Amar Pelos Dois — a música portuguesa que me fez chorar

Houve um tempo em que eu escrevia para sites de relacionamentos, falando sobre questões da vida, como aquele encontrão inesperado no meio do centro da cidade, com aquela pessoa que você se arrependeu de não ter puxado um papo; sobre aquela situação constrangedora em que olhares são trocados sugestivamente dentro do transporte público; ou mesmo naqueles casos mais formais em que o papo é produtivo e gostoso, e genuinamente você não tem más intenções, mas uma verdadeira vontade de desabrochar ideias com aquela pessoa, um interesse legítimo no que ela tem a dizer.

Hoje, porém, namorando uma mulher linda que não me faz mais precisar esforçar a mente para idealizar relações — dado que vivo uma relação excelente com ela e, assim, não preciso mais procurar por algo fora do que já tenho —, tudo o que faço é focar naquilo que vejo poder me engrandecer em outros setores da vida, como a faculdade, o estudo da filosofia, a produção de vídeos para meu canal no YouTube, a tentativa constante de melhora do meu ser ético no mundo e, agora, claro, a presença cada vez mais constante aqui no Steemit.

Há que se considerar, todavia, que continuo sendo aquele mesmo cara com sentimentos à flor da pele. Diria que sou sensível com certas coisas, inclusive, embora eu seja tremendamente insensível com outras, por vezes arrogante e refletindo ares de superioridade desnecessários. Sobre minha sensibilidade, falo aqui de como consigo ser tocado gentilmente, no fundo do coração, por coisas simples, como esta letra excelente do compositor português Luís Figueiredo, e popularizada pela excelente atuação do cantor Salvador Sobral:

Se você não consegue ouvir a música, por favor, preste bem atenção na letra e como ela, por si mesma, reflete a construção de um sentimento genuíno de amor por uma pessoa que se demonstra valorosa na vida do sujeito, mesmo embora tal pessoa já não queira mais estar presente em sua vida:

Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender

Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois

Entretanto, a mensagem não é especial tão somente porque transmite um sentimento insuperável, que no senso-comum é tratado como desprezível dado que vemos uma pessoa carente de um amor que perdeu mas que se faz tranquila diante da situação, a ponto de continuar amando mesmo sem ter o que gostaria de ter, que é a reciprocidade.

A música Amar Pelos Dois é insuperável porque, frente a um mundo globalizado onde predomina a digestão de músicas no estilo pop, e que são comumente uma cópia remixada de músicas que já existem e estão bombando nas principais rádios (afinal o motor de composição de tais músicas é se elas venderão bem ou não), a composição de Luís Figueiredo vai além do que se espera em uma competição de músicas tão relevante como a Eurovision, pois ela se faz uma inovação nos arranjos da letra com os instrumentos utilizados. Por meio da simplicidade, Figueiredo passou um sentimento absurdo, profundo e com uma qualidade técnica muito superior ao que o mundo tem se acostumado.

Na análise abaixo, da HelloLillyTV, podemos ver o que torna esta música tão rara nos dias de hoje: o tipo de arranjo, o ar retrô, a pegada jazz, sem os instrumentos tão característicos nos dias de hoje, como baterias, baixos e guitarras, sem eletricidade, apenas com uma pessoa cantando, um piano e 5 instrumentos de corda. Em suma, focando no sentimento por trás da mensagem, e não na demonstração de complexidade, com explosões e sons variados que tanto artistas de hoje se orgulham em exaltar. E é isso que faz falta hoje em dia: uma dose verdadeira e sincera de sentimentos comuns que todos compartilhamos, mas que são abafados pelo barulho e gritaria que tomou conta da música popular.

Obrigado por seu tempo compartilhando este sentimento comigo. Como diria Nietzsche, um filósofo que tratou da existência e do sentido da vida de modo original e que vocês podem conhecer neste vídeo:

"Sem música, a vida seria um erro."

Uma ótima semana a todos.