bonito, repleto de poesia nos elementos visuais e textuais. A animação é de grande beleza. O diretor soube conduzir muito bem O Jardim das Palavras, com a única ressalva de que o filme poderia ser um pouco mais longo, elaborando um desfecho mais firme. Ao fim do filme, ficou uma impressão de estar faltando algo, de ter aberto um pequeno vazio. Contudo, talvez essa sensação seja parte da mensagem a ser passada. O filme é bastante curto, contando com apenas 46 minutos, então, mesmo para quem não tem o hábito de assistir animações japonesas, recomendaria a experiência caso a estória tenha soado como algo interessante.

Uma curiosidade é que cheguei a esse filme através de músicas de lofi hip-hop em cujos vídeos normalmente são inseridos trechos de animes em geral, como nesse, que conta com cenas de O Jardim das Palavras:

Sort:  

Esse eu já vi! E é ótimo!!
Um média metragem muito bonito, a qualidade da arte é incrível. Acho que não vi os anteriores do diretor, ou quem sabe já, mas esse em especial eu achei muito interessante. Apesar que assim como você achei que de certa forma ele é incompleto, ou passa essa sensação ao final, apesar de sua qualidade.
Gostaria de questionar a respeito do lo-fi hiphop inclusive, por que percebi já essa relação direta com loops de takes de animes, as vezes gifs naquelas rádios 24 horas do youtube e não entendo muito bem por que disso, o que leva a essa relação meio estranha? Seria um estilo originalmente japonês?

Média metragem! Gostei do termo!
Então, o lo-fi hip-hop acabou ficando muito famoso usando das imagens de anime, mas não sei da história, não sei se na origem tem algo a ver. Eu gostei muito de alguns projetos como o Idealism e aí, quando fui baixar, vi que não tinha essa associação na arte original, mas nos vídeos feitos por outras pessoas. Meu palpite é de que foi um estilo abraçado pela comunidade fã de anime, pessoal que participa de fóruns etc.
E eu acho que combina muito bem. Os samples retirados de músicas de jazz junto das batidas vacilantes e lo-fi se deram muito bem, ao meu ver, com as cenas de anime. Mas acho que o estilo não é japonês não.

A sua consistência e qualidade foram premiadas com um voto do grupo ptgram power. Obrigado por fazer parte deste projeto #ptgrampower

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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